Renúncia de Ahmed Awad bin Mubarak abala governo iemenita

O primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores do Iémen, Ahmed Awad bin Mubarak, durante uma coletiva de imprensa conjunta em Moscou, Rússia, em 27 de fevereiro de 2024.
O primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores do Iémen, Ahmed Awad bin Mubarak, participa de uma coletiva de imprensa conjunta em Moscou, Rússia, em 27 de fevereiro de 2024.Maxim Shipenkov/ Pool via REUTERS

Em uma decisão inesperada anunciada neste sábado, o primeiro-ministro Ahmed Awad bin Mubarak apresentou sua renúncia ao presidente reconhecido internacionalmente, citando dificuldades insuperáveis para implementar reformas em seu gabinete.

Histórico do Governo de Bin Mubarak

Nomeado em outubro de 2022, bin Mubarak assumiu com a missão de unificar facções rivais e promover reformas administrativas essenciais. Entre os principais marcos de sua gestão:

  • Reforma do serviço público (dezembro de 2022): proposta de redução de cargos políticos e digitalização de processos, barrada por clãs regionais no parlamento.
  • Acordo de combustível (março de 2023): tratado com a Arábia Saudita para importação de combustível; distribuição foi comprometida pela insegurança nas rotas.
  • Mesa de diálogo militar (julho de 2023): três encontros entre comandantes tribais e oficiais do governo, sem integração efetiva das milícias.
  • Pressões externas (2023–2024): ordens conflitantes de Riad e Abu Dhabi sobre segurança e reconstrução, minando a autoridade do premiê.

Apesar de avanços pontuais em infraestrutura em Aden, a maioria das iniciativas foi travada por disputas de poder internas.

Dificuldades na reforma governamental

Bin Mubarak afirmou que não conseguiu “reorganizar” seu gabinete, enfrentando resistência de facções políticas, comandantes militares regionais e influências externas, todos empenhados em manter suas quotas de poder.

Implicações para a Paz no Iémen

A renúncia pode:

  • Retardar negociações: mudança de liderança tende a suspender conversas de cessar‑fogo e troca de prisioneiros, já que equipes de negociação serão reestruturadas.
  • Criar nova janela de diálogo: nomeação de um sucessor pode trazer uma abordagem diferente e reabrir canais com os Houthis.
  • Fortalecer os Houthis: o vácuo político pode ser explorado pelos rebeldes para consolidar ganhos territoriais antes de retomar negociações.

Impacto nas Relações Internas

A saída de bin Mubarak reconfigura o equilíbrio de poder:

  • Sul vs. Norte: o perfil do próximo premiê definirá se o poder migrará para aliados de Abu Dhabi (Sul) ou de Riad (Norte).
  • Milícias vs. exército: disputa por cargos reflete quem comandará unidades militares, influenciando a integração das milícias.
  • Influência regional: Arábia Saudita e Emirados buscarão um aliado que atenda seus interesses estratégicos.

Consequências para a população civil

A guerra no Iémen gerou uma crise humanitária severa:

  • Segundo o PMA, mais de 17 milhões de iemenitas enfrentam insegurança alimentar severa em 2025.
  • Colapso de serviços de saúde e educação.
  • De acordo com a OCHA, cerca de 4 milhões de iemenitas estão deslocados internamente em razão do conflito.

A instabilidade pode atrasar a entrega de ajuda e a reabertura de corredores humanitários.

Conclusão

A renúncia de Ahmed Awad bin Mubarak evidencia as fissuras no governo reconhecido e os desafios de liderar em um conflito multifacetado. A escolha de um novo primeiro‑ministro será decisiva para o avanço — ou retrocesso — das negociações de paz. Sem concessões mútuas e unidade interna, o Iémen permanece em impasse, com consequências graves para sua população.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*