
Rússia retoma ataques à Ucrânia após fim da trégua de Páscoa Lançamento de 96 drones e 3 mísseis, centenas de violações e impasse diplomático ameaçam qualquer perspectiva de cessar‑fogo prolongado
No domingo, 20 de abril de 2025, à 0h (horário de Moscou), expirou a trégua humanitária de 30 horas unilateralmente declarada pelo presidente russo Vladimir Putin para celebrar a Páscoa. Pouco depois do prazo, forças russas deflagraram uma onda de ataques aéreos, sinalizando o rápido retorno das hostilidades em várias frentes.
Fim abrupto da trégua e retorno imediato das hostilidades
No momento em que a trégua expirou, a Ucrânia registrou o lançamento de 96 drones de ataque e três mísseis contra as regiões de Kharkiv, Dnipropetrovsk e Cherkasy, conforme relatório oficial da Força Aérea ucraniana. As defesas antiaéreas interceptaram 42 drones e redirecionaram outros 47, mas permitiram que mísseis atingissem alvos em áreas sensíveis, incluindo ataques confirmados sobre Mykolaiv.
Balanço de danos e vítimas
Durante o curto cessar‑fogo, autoridades regionais informaram que três civis foram mortos e outros três ficaram feridos em ataques russos à região de Kherson, parte ocupada intermitentemente por tropas russas. Embora não tenha havido grandes estragos imediatos relatados em Kharkiv, Dnipropetrovsk e Cherkasy, imagens de destruição leve em prédios residenciais e instalações industriais já circulavam após o fim da trégua.
Acusações mútuas e violação sistemática
O presidente Volodymyr Zelensky denunciou mais de 2.900 violações da trégua pelas forças russas, incluindo 96 operações de assalto e mais de 1.800 bombardeios de artilharia durante o período pactuado. Em contrapartida, o Ministério da Defesa da Rússia alegou que Kiev infringiu o cessar‑fogo 4.900 vezes, citando ataques a suas posições fronteiriças e infraestruturas civis em Belgorod, Bryansk, Kursk e na Crimeia anexada.
Reação internacional e impasse diplomático
O Departamento de Estado dos EUA declarou que apoiaria a extensão da trégua humanitária, mas condicionou qualquer avanço a sinais claros de compromisso de Moscou com um cessar‑fogo duradouro (leia mais: EUA dão ultimato às negociações de paz na Ucrânia). Já o presidente Donald Trump advertiu que Washington poderia abandonar as negociações de paz caso não houvesse progresso substantivo, ao mesmo tempo em que defendeu um armistício de 30 dias. Zelensky, por sua vez, reforçou proposta de trégua mais ampla e contínua, criticando a manobra russa como gesto meramente publicitário.
Análise: desconfiança, propaganda e futuro do cessar‑fogo
O rápido retorno aos combates expõe a fragilidade de pausas unilaterais e o uso das trégua como ferramenta de propaganda. Para especialistas em diplomacia de conflito, a ausência de mecanismos de verificação internacional — como observadores independentes ou garantias de terceiros neutros — inviabiliza qualquer trégua de curto prazo. Além disso, a disparidade entre o que Moscou e Kiev relatam em termos de violações reforça o clima de desconfiança mútua. Sem um processo de mediação com mínimos termos claros e garantias de ambas as partes, a chance de um cessar‑fogo duradouro permanece remota.
Citação de analistas especializados
“Uma pausa modesta e unilateral na Páscoa, sem monitores independentes, sempre teve pouca probabilidade de se manter. Os dois lados a usaram para se reagrupar, não para criar confiança” aponta Mark Galeotti, especialista em segurança russa do King’s College London.
“Sem supervisão internacional eficaz, qualquer trégua acaba servindo apenas para preparar a próxima onda de ataques,” observa Tatiana Stanovaya, fundadora da R.Politik, em análise sobre as estratégias de Moscou após o fim da trégua.
Conclusão
O fim da trégua de Páscoa e a retomada imediata dos ataques ressaltam o impasse em que se encontra a guerra na Ucrânia. Enquanto a diplomacia internacional tenta costurar um acordo que pare de vez o fluxo de violência, a experiência histórica e as evidências recentes indicam que gestos pontuais dificilmente se traduzirão em paz real. Na ausência de um formato negociado amplamente aceito e fiscalizado, a população civil seguirá à mercê de manobras políticas e militares que priorizam ganhos táticos em vez de uma resolução estável para o conflito.
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