EUA Intensificam Sanções Contra Rede de Contrabando de Petróleo Iraniano e Hezbollah; Ampliação Atinge Cadeias de Defesa e Prepara Diálogo Nuclear em Oslo

Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, fala com repórteres no Capitólio em Washington, 27 de junho de 2025.
O Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, concede entrevista coletiva no Capitólio, em Washington, enquanto legisladores republicanos enfrentam dificuldades para aprovar o projeto de lei de gastos e impostos do presidente Donald Trump. 27 de junho de 2025. REUTERS/Elizabeth Frantz/Foto de Arquivo

Em 3 de julho de 2025, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou uma nova leva de sanções que mira diretamente uma sofisticada rede de contrabando de petróleo iraniano — comandada pelo empresário iraquiano‑britânico Salim Ahmed Said — e a instituição financeira Al‑Qard Al‑Hassan, controlada pelo Hezbollah. Através de empresas como a VS Tankers e de uma frota clandestina de navios, bilhões de dólares em petróleo iraniano vinham sendo disfarçados como originários do Iraque ou misturados com petróleo iraquiano desde 2020, gerando cerca de US$ 1 bilhão por ano em receitas ilícitas para Teerã e seus proxies.

Estas medidas complementam sanções emitidas em 20 de junho contra fornecedores de armamentos ao Irã e operadores de petróleo ligados aos houthis, parte da campanha de “máxima pressão” para conter o financiamento de grupos alinhados a Teerã. Paralelamente, os Estados Unidos preparam negociações diretas sobre o programa nuclear iraniano em Oslo na próxima semana, em possível reunião entre o enviado americano Steve Witkoff e o ministro das Relações Exteriores iraniano Abbas Araghchi, reflexo de uma estratégia que combina coerção e diplomacia.

A Rede de Contrabando de Petróleo

Estrutura e Modo de Operação

  • Liderança: Salim Ahmed Said coordena um conglomerado de empresas que, desde 2020, mistura ou rotula petróleo iraniano como originário do Iraque, embarcando-o por portos iraquianos e dos Emirados Árabes Unidos com documentação falsificada.
  • Escala: Estima-se que o esquema movimente em média US$ 1 bilhão anualmente, destacando sua relevância como fonte de financiamento para o regime e seus proxies.

Entidades e Embarcações Alvo das Sanções

  • VS Tankers (antiga AISSOT): Sediada nos EAU, operava em benefício do IRGC e do governo iraniano, apesar de vínculos formais obscuros.
  • Navios sancionados: Várias embarcações da “shadow fleet” foram designadas, dificultando a reposição da frota clandestina e aumentando o risco de inspeções e apreensões em rotas-chave dos estreitos de Ormuz e Hormuz.

As Sanções ao Hezbollah

Al‑Qard Al‑Hassan e Agentes Financeiros

  • Instituição: Braço financeiro do Hezbollah, processava milhões de dólares em transações que mascaravam a real destinação dos fundos.
  • Alvos: Vários executivos e uma entidade associada foram bloqueados, congelando ativos e proibindo transações envolvendo americanos.

Perspectivas de Atores Internacionais

  • China: Critica sanções unilaterais e valoriza acordos multilaterais, mas segue importando cerca de 1,38 milhão de barris por dia de petróleo iraniano (13,6% de suas importações) devido a descontos de até US$ 7-8 por barril.
  • Rússia: Condena a extraterritorialidade das sanções e defende mecanismos alternativos de pagamento via moedas locais ou criptomoedas.

Contexto Geopolítico e Militar

  • Operação “Midnight Hammer” (22 de junho): Bombardeios a Fordow, Natanz e Isfahan atrasaram o programa nuclear iraniano em até dois anos, segundo o Pentágono.
  • Diálogo em Oslo: Apesar de inicialmente reportado como iminente, o governo iraniano negou publicamente qualquer agendamento de encontro com autoridades dos EUA, lançando incertezas sobre o futuro das negociações.

Impactos e Desafios Futuros

  1. Redução de receitas ilícitas: Corte de pelo menos US$ 1 bilhão/ano ao regime e seus proxies.
  2. Fragilização da “shadow fleet”: Sanções a empresas e navios elevam custos logísticos e legais.
  3. Adaptação do Irã: Possível uso de operadores terceirizados e rotas alternativas em portos menos vigiados.
  4. Resiliência do Hezbollah: Apesar das sanções, o grupo mantém fontes locais de financiamento e redes clandestinas de arrecadação.

Reações Internacionais

  • União Europeia e Reino Unido: Ofereceram cooperação em patrulhas navais conjuntas e troca de inteligência para rastrear tanques suspeitos no Mar Arábico.
  • Países do Golfo: Arábia Saudita e Emirados elevaram patrulhamento no Estreito de Ormuz, ampliando operações de interdição marítima.

Prognóstico de Curto e Médio Prazo (Próximos Seis Meses)

Caso A – Novas Rotas e Terceiros Países:

  • O Irã pode recorrer a portos alternativos em Turquia, Sri Lanka ou Vanuatu e usar redes de empresas de fachada em países asiáticos e africanos para transbordo em alto mar de bandeiras obscuras e documentos forjados continuarão a ser utilizados para disfarçar a origem do petróleo.

Caso B – Intensificação de Patrulhas Navais:

  • Forças navais de EUA, UE e nações do Golfo devem incrementar bloqueios no Estreito de Ormuz, apoiados por drones de vigilância e satélites compartilhados.
  • Acordos de compartilhamento de inteligência e patrulhas conjuntas poderão reduzir em até 30% a passagem de embarcações suspeitas nas rotas críticas.

Caso C – Avanços ou Impasses em Oslo:

  • Avanço: Um entendimento provisório pode suspender certas sanções em troca de acesso amplo da IAEA, evitando escalada militar.
  • Impasse: Rejeição de termos mínimos levaria a sanções adicionais e possíveis ações cibernéticas ou ataques cirúrgicos contra instalações nucleares.

Conclusão

As sanções de 3 de julho representam um passo significativo na estratégia dos EUA para interromper fluxos de receita vitais ao regime iraniano e ao Hezbollah. Ao combinar pressão econômica, ação militar e perspectivas diplomáticas, Washington busca limitar tanto o avanço nuclear de Teerã quanto seu poder de projeção via proxies. Contudo, a adaptabilidade do Irã e a complexidade regional exigem vigilância contínua, cooperação multilateral e flexibilidade nas políticas de sanções e incentivos nos próximos meses.

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