Primeiro‑ministro romeno renuncia após vitória da extrema‑direita no primeiro turno

Primeiro-ministro romeno Marcel Ciolacu fala à imprensa durante o primeiro turno da eleição presidencial, em Bucareste, Romênia, 4 de maio de 2025.
O primeiro-ministro Marcel Ciolacu se pronuncia à imprensa durante o primeiro turno das eleições presidenciais, realizado em 4 de maio de 2025, em Bucareste. Foto: REUTERS/Andreea Campeanu. REUTERS/Andreea Campeanu

Na segunda‑feira, 5 de maio de 2025, o primeiro‑ministro da Romênia, Marcel Ciolacu, apresentou sua renúncia, um dia depois de o líder de extrema‑direita George Simion ter obtido cerca de 41% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial rebatida, eliminando o candidato governista e empurrando o centrista Nicușor Dan para o segundo turno ao seu lado. Inicialmente pressionado por aliados a permanecer no cargo, Ciolacu admitiu que “a coalizão não é mais legítima” e decidiu deixar o governo interino até a formação de nova maioria após o segundo turno.

Quem é George Simion?
Líder da AUR (Alianţa pentru Unirea Românilor), George Simion é um político ultranacionalista que ganhou destaque em 2020. Defende a restauração de fronteiras históricas, adota discurso anti‑imigração e eurocético. Embora negue vínculos pró‑Rússia, já foi associado a grupos com simpatias russas, o que levanta dúvidas sobre seu alinhamento estratégico.

Contexto político e reconfiguração de forças

  • Parlamento fragmentado: Apesar de o PSD ter sido a legenda mais votada nas legislativas de 1º de dezembro de 2024, as bancadas da AUR de Simion e de outros dois grupos de direita radical somaram mais de um terço das cadeiras, tornando-se força decisiva no Legislativo.
  • Fim da coalizão pró‑Ocidente: PSD, Partido Liberal e UDMR formavam governo com compromisso de manter a Romênia alinhada à UE e à OTAN. Sem o PSD, não há maioria capaz de isolar a extrema‑direita no Parlamento, elevando o risco de paralisia legislativa.

Implicações para a política interna e externa

AspectoImpacto potencial
Estabilidade governamentalGoverno interino sem poder de decreto até novo arranjo; risco de paralisia legislativa.
Economia e mercadosTítulos locais e dólares internacionais caíram; yield do título de 10 anos subiu a 8,0%, maior em 3 meses. Analistas do JPMorgan falam em “risco político consideravelmente aumentado”.
Alinhamento geopolíticoSimion é eurocético: possível isolamento da Romênia na UE, redução de investimentos privados e fragilização da retaguarda da OTAN no flanco leste.
Segurança regionalComo presidente do Conselho de Segurança, poderia vetar ajuda militar a Kiev — impacto direto no apoio à Ucrânia contra a invasão russa.

Segundo turno: Simion vs. Dan (18 de maio)

  • George Simion (AUR): Hard‑right, eurocético, nacionalista e anti‑imigração. Promete indicar aliados como Călin Georgescu a cargos-chave, inclusive premiê, caso seja eleito.
  • Nicușor Dan (independente centrista): Prefeito de Bucareste, defende manutenção dos compromissos com UE e OTAN, reformas anticorrupção e ajuste fiscal para reduzir déficit (hoje o maior da UE).

Desafios para Dan

Analistas destacam que Dan terá dificuldade em reunir o voto pró‑Ocidente, pois parcela do eleitorado social‑democrata compartilha pautas socioeconômicas com Simion, como preocupação com altos custos de vida e insegurança.

Reação de organizações internacionais e alerta de desinformação

  • OSCE: Elogiou a administração eficiente do pleito, mas apontou regras de elegibilidade fragmentadas, baixa transparência em decisões administrativas e fiscalização inconsistente do ambiente de campanha online.
  • Desinformação: A Romênia se prepara para uma onda de desinformação no segundo turno, com entidades europeias e locais acionando observatórios para monitorar fake news e manipulação online.
  • Agências de rating: Acompanham risco de rebaixamento de crédito caso o novo governo não implemente correção fiscal decisiva.

Conclusão

A renúncia de Marcel Ciolacu sela o fim da coalizão pró‑Ocidente e inicia um período de elevada incerteza política na Romênia. A ascensão de George Simion reflete insatisfação com a austeridade fiscal e preocupações de segurança, oferecendo à extrema‑direita uma plataforma para desafiar o alinhamento tradicional com a UE e OTAN. A advertência sobre desinformação ressalta o ambiente volátil em que o segundo turno ocorrerá em 18 de maio. O desfecho definirá não apenas o rumo da Romênia, mas também o equilíbrio geopolítico no flanco leste da Europa. Para entender mais sobre a trajetória e as implicações da ascensão de George Simion, confira o artigo A Ascensão de George Simion e a Reconfiguração da Extrema-Direita Romena: Implicações para a Política Interna, Regional e Global.

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