Rússia Intensifica Ataques à Ucrânia: Mortos, Feridos e Impasse na Troca de Prisioneiros

Bombeiro apagando incêndio em planta civil após ataques russos em Kharkiv
Bombeiro combate fogo em instalação civil na cidade de Kharkiv, após forte ataque russo [Sergey Bobok/AFP]/ Al Jazeera

Na madrugada de 7 de junho de 2025, uma das ofensivas aéreas mais intensas desde o início da invasão russa atingiu diversas regiões da Ucrânia, provocando ao menos seis mortes e dezenas de feridos em ataques com mísseis, drones e bombas. Ao mesmo tempo, a esperada troca de prisioneiros de guerra, negociada em Istambul, enfrenta novas tensões com acusações de descumprimento por ambas as partes.

Ofensiva em Kharkiv: o mais forte bombardeio local

Segundo a Força Aérea ucraniana, foram lançados 215 aviões não tripulados e mísseis – incluindo 48 drones de origem iraniana, dois mísseis de cruzeiro e quatro bombas guiadas – dos quais 94 foram interceptados pelas defesas antiaéreas. Em Kharkiv, a apenas 50 km da fronteira, o prefeito Ihor Terekhov relatou quatro mortes (três na madrugada e uma à tarde) e 26 feridos, entre eles duas crianças, além de graves danos a 18 blocos residenciais e 13 casas particulares. Ele classificou o ataque como o mais poderoso à cidade desde 2022.

Relatos de moradores e ação de resgate

Moradores como Alina Belous descreveram cenas de pânico ao tentar apagar chamas com baldes d’água para resgatar uma jovem presa em um edifício em chamas: “Quando o teto começou a desabar, os bombeiros nos removeram rapidamente”, contou à Associated Press. A cooperação entre civis e equipes de resgate evitou um número ainda maior de vítimas.

Ataques em outras regiões e impacto humanitário

No sul, em Kherson, um casal foi morto por artilharia russa e diversos prédios residenciais foram danificados, conforme confirmou o governador Oleksandr Prokudin. Em Dnipro, duas mulheres de 45 e 88 anos ficaram feridas em ataques distintos. Em Lutsk, o corpo de mais uma vítima foi recuperado, elevando para sete o total de mortos na véspera em todo o país.

Contexto estratégico: retaliações e escalada

O aumento da violência segue uma ousada operação ucraniana que danificou cerca de 10% da frota de bombardeiros estratégicos russos ao atingi-los em bases na Sibéria, conforme relatos ucranianos, e após a derrubada de um caça Su‑35 russo durante as recentes hostilidades. Moscou afirmou que visou instalações militares em retaliação a supostas “ações terroristas” ucranianas, enquanto Kiev posiciona sua ação como legítima resposta defensiva.

Além disso, a escalada motivou anúncios políticos: a Alemanha planeja equipar totalmente suas forças armadas até 2028, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, conclamou o Conselho de Segurança da ONU a liderar novas negociações de paz.

Crise na troca de prisioneiros: impasse diplomático

O acordo de Istambul previa a repatriação de até 6.000 corpos de soldados mortos e a troca inicial de 1.200 prisioneiros (1.000 por 1.000 mais 200 por 200), com listas a serem trocadas até 7 de junho, e primeiras remessas previstas para 7–8 de junho. Contudo, neste dia 7, o assessor de Putin, Vladimir Medinsky, declarou que a Ucrânia havia “adiado indefinidamente” o processo: estavam prontos 1.212 corpos em contêineres refrigerados e uma lista de 640 prisioneiros selecionados, mas os negociadores ucranianos não compareceram. Em resposta, a Coordenação Ucraniana para Prisioneiros de Guerra classificou as acusações russas como “jogada política” e “manipulação”.

Análise e perspectivas

A maior ofensiva dos últimos meses demonstra a continuidade da escolha russa por ataques diretos a áreas urbanas, enquanto a Ucrânia combina ações militares de longo alcance com diplomacia internacional. O impasse na troca de prisioneiros revela o crescente abismo de confiança entre Moscou e Kiev, ameaçando até mesmo acordos humanitários.

Sem perspectivas de trégua imediata – já que a exigência russa de retirada ucraniana de quatro regiões ocupadas, abandono de ambições à OTAN e encerramento da cooperação ocidental permanece inaceitável para Kiev – o conflito tende a se manter em níveis elevados de violência e tensão diplomática. A comunidade internacional, por sua vez, observa a necessidade urgente de pontes de negociação que transcendam posicionamentos intransigentes e protejam a população civil.

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