
Ruanda confirmou que está em conversações com os Estados Unidos para um potencial acordo de acesso a minerais estratégicos, alinhado a negociações paralelas entre Washington e a República Democrática do Congo (RDC). A articulação desses acordos reflete a crescente competição global por cobalto, coltan e outros minerais vitais para tecnologias de ponta e transição energética.
Dados e Estatísticas
- Exportações da RDC: Em 2023, os principais produtos exportados pela RDC foram cobre refinado (US$ 11,8 bi), cobalto (US$ 2,4 bi) e minério de cobre (US$ 2,32 bi). O setor extrativo representou 98,9 % das exportações totais em 2021.
- Produção de cobalto: A RDC foi responsável por cerca de 68 % da produção mundial de cobalto em 2022, com 130 000 toneladas extraídas.
- Exportações de Ruanda: Em 2023, as exportações minerais de Ruanda somaram mais de US$ 1,1 bilhão, um aumento de 43 % em relação a 2022 (US$ 772 mi). A meta do governo é alcançar US$ 1,3 bi em 2024/25.
- Economia local: Na RDC, o setor de mineração responde por cerca de 46 % das receitas governamentais e sustenta diretamente mais de um milhão de trabalhadores artesanais. Em Ruanda, a mineração contribuiu com US$ 1,1 bi para as receitas do governo em 2023.
Citações de Líderes
- Porta-voz de Ruanda: “Sim, isto faz parte das discussões que estamos tendo com os EUA”, afirmou a representante do governo de Kigali, sem detalhar volumes ou prazos.
- Primeiro-ministro de Ruanda, Édouard Ngirente: “Nossa estratégia nacional visa duplicar o valor agregado dos minerais, promovendo práticas responsáveis e sustentável” (NST2, set. 2024).
- Autoridade dos EUA: Um funcionário americano, sob condição de anonimato, destacou que “diversificar nossas fontes de minerais críticos é essencial para a segurança econômica e tecnológica dos EUA”.
Impacto para a População Local
- Deslocamento massivo: O avanço do grupo rebelde M23 em regiões mineradoras do leste da RDC gerou ao menos 400 000 deslocados apenas neste ano.
- Trauma e saúde mental: Em Goma, o hospital psiquiátrico Saint Vincent de Paul atendeu mais de 300 civis com sintomas de ansiedade, depressão e insônia decorrentes da violência.
- Relatos de civis: “Perdemos tudo: nossas casas, plantações e a esperança de um futuro tranquilo”, relatou um agricultor de Walikale, que fugiu com a família para Bukavu após ataques ao redor de uma mina de coltan.
- Massacre de Kishishe: Ao menos 171 civis foram executados pelo M23 em ataques a vilarejos, desencadeando nova onda de refugiados internos e internacionais.
Implicações e Perspectivas
- Equilíbrio geopolítico: Um acordo EUA–Ruanda reforça Kigali como parceiro estratégico, mas pode tensionar ainda mais as relações com Kinshasa.
- Transparência e direitos humanos: A falta de adesão de Ruanda a mecanismos como o ITSCI dificulta o rastreamento de minerais de conflito.
- Segurança regional: A lógica de “minerais-por-segurança” pode reduzir o financiamento de grupos armados, mas também corre o risco de legitimar governos acusados de abusos.
Conclusão
A negociação entre Ruanda e Estados Unidos por um acesso privilegiado a minerais estratégicos ocorre num contexto de intensa disputa regional e sofrimento civil. Dados concretos sobre exportações e testemunhos de quem vive a violência mostram que, por trás de cifras bilionárias, existem comunidades devastadas. A efetividade de qualquer acordo dependerá não só de cláusulas comerciais, mas também de mecanismos robustos de monitoramento, responsabilidade social e proteção dos direitos humanos.
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