Irã Intensifica Repressão Interna Após Conflito de 12 Dias com Israel

Pessoas caminhando próximas a um mural do Líder Supremo do Irã, Aiatoá Ali Khamenei, em Teerã durante o conflito Irã-Israel, junho de 2025.
Pessoas passam perto de um mural do Aiatoá Ali Khamenei em Teerã, no contexto do conflito entre Irã e Israel, em 23 de junho de 2025. Foto: Majid Asgaripour/WANA via Reuters.

Nas duas semanas que sucederam o breve, porém intenso, confronto entre Irã e Israel (13–25 de junho), as autoridades iranianas têm direcionado seus esforços para um duro cerco interno, marcado por prisões em massa, execuções sumárias e reforço militar nas regiões mais sensíveis, especialmente no Curdistão iraniano.

Do Confronto Militar à Operação de Segurança Interna

Poucos dias após os primeiros bombardeios israelenses em 13 de junho — que miraram instalações da Guarda Revolucionária (IRGC) e sítios nucleares iranianos —, o Irã declarou cessar-fogo e deslocou suas prioridades para combater possíveis “ameaças internas”. Unidades da IRGC e da milícia Basij começaram a erguer postos de controle em grandes avenidas de Teerã e de cidades fronteiriças, intensificando revistas de veículos e pedestres em busca de armas e “agentes estrangeiros”.

Prisões em Massa e Alegações de Espionagem

De acordo com o Centro de Direitos Humanos do Curdistão (HRNA), entre 13 e 24 de junho foram registradas 705 detenções por “motivos políticos ou de segurança” — um aumento considerável em comparação com o total de 474 prisões de curdos documentadas em todo o ano de 2024 pela Kurdistan Human Rights Network. Muitas dessas detenções envolveram acusações de espionagem para Israel, prática frequentemente usada para justificar prisões arbitrárias.

Execuções Sumárias e Clima de Intimidação

Na terça-feira, 24 de junho, a mídia estatal confirmou a execução de três cidadãos curdos em Urmia, próximo à fronteira com a Turquia, sob a acusação de colaboração com “agentes inimigos”. Grupos de direitos humanos denunciam que esses julgamentos foram realizados sem as garantias mínimas de defesa e com sentenças proferidas em poucas horas, reforçando um clima de terror que visa silenciar qualquer dissidência.

Foco na Região Curdas Iranianas

Historicamente, o Curdistão iraniano — habitado por maioria sunita — tem sido palco de tensões étnicas e reivindicações separatistas. Após 13 de junho, três principais facções curdas exiladas confirmaram que suas bases de apoio sofreram prisões em massa:

  • KDPI (Partido Democrático do Curdistão do Irã): Relata ocupação de escolas e comissões de investigação em Kermanshah e Sanandaj, com buscas domiciliares e apreensão de dispositivos eletrônicos.
  • PJAK (Partido da Vida Livre do Curdistão): Conta mais de 500 militantes detidos desde o início dos ataques israelenses.
  • Komala: Denuncia bloqueios em estradas principais e revistas em massa para “identificação de separatistas”.

Essas operações se inserem no contexto dos Confrontos no Oeste do Irã (2016–presente), caracterizados por recorrentes embates entre insurgentes curdos e as forças de segurança de Teerã, que em 2024 resultaram em dezenas de mortos de ambos os lados.

Mobilização Fronteiriça e Prevenção de Infiltrações

Além da repressão interna, o Irã reforçou tropas ao longo das fronteiras com Paquistão, Iraque e Azerbaijão, alegando necessidade de conter “terroristas” e “espiões israelenses”. Analistas apontam, contudo, que parte desses deslocamentos visa criar uma cascata de operações que mantenham a população em estado de apreensão permanente, minimizando qualquer organização de protestos.

Sociedade Civil em Estado de Alerta

Ativistas que atuaram nos protestos de 2022 relatam ter adotado “postura de silêncio total” para evitar represálias imediatas. Muitos desligaram notificações de aplicativos de mensagens e cancelaram encontros presenciais, temendo prisões sumárias. Segundo advogados independentes, dezenas de familiares de detidos também foram intimados a permanecer em suas residências, proibidos de comentar o andamento dos casos.

Perspectivas e Riscos de Escalada Autoritária

A combinação de ameaça externa — aqui representada pelo confronto com Israel — e repressão interna reforça, para o regime, a narrativa de um Irã cercado de inimigos. Caso novos ataques aconteçam ou surjam indícios de mobilização interna, projeções de organismos de direitos humanos preveem:

  • Ampliação da Censura Digital: Bloqueio de aplicativos de mensagens e redes sociais durante crises.
  • Novas Leis de Emergência: Ampliação de poderes de detenção e censura de imprensa.
  • Aumento de Execuções: Especialmente de minorias étnicas, já alvo preferencial de penalidades capital.

Conclusão

A repressão pós-conflito reafirma a estratégia do governo iraniano de usar a “segurança nacional” para legitimar seu aparato autoritário. Enquanto a comunidade internacional monitora violações de direitos fundamentais, as minorias curdas e baluches e toda a sociedade civil iraniana permanecem sob rigoroso controle, sem perspectivas imediatas de alívio ou de abertura política.

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