Retaliação russa: ataque massivo de drones e mísseis fere civis na Ucrânia após destruição de bombardeiros russos

Bombeiros trabalham no local de ataque com drone russo em Kiev, Ucrânia, 6 de junho de 2025.
Bombeiros combatem as chamas após ataque com drone russo em área residencial de Kiev durante ofensiva aérea em 6 de junho de 2025.

Na madrugada de hoje, 6 de junho de 2025, a Rússia lançou um ataque aéreo coordenado em larga escala contra a Ucrânia, utilizando 407 drones kamikaze e 45 mísseis de cruzeiro e balísticos. Conforme o Estado-Maior das Forças Armadas ucranianas, essa foi a maior ofensiva de drones registrada até o momento no conflito, mirando não só a capital Kiev, mas também cidades do oeste e noroeste do país, como Ternopil e Lutsk. As autoridades ucranianas afirmam que o ataque foi uma retaliação direta à Operação Teia de Aranha, em que drones ucranianos atingiram bases aéreas russas profundas, destruindo ou danificando dezenas de aeronaves estratégicas.

Detalhamento do ataque e áreas atingidas

O céu de Kiev foi rasgado por múltiplas explosões antes do amanhecer, com drones rasgando fachadas de prédios residenciais e sistemas antiaéreos ucranianos buscando interceptar o avanço dos UAVs a baixíssima altitude. No distrito de Solomianskyi, um drone colidiu contra a lateral de um edifício, abrindo um buraco no concreto e deixando marcas de queimado na estrutura; destroços encontrados no solo indicavam tratar-se de um modelo empregado por forças russas. Em várias regiões de Kiev, moradores relataram janelas estilhaçadas e tremores que sacudiram edificações a quilômetros de distância do ponto de impacto. Em Ternopil, ataques a instalações industriais provocaram incêndios que liberaram substâncias tóxicas, levando autoridades locais a recomendar que a população permanecesse em ambientes internos. Em Lutsk, casas, escolas e um prédio governamental foram atingidos, com 15 pessoas feridas confirmadas pelas promotorias regionais.

Vítimas e danos colaterais

Dados oficiais ucranianos indicam que, em Kiev, quatro pessoas morreram e ao menos 20 ficaram feridas em decorrência direta dos ataques – há informes de que duas dessas vítimas eram socorristas que almejavam prestar assistência em um dos locais atingidos quando um segundo ataque foi lançado contra a mesma área. No total, o presidente Volodymyr Zelenskiy reportou 49 feridos em várias regiões da Ucrânia, embora fontes locais refiram que esse número possa sofrer revisões conforme passarem as horas. A rede metroviária da capital teve trechos de trilhos severamente danificados, obrigando a Companhia Estatal de Ferrovias a desviar trens e interromper serviços. Em Ternopil, a liberação de fumaça tóxica decorrente de incêndios industriais motivou alertas sanitários para riscos respiratórios. Esses fatores ressaltam o impacto duplo do ataque: destruição de infraestrutura estratégica e pressão sobre a população civil.

Narrativa oficial ucraniana

O presidente Zelensky classificou a ofensiva como “ato de terrorismo” e pediu pressões ainda mais intensas de aliados ocidentais contra Moscou. Em mensagens veiculadas pela rede social X, ele enfatizou que a incapacidade de dissuadir as agressões russas representava “complicidade” por parte daqueles que não condenassem ou bloqueassem o fluxo de armas e capitais para o regime de Putin. Para o Ministério do Interior, o fato de socorristas terem sido mortos demonstra a tática russa de visar deliberadamente equipes de resgate e áreas civis, configurando potencial crime de guerra. O comando militar ucraniano reforçou que seus sistemas de defesa aérea, embora atuando com intensidade nas últimas semanas, continuam em desvantagem diante da massificação de drones kamikaze, capazes de sobrecarregar radares convencionais e custar muito menos que mísseis interceptores.

Reação das forças de resgate

A morte de dois socorristas em Kiev provocou alerta entre membros de equipes humanitárias e de emergência. Segundo o ministro Ihor Klymenko, muitos profissionais hesitaram em deslocar-se imediatamente após as primeiras explosões, receosos de “ataques sucedâneos” – tática que, se comprovada, caracteriza tentativa de minar a eficiência de socorristas e prolongar o sofrimento civil. Relatórios de organizações não governamentais locais revelam que hospitais de campanha em áreas periféricas registraram aumento súbito na procura por atendimento, enquanto ambulâncias enfrentaram dificuldade para transitar por vias danificadas e sob constant perigo de novos ataques.

Narrativa oficial russa

O Ministério da Defesa da Rússia declarou que a ofensiva visou exclusivamente “alvos militares e instalações relacionadas à indústria de defesa” em resposta a “atos terroristas” atribuídos à Ucrânia. Entre esses supostos atos, Moscou inclui o bombardeio de uma ponte férrea ocidental que resultou em sete mortos e 155 feridos quando um trem de passageiros trafegava sob a estrutura — incidente para o qual Kiev não reivindicou responsabilidade. A retórica oficial também enfatiza que drones ucranianos teriam atacado infraestruturas críticas na própria Rússia na madrugada anterior, sendo 174 UAVs abatidos pelas defesas antiaéreas russas, com “vários feridos e danos materiais” relatados em territórios fronteiriços. Segundo o porta-voz Dmitry Peskov, as operações russas “não miram civis”, mas sim “centros de comando, depósitos de munição e aeroportos usados para ataques contra o território russo”.

Repercussão internacional e pressão sobre a Rússia

A ofensiva russa foi amplamente condenada por lideranças da União Europeia, Estados Unidos e organismos de direitos humanos. O secretário-geral da ONU apelou por “contenção imediata e respeito às leis humanitárias internacionais”, reforçando que ataques a áreas civis podem configurar crimes de guerra. Em Bruxelas, o Conselho Europeu discutiu a possibilidade de aumentar sanções contra setores russos ligados à produção de mísseis de cruzeiro e drones, além de avaliar um novo pacote de ajuda militar a Kiev, inclusive sistemas avançados de defesa aérea. Nos Estados Unidos, apesar do alinhamento diplomático menos rígido do presidente Trump com Moscou, senadores de ambas as bancadas manifestaram apoio ao envio de mais equipamento antidrone, alegando que “permitir que a Rússia continue a bombardear cidades ucranianas apenas intensifica a crise humanitária” e fragiliza a segurança regional. Em Berlim, o chanceler Friedrich Merz solicitou a Trump, em encontro bilateral, que pressionasse a Rússia para cessar ataques a civis, ao mesmo tempo em que anunciou nova remessa de defesas antiaéreas para as Forças Armadas ucranianas.

Organizações de direitos humanos

Relatórios iniciais de grupos como Human Rights Watch e Anistia Internacional alertaram para “suspeitas de ataques indiscriminados” por parte da Rússia, inclusive ao flagrante emprego de drones contra regiões densamente povoadas. Essas organizações já monitoravam o emprego crescente de UAVs kamikaze por Moscou, classificando a estratégia como “indiscriminada” devido à dificuldade de separação entre alvos militares e civis em centros urbanos. A presença de substâncias tóxicas após incêndios industriais em Ternopil também motivou a intervenção de especialistas em saúde pública, que recomendam o monitoramento de possíveis consequências de longo prazo, como problemas respiratórios e contaminação ambiental em água e solo.

Análise tática: o auge da guerra de drones

A utilização simultânea de 407 drones kamikaze representa um marco tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia no domínio dos UAVs ofensivos. Para Kiev, interceptar um volume tão elevado de drones exige a mobilização de sistemas de defesa aérea dispendiosos – sistemas SAMP/T, Patriot e artilharia antiaérea móvel –, muitas vezes limitados em quantidade. As baterias tradicionais, calibradas para contrapor mísseis de cruzeiro, enfrentam enorme dificuldade em rastrear alvos a meros metros do solo, operando trajetórias erráticas. Já para Moscou, a combinação de mísseis balísticos e de cruzeiro com enxames de drones visa saturar simultaneamente as defesas ucranianas: enquanto sistemas de radar se concentram em interceptar mísseis de longo alcance, as armas de menor porte e munição mais barata forçam que se empregar recursos adicionais na proteção de áreas urbanas. Essa abordagem busca não apenas causar danos pontuais, mas esgotar o estoque e o orçamento de defesa ucraniano, criando uma janela de vulnerabilidade para ofensivas subsequentes.

Dinâmica de custo-benefício

Um drone kamikaze russo custa pouco mais de milhares de dólares para ser produzido – comparado aos milhões gastos por Kiev em interceptores avançados. Isso cria um desequilíbrio econômico em favor de Moscou: cada UAV abatido encurta o estoque de munição antiaérea ucraniana de alto valor, ao passo que o orçamento militar russo sustenta a fabricação em massa de drones. Em contrapartida, a Ucrânia impulsiona pesquisas em sistemas de interferência eletrônica e canhões antiaéreos de calibres diversos (munições de 23 mm e 30 mm) para deter UAVs de baixo custo. Relatórios de inteligência dos EUA indicam que Kiev avalia a adoção de redes de malha eletrônica para bloquear sinais de controle dos drones e empregar aviões de combate F-16 em missões de caça-reconhecimento intensificadas.

Implicações estratégicas e cenário futuro

  1. Escalada Recíproca: A sequência de eventos – com a destruição de bombardeiros russos em 1º de junho e a vasta retaliação russa em 6 de junho – evidencia um padrão de “dissuasão por retaliação”, no qual cada “avanço” ucraniano gera uma resposta ainda mais robusta. Sem perspectiva de dominância aérea de longo prazo para Kiev, o ciclo tende a se repetir até um lado romper esse paradigma, possivelmente por meio de avanços diplomáticos ou aumento substancial de ajuda militar externa.
  2. Pressão sobre Civis: A mortalidade atingindo socorristas e a destruição de áreas residenciais revelam que a linha entre alvos militares e civis tornou-se tênue. Isso agrava o deslocamento interno de populações, já pressionadas pela crise humanitária de três anos de guerra. O aumento de feridos em decorrência da inalação de fumaças tóxicas em Ternopil e o prejuízo à infraestrutura pública (como elos ferroviários e estações de metrô) podem provocar um colapso parcial nos serviços essenciais, estendendo a crise sanitária para além dos combates diretos.
  3. Pressão Diplomática e Militar Ocidental: A resposta ocidental surge em dois vetores: adoção de novas sanções contra a indústria de drones russa e aceleração de remessas de sistemas antidrone para Kiev. Há discussões nos ministérios de Defesa da OTAN sobre o envio de sistemas de radar de curto alcance (como Giraffe AMB) e míssil antiaéreo IRIS-T SLM. Se implementados, tais sistemas poderiam reduzir a eficácia dos drones russos, ao custo de estreitar ainda mais as relações entre Rússia e países do Ocidente.
  4. Capacidade de Retomada Ucraniana: O governo de Kiev tenta negociar pacotes adicionais de fiscalização eletrônica (jammers) e instruir vilas próximas às fronteiras sobre abrigos improvisados em caso de vazamento de substâncias químicas. Organizações humanitárias europeias já se mobilizam para enviar suprimentos médicos de emergência. Entretanto, a infraestrutura crítica ucraniana permanece vulnerável, exigindo que cada ataque russo seja correspondido por um aumento exponencial em sistemas de defesa – cenário que, em médio prazo, tende a esgotar recursos financeiros e logísticos de Kiev.

Conclusão

O ataque russo de 6 de junho de 2025 escancarou a brutalidade de uma guerra marcada pela predominância de drones kamikaze e misseis de alta precisão. A retaliação em massa, resultante da Operação Spider’s Web, demonstra como cada lado busca impor ao adversário um dilema de custo – econômico, humano e estratégico. A morte de civis e membros de equipes de resgate evidencia o alargamento dos combates além dos campos de batalha tradicionais, obrigando a comunidade internacional a repensar perspectivas no fornecimento de defesa aérea e em ações diplomáticas de contenção. Enquanto Rússia e Ucrânia entram em ciclo de retaliações cada vez mais sofisticadas, a população civil segue presa num cenário de insegurança permanente, com infraestrutura crítica e saúde pública em risco iminente.

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