Síria Responde às Condições dos EUA: Carta Oficial Revela Concessões e Impasses nas Negociações

Fumaça sobe após rebeldes sírios anunciarem a queda de Bashar al-Assad em Damasco, 8 de dezembro de 2024.
Fumaça se eleva em Damasco após rebeldes sírios declararem a queda de Bashar al-Assad, em 8 de dezembro de 2024. (Foto: Mohamed Azakir/Reuters)

Em uma movimentação diplomática inédita, a Síria respondeu por escrito às exigências dos Estados Unidos para possível alívio parcial de sanções. A carta, obtida com exclusividade pela Reuters, detalha concessões sírias em áreas sensíveis como armas químicas e desaparecimentos de americanos, mas também aponta a necessidade de “entendimentos mútuos” para avanços em temas mais delicados. O gesto marca um novo capítulo nas negociações internacionais e pode redefinir os rumos da normalização entre Damasco e o Ocidente.

Contexto e importância

Desde 2011, a economia síria sofre colapso profundo em razão de 14 anos de guerra civil, agravada por sanções rígidas impostas por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia para pressionar o regime de Bashar al-Assad. Em janeiro de 2025, Washington concedeu uma isenção parcial de seis meses para permitir o fluxo de ajuda humanitária, mas seu impacto foi limitado.

Em março, fontes da Reuters revelaram que a vice-assistente de Estado Natasha Franceschi entregou ao chanceler sírio Asaad al-Shibani uma lista de oito condições para possível extensão de alívio de sanções por dois anos, incluindo destruição de estoques de armas químicas e permissão para ataques antiterroristas coordenados.

Principais pontos da carta síria

A carta, datada de 14 de abril de 2025, responde ponto a ponto à lista norte-americana. Destacam-se:

  1. Armas químicas
  • Síria detalha medidas já tomadas para eliminar estoques remanescentes, em cooperação com a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq).
  • Promete acelerar verificações e permitir inspeções regulares. citeturn0search2

2. Jornalista desaparecido

  • Anuncia criação de um gabinete de ligação no Ministério das Relações Exteriores para localizar o americano Austin Tice, dado como desaparecido desde 2012.

3. Militantes estrangeiros

  • Reconhece debate prévio com o ex-enviado Daniel Rubinstein, mas afirma que o tema “exige um entendimento mútuo”.
  • Suspensão da promoção de seis combatentes estrangeiros, sem confirmar reversão de patentes já concedidas.

4. Contra-terrorismo e ataques coordenados

  • Afirma que coordenação de ataques requer “entendimentos mútuos” e promete medidas legais para proteger interesses ocidentais, sem detalhar o formato.

“O tema exige um entendimento mútuo” — diz a carta síria sobre a coordenação de ações antiterroristas.

5. Grupos palestinos

  • Comitê formado para monitorar facções palestinas; promete não permitir ações fora do controle estatal, visando inclusive a não-ameaça a Israel.

6. Reabertura de embaixadas e normalização

  • Carta expressa desejo de retomar diálogos sobre reabertura de missões diplomáticas e levantamento de sanções, condicionados a encontros detalhados sobre cada ponto.

Análise de especialistas

Segundo International Crisis Group, a oferta síria demonstra vontade de recompor canais de diálogo, mas “faltam compromissos concretos” sobre retirada de militantes estrangeiros e autorização de ataques antiterroristas coordenados, cruciais para Washington.

Para a ONG Human Rights Watch, o destaque na destruição de armas químicas é positivo, mas o governo de Assad precisa de “garantias verificáveis” por inspeções independentes antes que qualquer alívio seja concedido.

Implicações geopolíticas

  • EUA: Avaliam resposta antes de decidir extensão da isenção. Departamento de Estado confirmou recebimento, mas não deu prazo para retorno oficial.
  • Rússia e Irã: Prováveis beneficiários indiretos; um alívio de sanções pode reforçar influência de Moscou e Teerã em Damasco.
  • Oposição síria: Vê movimentos como manobra de Assad para ganhar legitimidade sem mudanças estruturais no regime.

Análise de riscos e cenários futuros

CenárioDescriçãoImpacto potencial
Aceitação pelos EUAOs EUA reconhecem os compromissos sírios como suficientes e estendem a isenção de sanções por dois anos.Normalização lenta e controlada, fluxo de ajuda humanitária aumenta, mas vigilância internacional permanece rígida.
Recusa dos EUAWashington julga as garantias vagas e mantém sanções.Pressão econômica continua, agravamento da crise humanitária e possível realinhamento sírio com aliados extra-regionais.
Diálogo adicionalNegociações seguem ponto a ponto em fóruns multilaterais.Abertura gradual de canais diplomáticos, possível retorno de embaixadores, mas sem suspensão imediata de sanções.

Conclusão

A carta síria de 14 de abril de 2025 representa um passo inicial em direção à diplomacia condicional, atendendo plenamente cinco das oito exigências dos EUA e propondo “entendimentos mútuos” para as demais. Resta agora à administração norte-americana avaliar se os compromissos, em sua maioria juridicamente vagos, são suficientes para justificar a extensão de alívio de sanções e avanços na normalização das relações bilaterais.

Leia também: Reino Unido Levanta Sanções de 12 Entidades do Governo Sírio

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