
Em 23 de junho de 2025, o Parlamento da Romênia aprovou com ampla maioria o voto de confiança ao novo governo de coalizão liderado pelo primeiro-ministro Ilie Bolojan. Com 301 votos favoráveis e apenas 9 contrários em um total de 464 assentos, o resultado encerra meses de impasse político que vinham elevando o custo de captação de recursos do país e pressionando o valor do leu romeno.
Contexto Político
As negociações para a formação do governo se estenderam desde o cancelamento da eleição presidencial em dezembro de 2024 e sua reedição em maio de 2025, quando o centrista Nicuşor Dan foi eleito presidente. Dan indicou Ilie Bolojan, do Partido Nacional Liberal (PNL), para chefiar uma aliança que reúne:
- PNL (Partido Nacional Liberal)
- PSD (Partido Social-Democrata)
- USR (Save Romania Union)
- UDMR (União Democrática dos Húngaros da Romênia)
- Representantes de minorias nacionais
A coalizão soma cerca de 67% dos assentos, isolando as três legendas de extrema-direita fora do bloco governista.
O Desafio Fiscal
A prioridade número um do novo governo é reduzir o déficit orçamentário – o mais alto da União Europeia, em torno de 6,8% do PIB em 2024 – antes que as agências de classificação de risco retirem o grau de investimento do país. Para tanto, o plano anunciado prevê:
- Revisão do IVA
- IVA principal mantido em 19%.
- Unificação das alíquotas reduzidas (atualmente 5% e 9%) em uma única taxa de 9%.
- Cortes e Eficiência na Despesa Pública
- Extinção de até 20% dos cargos no setor público, gerando economia estimada em 7 bilhões de lei por ano a partir de 2026.
- Reavaliação de programas de subsídios menos eficientes.
- Novas Fontes de Receita
- Imposto temporário sobre o “lucro excessivo” dos bancos, a partir de 2026.
- Tributação de ganhos com criptomoedas e atividades de plataformas de redes sociais.
- Aumento de impostos especiais de consumo (excise duties) e de impostos sobre propriedades.
- Elevação da alíquota de imposto de renda sobre dividendos e sobre pensões mensais acima de 4.000 lei (aprox. US$ 915).
- Oferta de participações minoritárias em empresas estatais na bolsa para captar recursos extraordinários.
O governo prevê submeter as medidas à aprovação da Comissão Europeia em agosto, buscando validar os ajustes antes de implementá-los.
Reações e Perspectivas
Logo após a aprovação, os mercados financeiros reagiram positivamente: o rendimento dos títulos de longo prazo recuou 15 pontos-base e o leu teve ligeira valorização frente ao euro. Na União Europeia, Bruxelas elogiou o compromisso de Bucareste com a disciplina fiscal, ao passo que agências de rating monitoram atentamente a execução do plano.
Internamente, porém, o Executivo enfrentará forte resistência de parte da opinião pública a medidas percebidas como impopulares, sobretudo cortes de pessoal e elevação de tributos. A necessidade de manter a coesão entre as quatro siglas – sobretudo o PSD, maior partido do país, e a USR, com sua agenda anticorrupção –, bem como a previsão de rodízio no cargo de primeiro-ministro (Bolojan cederá o posto a um social-democrata em abril de 2027), poderá gerar novos atritos ao longo da legislatura.
Conclusão
A vitória no voto de confiança marca o início de uma fase crítica para a Romênia. Se as medidas fiscais forem implementadas com rigor e habilidade política, o país poderá não apenas preservar seu grau de investimento, mas também retomar um crescimento mais sustentável e atrativo para investidores estrangeiros. Caso contrário, riscos de nova instabilidade política e financeira permanecerão elevados, com impacto direto no bem-estar da população e na solvência do Estado.
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