Ruanda e EUA em negociações sobre possível acordo de minerais

**Alt Text:** Uma visão geral mostra minério de cassiterita e tântalo em uma planta de processamento mineral semi-industrial em Gatumba, no oeste de Ruanda, em 25 de novembro de 2009. **Legenda:** Minérios de cassiterita e tântalo sendo processados em uma planta semi-industrial em Gatumba, oeste de Ruanda, novembro de 2009. **Descrição:** A imagem retrata um processo de extração e beneficiamento de minerais em uma planta semi-industrial em Gatumba, localizada no oeste de Ruanda. O local é conhecido pela produção de cassiterita (um mineral rico em estanho) e tântalo, que são componentes essenciais na fabricação de diversos dispositivos eletrônicos. Esses minerais têm grande importância estratégica para a economia de Ruanda, apesar de estarem frequentemente ligados a questões de exploração e conflitos na região. **Resumo:** Em uma planta de processamento semi-industrial em Gatumba, Ruanda, minérios de cassiterita e tântalo são processados, destacando a relevância dessa atividade na economia local e a controvérsia em torno da mineração de recursos estratégicos na região.
Minérios de cassiterita e tântalo sendo processados em uma planta semi-industrial em Gatumba, oeste de Ruanda, novembro de 2009. REUTERS/Hereward Holland/File Photo

Ruanda confirmou que está em conversações com os Estados Unidos para um potencial acordo de acesso a minerais estratégicos, alinhado a negociações paralelas entre Washington e a República Democrática do Congo (RDC). A articulação desses acordos reflete a crescente competição global por cobalto, coltan e outros minerais vitais para tecnologias de ponta e transição energética.

Dados e Estatísticas

  • Exportações da RDC: Em 2023, os principais produtos exportados pela RDC foram cobre refinado (US$ 11,8 bi), cobalto (US$ 2,4 bi) e minério de cobre (US$ 2,32 bi). O setor extrativo representou 98,9 % das exportações totais em 2021.
  • Produção de cobalto: A RDC foi responsável por cerca de 68 % da produção mundial de cobalto em 2022, com 130 000 toneladas extraídas.
  • Exportações de Ruanda: Em 2023, as exportações minerais de Ruanda somaram mais de US$ 1,1 bilhão, um aumento de 43 % em relação a 2022 (US$ 772 mi). A meta do governo é alcançar US$ 1,3 bi em 2024/25.
  • Economia local: Na RDC, o setor de mineração responde por cerca de 46 % das receitas governamentais e sustenta diretamente mais de um milhão de trabalhadores artesanais. Em Ruanda, a mineração contribuiu com US$ 1,1 bi para as receitas do governo em 2023.

Citações de Líderes

  • Porta-voz de Ruanda: “Sim, isto faz parte das discussões que estamos tendo com os EUA”, afirmou a representante do governo de Kigali, sem detalhar volumes ou prazos.
  • Primeiro-ministro de Ruanda, Édouard Ngirente: “Nossa estratégia nacional visa duplicar o valor agregado dos minerais, promovendo práticas responsáveis e sustentável” (NST2, set. 2024).
  • Autoridade dos EUA: Um funcionário americano, sob condição de anonimato, destacou que “diversificar nossas fontes de minerais críticos é essencial para a segurança econômica e tecnológica dos EUA”.

Impacto para a População Local

  • Deslocamento massivo: O avanço do grupo rebelde M23 em regiões mineradoras do leste da RDC gerou ao menos 400 000 deslocados apenas neste ano.
  • Trauma e saúde mental: Em Goma, o hospital psiquiátrico Saint Vincent de Paul atendeu mais de 300 civis com sintomas de ansiedade, depressão e insônia decorrentes da violência.
  • Relatos de civis: “Perdemos tudo: nossas casas, plantações e a esperança de um futuro tranquilo”, relatou um agricultor de Walikale, que fugiu com a família para Bukavu após ataques ao redor de uma mina de coltan.
  • Massacre de Kishishe: Ao menos 171 civis foram executados pelo M23 em ataques a vilarejos, desencadeando nova onda de refugiados internos e internacionais.

Implicações e Perspectivas

  • Equilíbrio geopolítico: Um acordo EUA–Ruanda reforça Kigali como parceiro estratégico, mas pode tensionar ainda mais as relações com Kinshasa.
  • Transparência e direitos humanos: A falta de adesão de Ruanda a mecanismos como o ITSCI dificulta o rastreamento de minerais de conflito.
  • Segurança regional: A lógica de “minerais-por-segurança” pode reduzir o financiamento de grupos armados, mas também corre o risco de legitimar governos acusados de abusos.

Conclusão

A negociação entre Ruanda e Estados Unidos por um acesso privilegiado a minerais estratégicos ocorre num contexto de intensa disputa regional e sofrimento civil. Dados concretos sobre exportações e testemunhos de quem vive a violência mostram que, por trás de cifras bilionárias, existem comunidades devastadas. A efetividade de qualquer acordo dependerá não só de cláusulas comerciais, mas também de mecanismos robustos de monitoramento, responsabilidade social e proteção dos direitos humanos.

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