
Em Moscou, no dia 9 de maio de 2025, o Kremlin montou mais do que uma simples comemoração histórica: realizou uma demonstração de poder político e militar em plena ênfase no conflito em curso na Ucrânia. A presença de Xi Jinping ao lado de Vladimir Putin, mais de três anos após o início da guerra, conferiu ao desfile de Dia da Vitória um caráter de desafio geopolítico, ao reunir aliados fora do eixo tradicional Ocidente‑Rússia e projetar uma narrativa de resiliência e solidariedade entre regimes autoritários.
A presença de Xi Jinping e a estratégia de alianças
- Rompendo o isolamento ocidental: A vinda de Xi Jinping, de Lula da Silva e de dezenas de líderes da Ásia, África e América Latina foi explorada pelo Kremlin como prova de que “a Rússia não está sozinha”. Analistas vêem esse bloco como resistência ao que chamam de “ordem liberal ocidental”
- Cooperação militar e diplomática: A participação simbólica de tropas chinesas e o aperto de mão com oficiais norte‑coreanos ressaltam acordos de fornecimento de armamentos e treinamento, e a articulação de um “eixo autoritário” capaz de contornar sanções e pressionar por um novo equilíbrio global
O desfile como instrumento de guerra de narrativas
- Minimização das críticas ao Ocidente: Curiosamente, Putin evitou ataques diretos aos aliados ocidentais, elogiando “o contributo dos soldados dos exércitos aliados” na derrota do nazismo. Esse tom menos agressivo busca diferenciação entre o Velho Mundo e o conflito ucraniano, tentando fragmentar a coesão da coalizão que apoia Kiev.
- Paradoxo do cessar‑fogo: O anúncio de uma trégua de 72 horas sobre 8–10 de maio ocorreu em paralelo a relatos de violações imediatas, reforçando a percepção mútua de desconfiança. Enquanto Trump pedia um cessar‑fogo de 30 dias, Moscou apresentou seu breve armistício como gesto de boa‑vontade — mais simbólico do que prático.
Reações de Moscou, Kiev e Washington
to | Declaração | Intenção aparente |
---|---|---|
Moscou | “Ressaltamos o heroísmo soviético e o apoio chinês” | Fortalecer legitimidade interna e alianças estratégicas |
Kiev | “Desfile de cinismo, um insulto às vítimas” (Zelensky) | Mobilizar opinião internacional contra a narrativa russa |
Washington | “Se a trégua não for respeitada, novas sanções virão” (Trump) | Pressionar diplomática e economicamente o Kremlin |
Implicações geopolíticas
- Eixo Rússia‑China: A exibição conjunta de forças armadas sinaliza aprofundamento da cooperação militar e tecnológica, sobretudo em sistemas de drone e mísseis balísticos, que podem alterar equilíbrios regionais em Ásia e Europa.
- Fragmentação da ordem global: Ao atrair países do Sul Global para sua celebração, Moscou procura construir uma frente de países descontentes com a hegemonia ocidental, o que pode resultar em blocos comerciais e militares alternativos nas próximas décadas.
Conclusão analítica
O desfile de 9 de maio de 2025 foi mais do que uma homenagem histórica: foi uma mensagem clara de Putin de que, mesmo sob sanções severas e em guerra, a Rússia mantém capacidade de mobilização interna e de forjar parcerias estratégicas. A presença de Xi Jinping reforçou o caráter antagônico dessa aliança contra o Ocidente, enquanto a retórica de unidade na derrota do nazismo serviu para mascarar tensões presentes — sobretudo a crise humanitária na Ucrânia e as divergências táticas entre aliados. Para Kiev e seus apoiadores, o espetáculo reforçou o senso de urgência em sustentar a resistência; para Moscou, funcionou como demonstração de que a narrativa de isolamento é refutada pelos atos concretos de cooperação multilaterais.
Faça um comentário