
Na noite de 14 de maio de 2025, drones da Força de Apoio Rápido (RSF) atingiram três estações elétricas em Omdurman, causando um apagão generalizado em Cartum e em grande parte do estado adjacente. O ataque, confirmado pela Sudanese Electrical Company, provocou incêndios em subestações e interrompeu o fornecimento de água tratada, aprofundando a crise humanitária em curso
Contexto e Evolução do Conflito
O confronto entre o Exército Sudanês e a RSF teve início em abril de 2023, após um impasse sobre a transição para governo civil. Nas primeiras fases, o combate concentrava‑se nas ruas de Cartum e Omdurman, com batalhas urbanas que forçaram a evacuação de milhares de civis. Após perder posições centrais, o grupo paramilitar adaptou‑se, migrando para ataques por drones contra infraestruturas críticas, numa clara mudança tática.
Guerra Tecnológica: Alvos Estratégicos
Expulsos de Cartum, os combatentes da RSF passaram a:
- Visar estações de energia e barragens, para desestabilizar áreas urbanas e forçar realocação de tropas.
- Atacar Port Sudan, cidade portuária estratégica, em séries de raids aéreos não tripulados entre 4 e 7 de maio, que destruíram depósitos de combustível e interromperam o tráfego aéreo local.
- Bombardear prisões e bases militares em el‑Obeid, em strikes que teriam deixado ao menos 19 mortos, segundo relatório do Instituto Soufan.
Impacto Humanitário e Sanitário
Os apagões recorrentes paralisam hospitais, estações de tratamento de água e comunicações, elevando o risco de cólera e outras doenças hídricas. Até hoje:
- 13,5 milhões de deslocados internos.
- 50.000+ mortes estimadas.
- 70% do estado de Khartum sem luz por mais de 48 h em abril de 2025.
- 3,2 milhões em alto risco de surtos de cólera.
- 22 milhões em situação de insegurança alimentar moderada a grave.
Reação Militar
O comando do Exército sudanês anunciou:
- Mobilização de equipes de reparo e apoio internacional para restaurar a rede.
- Intensificação de ofensivas em Omdurman Sul, visando desarticular bolsões remanescentes da RSF.
- Avanços recentes na retomada de cidades em Kordofan e Darfur, restabelecendo corredores logísticos para suprimentos.
Consequências Regionais e Globais
- Fluxo contínuo de refugiados para o Egito, Etiópia e Chade.
- Pressão da União Africana e ONU por cessar‑fogo e negociação.
- Apreensão de potências externas: Rússia e Estados Unidos monitoram possíveis sanções e envio de ajuda humanitária, temendo impacto no Corredor do Mar Vermelho.
Conclusão
Os ataques de drones da RSF demonstram a evolução do conflito de combates de rua para uma guerra tecnológica, em que infraestrutura civil se torna alvo principal. Sem perspectivas de vitória decisiva de qualquer lado, o Sudão enfrenta um agravamento sem precedentes de sua crise humanitária — e a comunidade internacional precisa agir com urgência para evitar um colapso ainda maior do país.
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