Exército Sudanês Retira-se do Triângulo Fronteiriço Após Acusar Haftar de Ataque

Soldados do Exército Sudanês caminham ao lado de veículos militares destruídos após confronto com a RSF em Cartum, Sudão, 25 de março de 2025.
Soldados do Exército Sudanês caminham próximos a veículos militares destruídos após batalha contra as Forças de Apoio Rápido (RSF), em Cartum, 25 de março de 2025. Foto: REUTERS/Stringer

Hoje, quarta‑feira, 11 de junho de 2025, o Exército Nacional Sudanês (SAF) anunciou a retirada de suas tropas da área do triângulo fronteiriço entre Sudão, Líbia e Egito. A medida ocorreu um dia após o SAF acusar forças aliadas ao marechal Khalifa Haftar de um ataque conjunto com a Força de Apoio Rápido (RSF), principal adversária do exército na guerra civil sudanesa. Segundo a nota oficial, a saída integrou “arranjos defensivos para repelir a agressão”, sem detalhar perdas ou confrontos.

Contexto do Conflito Interno

Desde abril de 2023, o país vive uma guerra civil entre o SAF, leal ao Conselho Soberano e ao general Abdel Fattah al-Burhan, e a RSF, liderada por Mohamed Hamdan Dagalo, o “Hemedti”. A RSF, que se originou das milícias Janjaweed, conquistou autonomia e fortaleceu rotas de abastecimento — muitas vezes via fronteira norte — para resistir às ofensivas do SAF. Em março de 2025, o exército conquistou pontos-chave em Sennar e recapturou o Aeroporto de Khartoum, pressionando a paramilitar a buscar novos cofres de suprimento.

Khalifa Haftar e Influências Externas

Marechal Haftar, comandante da ‘Líderes da Líbia Oriental’, tem atuado como facilitador logístico à RSF, segundo acusação do SAF. Além dos Emirados Árabes Unidos, que negam qualquer envio de armas, relatórios recentes indicam que a Rússia intensificou operações no sul líbio, reconstruindo a base aérea de Matan al Sarra junto a tropas sírias e apoiadores de Haftar, para controlar fluxos de armamentos ao Sahel — incluindo o Sudão. Essa expansão reforça a capacidade de Haftar em oferecer suprimentos à RSF.

Importância Estratégica do Triângulo Fronteiriço

A região, próxima a al-Fashir (North Darfur), funciona como corredor para contrabando de armas e movimento de mercenários. O SAF acusa Haftar e RSF de usar tal corredor para abastecer ofensivas internas, ameaçando a segurança de acampamentos de deslocados e civis locais. Fechar essa rota é considerado pelo exército vital para conter novos ataques e proteger assentamentos fragilizados pelo conflito.

Dinâmica Regional e Riscos de Ampliação

O episódio acentua a internacionalização da guerra sudanesa. O Egito, que mantém laços com Burhan e Haftar, equilibra apoio a ambos, enquanto a ICJ rejeitou em 5 de maio de 2025 a ação de genocídio contra os Emirados, por falta de jurisdição — enfraquecendo a posição diplomática de Cartum. Organizações de direitos humanos alertam para escalada de violações em Darfur e risco de contágio a países vizinhos.

Próximos Desdobramentos

Com a saída do SAF, o triângulo fronteiriço pode ficar vacante, cativo da influência de Haftar, RSF ou até forças russas. A mediação da União Africana e das Nações Unidas, aliada a pressão internacional, será essencial para estabelecer um cessar-fogo duradouro. Sem isso, o ciclo de confrontos e a crise humanitária tendem a se agravar, com mais deslocados e ruptura de serviços básicos.

Conclusão

A retirada do SAF da fronteira tríplice não é apenas um movimento tático, mas também um sinal da crescente complexidade do conflito sudanês, que ultrapassa as fronteiras nacionais. A disputa pelo controle da região fronteiriça evidencia como o Sudão tornou-se palco de interesses cruzados — árabes, africanos e eurasiáticos. Enquanto as potências regionais e globais disputam influência, a população civil continua sendo a principal vítima. A contenção da escalada exige não apenas diplomacia ativa, mas também vontade política internacional de neutralizar corredores de armamento e de pressionar todas as partes a negociarem um cessar-fogo legítimo e duradouro.

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