
De 25 a 26 de junho de 2025, os ministros de Defesa dos dez países-membros da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) reuniram-se em Qingdao, China, sob a presidência rotativa chinesa. Apesar das expectativas de uma declaração final unificada, o encontro terminou sem consenso: a Índia recusou-se a assinar o texto, alegando omissões cruciais sobre terrorismo — em especial o ataque de 22 de abril em Pahalgam, Caxemira Indiana, que custou a vida de 26 turistas, majoritariamente hindus. Este artigo analisa os desdobramentos, as posições dos protagonistas e as implicações para a credibilidade e o futuro prático da SCO.
Contexto e Estrutura da SCO
Criada em 2001, a SCO congrega China, Rússia, Índia, Paquistão, Irã e cinco repúblicas da Ásia Central, somando 42% da população mundial e 23% do PIB global combinado. O bloco busca promover a segurança coletiva — sobretudo contra terrorismo e separatismo — e reforçar a cooperação econômica e política na Eurásia
O Impasse na Declaração
No discurso de encerramento, o porta-voz do Itamaraty indiano, Randhir Jaiswal, afirmou:
“Certos países-membros não chegaram a consenso em determinados pontos e, portanto, o documento não pôde ser finalizado pelo nosso lado.”
O ponto central de discórdia foi a ausência de qualquer menção ao atentado de 22 de abril em Pahalgam — classificado pela Índia como “terrorismo patrocinado pelo Estado” contra civis hindus — enquanto o mesmo rascunho destacava ações de militantes em Balochistão, no Paquistão. Para Nova Délhi, isso configurava “duplo padrão” no enfrentamento ao terrorismo.
Posições dos Principais Atores
- Índia: O ministro Rajnath Singh rejeitou o texto por “minimizar as preocupações reais sobre terrorismo” e ressaltou que “nações que oferecem refúgio a terroristas devem ser responsabilizadas”.
- Paquistão: Por meio de imprensa estatal, Islamabad reafirmou seu “compromisso em combater todas as formas de terrorismo” e lamentou “politizações que desviam atenções de falhas internas”.
- China: O porta-voz do Ministério da Defesa chinês limitou-se a afirmar que o encontro “alcançou resultados bem-sucedidos”, sem comentar o fracasso na declaração conjunta.
Ações Paralelas e Símbolos Diplomáticos
Além da discordância textual, Singh promoveu encontros bilaterais com diversos colegas, incluindo uma reunião com o ministro russo Andrey Belousov, na qual presenteou um ídolo de Nataraja, reforçando laços Índia-Rússia. Relatos da imprensa indiana mencionam ainda o lançamento da “Operação Sindoor” — uma ação direcionada contra infraestrutura terrorista — embora detalhes oficiais não tenham sido divulgados.
Impactos e Perspectivas para a Cúpula de Líderes
A cúpula dos chefes de Estado da SCO, prevista para o outono de 2025, parte agora sem um texto-base claro sobre antiterrorismo. A Índia deve insistir em linguagem firme; China e Paquistão, em contrapartida, evitarão menções que possam ser vistas como ataques diretos. A capacidade de Pequim em harmonizar interesses divergentes será testada, assim como o real papel da SCO como mecanismo eficaz de segurança regional.
Conclusão
O episódio em Qingdao expõe as fragilidades da SCO diante de rivalidades bilaterais, especialmente entre dois Estados nucleares em desacordo. A omissão de referências a ataques de militantes contra civis e a recusa indiana em legitimar um texto supostamente enviesado questionam a utilidade prática da SCO como fórum de cooperação antiterrorista. Com a cúpula de líderes se aproximando, permanece o desafio de equilibrar soberanias nacionais e compromissos coletivos numa Eurásia marcada por interesses, alianças e tensões históricas.
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