RN rejeita oferta de apoio dos EUA e preserva sua narrativa de soberania

Marine Le Pen discursando em comício em Paris, em apoio a ela após condenação por desvio de fundos da UE.
Marine Le Pen fala em comício em Paris, em 6 de abril de 2025, após ser condenada por desvio de fundos da União Europeia e proibida de concorrer por cinco anos. Foto: REUTERS/Gonzalo Fuentes.

O encontro sigiloso entre uma delegação do Departamento de Estado dos EUA e dirigentes do Rassemblement National (RN), partido de extrema-direita francês, revela o delicado equilíbrio entre solidariedade ideológica e considerações eleitorais. Em maio de 2025, enquanto Marine Le Pen enfrentava uma inelegibilidade imposta por um tribunal francês, Estados Unidos viram uma oportunidade de afirmar sua retórica contra o “lawfare”. Ainda assim, o RN optou por recusar o apoio explícito de Washington, julgando-o potencialmente prejudicial à sua busca por normalização política e às ambições presidenciais de Jordan Bardella.

Contexto da oferta americana

No fim de maio de 2025, o Bureau de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho (DRL) do Departamento de Estado norte-americano, liderado pelo jovem conservador Samuel Samson, enviou uma delegação a Paris. O objetivo era oferecer, de forma pública, o apoio do governo Trump à Presidência de Marine Le Pen, barrada de concorrer em 2027 após condenação por desvio de fundos da União Europeia A ideia também incluía denunciar o uso de instâncias judiciais para silenciar adversários políticos na Europa, discurso já reforçado pelo DRL em sua conta no X.

Motivos da recusa pelo RN

Fontes internas afirmam que representantes do RN avaliaram que um pronunciamento oficial de Washington poderia reforçar a narrativa de interferência externa, prejudicando a estratégia de “reabilitação de imagem” do partido. Ao buscar uma imagem mais “respeitável” junto ao eleitorado francês, o RN considerou arriscado associar-se explicitamente a lideranças como Donald Trump, ainda amplamente rejeitado em parcelas significativas da sociedade francesa.

Além disso, os dirigentes do RN destacaram que, mesmo com a inelegibilidade de Le Pen, Jordan Bardella, presidente do partido e favorito entre jovens eleitores, permanece como potencial candidato natural à eleição de 2027.

O papel de Samuel Samson e o DRL

Samson, figura emergente no DRL, defende com veemência o combate ao que chama de “seleção política” na aplicação de direitos humanos e liberdades civis. Em comunicações recentes, o DRL reforçou o compromisso com a livre expressão e criticou o “lawfare” na Europa, posicionando-se como baluarte da defesa de figuras penalizadas judicialmente por suas posições conservadoras.

desdobramentos jurídicos

A condenação de Marine Le Pen incluiu cinco anos de inelegibilidade imediata, uma sentença de quatro anos de prisão (dois em regime domiciliar) e multa de €100 000. A líder apelou da decisão, e o Tribunal de Apelações de Paris deve emitir um veredito até o verão de 2026, abrindo possibilidade de reversão antes das eleições de 2027.

Pesquisas recentes indicam que apoiam a aplicação imediata da inelegibilidade, enquanto 42% acusam viés político na sentença — e apenas 29% se dizem insatisfeitos com o resultado, conforme levantamento do Elabe para a BFM TV. Em regiões como Toulon, antigo direita, eleitores demonstram ceticismo em relação às estratégias de mobilização do RN, preferindo foco em questões socioeconômicas a disputas judiciais.

Reações e mobilizações

Manifestações pacíficas ocorreram em várias cidades francesas, convocadas para protestar contra o que os líderes do RN chamam de “decisão política”. Em 6 de abril de 2025, aliados da extrema-direita organizaram comícios em Paris, que foram acompanhados por contra-manifestações de grupos de esquerda, evidenciando a crescente polarização no país.

Perspectivas eleitorais

Após rejeitar o apoio americano, o RN reforçou seu discurso de soberania nacional e independência política. Resta saber como o partido conduzirá a transição para Jordan Bardella — cuja popularidade entre eleitores mais jovens já supera a de Marine Le Pen — caso o processo de apelação se estenda além de 2026. A habilidade do RN em apresentar propostas econômicas e sociais consistentes, afastando-se das polêmicas judiciais e da influência externa, pode ser decisiva para suas chances na eleição presidencial de 2027.

Conclusão

A tensão entre ofertas de apoio internacional e interesses domésticos reflete um dilema central para partidos com agenda nacionalista: até que ponto alianças externas, mesmo entre convergentes ideológicos, podem comprometer a credibilidade interna? O RN optou por preservar sua autonomia eleitoral, possivelmente sacrificando visibilidade imediata. A eficácia dessa escolha — e o desfecho do recurso de Le Pen — serão determinantes para o futuro da extrema-direita francesa.

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