
O ataque de drones de 18 de maio de 2025 representa um novo capítulo na guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022. Coincidente com as primeiras negociações diretas em três anos, realizadas em Istambul, essa ofensiva marca uma escalada estratégica: ao testar as defesas ucranianas, o Kremlin busca enviar uma mensagem de força e avaliar a capacidade de resposta de seu adversário.
Contexto e escala do ataque
Na madrugada de hoje, 18 de maio de 2025, a Rússia desencadeou o maior ataque de drones desde o início da invasão em larga escala em 24 de fevereiro de 2022, lançando 273 veículos aéreos não tripulados até as 8h (0500 GMT). O principal alvo foi a região de Kyiv, seguida pelas de Dnipropetrovsk e Donetsk, no leste do país. A ofensiva superou o recorde anterior de 267 drones, registrado na véspera do terceiro aniversário da invasão.
Impacto humano e material
As defesas ucranianas conseguiram interceptar 88 drones e neutralizaram 128 simuladores, que se perderam sem atingir alvos. Ainda assim, o ataque causou a morte de uma mulher de 28 anos no distrito de Obukhiv, ao sul de Kyiv, e deixou pelo menos três feridos, incluindo uma criança de 4 anos. Várias residências foram danificadas, e o telhado de um prédio não residencial na capital foi perfurado por estilhaços.
“Infelizmente, como resultado do ataque inimigo no distrito de Obukhiv, uma mulher morreu em decorrência de seus ferimentos.”
— Mykola Kalashnik, governador da região de Kiev.
Além deste episódio, no dia anterior, um ataque de drone em Sumy atingiu um ônibus de evacuação, matando nove civis e ferindo outros, o que levou o presidente Zelensky a classificar o ataque como deliberado e exigir sanções mais rígidas contra Moscou.
Perspectiva técnica
Tipos de drones e suas capacidades:
Drones letais
- Transporte de explosivos a até 500 km (ex.: Lancet‑3).
- Carga de 3–5 kg de ogiva.
Simuladores (“drones‑isca”)
- Sem carga explosiva, usados para saturar defesas.
Drones “relógio‑quebra”
- Voam em padrão circular até serem interceptados, consumindo tempo e munição antiaérea.
Sistemas de defesa aérea:
- Curto alcance (SHORAD): Buk e Osa (até 30 km de alcance).
- Médio/longo alcance: Patriot (EUA) e SAMP/T (UE) (até 150 km).
- Contremedidas eletrônicas (EW): interferência de sinais de controle.
A tática de saturação de drones força as baterias antiaéreas a se dispersarem entre múltiplos alvos, reduzindo a eficiência das intercepções.
Reação e narrativa ucraniana
Autoridades de Kiev qualificaram o ataque como retaliação às conversas de paz em Istambul, sugerindo que o Kremlin recorre à violência para pressionar durante as negociações. Andriy Kovalenko, do Centro contra Desinformação, afirmou que a Rússia utiliza essas ofensivas como instrumento de intimidação.
Reação internacional e político
- Donald Trump, presidente dos EUA, anunciou que conversará com Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky na segunda‑feira seguinte.
- A OTAN e a União Europeia condenaram o ataque e discutem novos pacotes de apoio militar e sanções adicionais a Moscou.
Análise estratégica
- Escalada pós-negociações: o lançamento de 273 drones poucas horas após o fim das negociações indica tática de pressão política para minar avanços diplomáticos.
- Saturação de defesas: uso coordenado de drones letais e simuladores para sobrecarregar sistemas antiaéreos.
- Dissuasão e moral: ao atingir áreas civis próximas à capital, busca abalar o apoio interno e questionar o compromisso ocidental.
Perspectivas futuras
- Fortalecimento da defesa: aceleração da entrega de sistemas Patriot e SAMP/T e integração de capacidades EW.
- Ajuda ocidental condicionada à demonstração de eficácia dessas defesas.
- Negociações de paz poderão depender de garantias de segurança mais robustas para a Ucrânia, incluindo garantias internacionais de não agressão.
Conclusão
O maior ataque de drones desde 2022 evidencia não apenas a evolução das capacidades tecnológicas russas, mas também uma estratégia deliberada de retaliação política. A resposta ucraniana, tanto militar quanto diplomática, determinará o curso dos próximos diálogos, enquanto a comunidade internacional observa a dinâmica entre força e negociação para buscar um cessar‑fogo sustentável.
Faça um comentário