
Em seu discurso de Ano Novo, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, enviou um recado direto à população: as eleições alemãs não serão definidas por “proprietários de redes sociais”, mas sim pelos próprios cidadãos. A declaração, feita na véspera da virada de ano, foi interpretada como uma resposta indireta ao bilionário Elon Musk, que recentemente manifestou apoio ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Scholz ressaltou que o destino do país está nas mãos da maioria silenciosa, composta por pessoas “razoáveis e decentes”, e não daqueles que dominam o debate online com posições radicais. “Nos debates atuais, às vezes dá a impressão de que quanto mais extrema é a opinião, mais atenção ela recebe. Mas não é quem grita mais alto que decide o rumo da Alemanha”, declarou o chanceler.
Embora não tenha citado nomes diretamente, a fala de Scholz foi entendida como uma crítica a Musk, que utilizou sua plataforma X (antigo Twitter) para apoiar publicamente a AfD e reforçou essa posição em um artigo publicado no jornal Welt am Sonntag. O empresário, fundador da Tesla e conhecido por suas ligações com Donald Trump, afirmou ser favorável às políticas econômicas do partido, embora rejeite o rótulo de “extrema-direita”.
A posição de Musk gerou reações dentro do governo alemão. Um porta-voz oficial acusou o bilionário de tentar influenciar as eleições e lembrou que a AfD é classificada, em nível nacional, como uma organização sob suspeita de extremismo. Lars Klingbeil, co-líder do Partido Social-Democrata (SPD), chegou a comparar Musk ao presidente russo Vladimir Putin, alegando que ambos estariam tentando interferir no processo democrático alemão.
No mesmo discurso, Scholz também se posicionou contra a disseminação de desinformação nas redes sociais, especialmente após o ataque ocorrido em 20 de dezembro em um mercado de Natal na cidade de Magdeburgo. O atentado resultou na morte de cinco pessoas e deixou centenas de feridos. O chanceler alertou para os rumores e teorias que circularam no X após o ataque, dizendo que tais especulações apenas dividem e enfraquecem a sociedade.
As autoridades afirmaram que o autor do ataque era um homem nascido na Arábia Saudita, residente na Alemanha desde 2006, que havia demonstrado comportamentos antimuçulmanos na internet. Apesar disso, o perfil do suspeito diferia de outros casos semelhantes, e o governo pediu cautela ao tirar conclusões precipitadas sobre suas motivações.
Mesmo assim, a AfD rapidamente utilizou o caso em seu discurso político. Durante um comício em Magdeburgo, a líder do partido, Alice Weidel, classificou o ataque como um “ato de um islamista cheio de ódio contra a coesão humana e os valores cristãos”.
Elon Musk também comentou o atentado, criticando as autoridades alemãs e chegando a dizer, no X, que Scholz deveria renunciar devido ao ocorrido.
A fala de Scholz buscou reafirmar a confiança nas instituições democráticas alemãs e destacar a importância da união em tempos de polarização política e proliferação de discursos de ódio nas redes sociais.
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