Ruanda e EUA iniciam negociações sobre deportados

Ministro das Relações Exteriores de Ruanda, Olivier Nduhungirehe, ao lado do Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, durante reunião no Departamento de Estado em Washington, DC, em 25 de abril de 2025.
O Ministro das Relações Exteriores de Ruanda, Olivier Nduhungirehe, discute a possível aceitação de migrantes deportados em reunião com o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, no Departamento de Estado em Washington, DC, no dia 25 de abril de 2025 [Jacquelyn Martin/AP]./ Al Jazeera

O governo de Ruanda confirmou que está em negociações preliminares com os Estados Unidos para aceitar migrantes deportados, menos de um ano após a queda de um acordo similar com o Reino Unido. A revelação foi feita pelo ministro das Relações Exteriores ruandês, Olivier Nduhungirehe, em entrevista à emissora estatal Rwanda TV. “As conversas estão em curso, mas ainda nos estágios iniciais”, afirmou.

Histórico de acordos e motivações de Ruanda

Em 2022, Ruanda assinou um pacto com o Reino Unido para receber asilados rejeitados por Londres, mas o acordo foi anulado em julho de 2024 pela nova administração trabalhista, que o classificou como um “truque” e sofreu derrotas judiciais que o declararam ilegal .

Para Kigali, essas parcerias representam fonte de receitas e reforço de sua posição geopolítica. Fontes da imprensa americana indicam que os EUA podem oferecer compensações financeiras para custear infraestrutura de acolhimento e programas de integração dos deportados, incluindo estipêndios e assistência para recolocação profissional.

Ponto atual das negociações

  • Escopo: Migrantes com antecedentes criminais que cumpriram pena nos EUA, potencialmente reassentados em comunidades ruandesas.
  • Fase: “Ainda não há definição de como prosseguir, mas as conversas estão em curso… ainda nos estágios iniciais”, disse Nduhungirehe .
  • Alternativas: Além de Ruanda, Washington avalia Líbia como destino para parte dos deportados .
  • Caso‑modelo: Em março de 2025, um cidadão iraquiano foi transferido dos EUA para Ruanda, servindo de piloto para o programa .

Reações de direitos humanos

O ACNUR alertou que alguns deportados podem ser reenviados a países dos quais fugiram, correndo risco de perseguição ou morte . O governo ruandês refutou essas alegações, acusando o órgão de deturpar os procedimentos internos.

Aspectos legais internos em Ruanda

  • Lei de Migração (2018): Autoriza deportação de não‑cidadãos que violem regras de visto ou ameacem a segurança nacional, assegurando direito a audiência e representação legal prévia (art. 45).
  • Decreto 02/2019: Regula detenção e acolhimento de migrantes, exigindo condições dignas (alimentação, saúde, abrigo) durante o processo de deportação.
  • Compromissos internacionais: Ruanda incorporou à legislação a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 sobre refugiados, garantindo o princípio do non‑refoulement e análise individualizada de casos de asilo.

Implicações políticas e jurídicas

  • Nos EUA: A política de deportações foi ampliada no segundo mandato de Trump, com ênfase em não‑cidadãos considerados “criminosos” e até proposta de transferência de cidadãos americanos com histórico criminal para Guantánamo .
  • Desafios legais: A Suprema Corte suspendeu deportações de venezuelanos acusados de gangues, apontando falhas no devido processo .
  • Diplomacia de pagamento: Estima‑se pacote financeiro de dezenas de milhões de dólares para Ruanda, similar aos £ 50 mi que Kigali ainda reivindica do Reino Unido pelo acordo cancelado em 2024.

Análise de impacto regional

  1. Para Ruanda: Consolidação como ator-chave em políticas migratórias globais, atraindo recursos e visibilidade internacional.
  2. Para África Oriental: Potencial aumento de fluxos migratórios internos e necessidade de gestão de coesão social.
  3. Para os EUA: Alívio sobre o sistema de imigração, mas exposição a críticas de ONGs e litígios judiciais.

Comparação internacional

A externalização de políticas migratórias não é exclusividade dos EUA. A União Europeia, por exemplo, firmou acordos com Marrocos e Tunísia para conter fluxos do Mediterrâneo, enfrentando críticas semelhantes de organismos de direitos humanos .

Conclusão


As conversas entre Ruanda e EUA marcam um avanço na estratégia de externalização migratória de Washington, em meio a tensões jurídicas e humanitárias. Embora ainda iniciais, essas negociações deverão redefinir padrões de cooperação, integração e proteção de migrantes deportados, exigindo monitoramento contínuo de sua implementação e respeito aos direitos fundamentais.

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