
Em uma reunião confidencial do Conselho de Segurança da ONU, fontes próximas à conferência revelaram que Moscou criticou duramente os novos líderes da Síria. Segundo informações obtidas por agências como a Reuters, o representante russo Vassily Nebenzia advertiu sobre a ascensão de jihadistas no país e chegou a comparar os massacres sectários de alauítas com o genocídio de Ruanda, ocorridos em 1994. Essa postura, tomada em meio a uma intensa transição política síria, evidencia os bastidores de uma estratégia russa para restabelecer sua influência na região.
Contexto e Antecedentes
Após a expulsão do regime de Bashar al-Assad, os novos líderes islâmicos assumiram o poder em meio a uma ofensiva liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham – antigo afiliado da Al Qaeda. A transição política não ocorreu sem conflitos: em 6 de março, um ataque contra as forças de segurança do novo governo – atribuído a ex-membros do exército leais a Assad – desencadeou uma onda de violência, resultando em massacres de alauítas em várias províncias. Paralelamente, Moscou tem buscado manter o controle de duas bases militares estratégicas na costa síria, mesmo diante do crescente conflito que já vitimou centenas de membros dessa minoria.
Reunião Fechada na ONU e as Críticas Russas
Durante a sessão privada do Conselho de Segurança, realizada em conjunto com os Estados Unidos, Moscou aproveitou o ambiente confidencial para expressar críticas contundentes. Fontes afirmam que Vassily Nebenzia comentou que “ninguém” havia impedido as mortes em massa na Síria e alertou que as medidas do novo governo poderiam conduzir ao que ele chamou de “cenário do Iraque”, em alusão à violência sectária que se seguiu à queda de Saddam Hussein. Em declarações polêmicas, Nebenzia chegou a comparar os atuais episódios de violência aos horrores do genocídio ruandês, reforçando a gravidade da situação.
Comparação com o Genocídio em Ruanda
A comparação feita por Nebenzia entre os massacres de alauítas e o genocídio em Ruanda serve para evidenciar o potencial de escalada do conflito. Em Ruanda, a sistemática perseguição e eliminação de tutsis e hutus moderados por extremistas levou a uma das maiores tragédias humanitárias do século XX. Ao traçar esse paralelo, Moscou sugere que a situação na Síria pode seguir um caminho igualmente desastroso, alertando para os perigos de uma transição marcada pela exclusão e pela violência sectária.
Críticas às Medidas do Novo Governo Sírio
Além das acusações de permitir a escalada da violência, Moscou criticou medidas internas adotadas pelo novo governo, como a dissolução do exército sírio e a demissão em massa de funcionários públicos. Tais ações são vistas por especialistas como tentativas de excluir trabalhadores alauítas e limitar a participação de setores moderados na reconstrução do país. Embora o presidente interino sírio, Ahmed al-Sharaa, tenha garantido que o governo não distribuirá cargos com base em critérios sectários e que uma administração mais inclusiva está sendo preparada, as críticas russas evidenciam um ceticismo quanto à efetividade dessas garantias.
Reações Internacionais
A reunião também contou com a presença de representantes dos Estados Unidos, França e China, que expressaram preocupação com a presença de combatentes estrangeiros e o estado precário do processo de transição política na Síria. Diversos países e organismos internacionais, incluindo a própria ONU, manifestaram alarmes quanto à escalada da violência e à fragmentação do país. Em sessões subsequentes, membros do Conselho de Segurança vêm negociando um comunicado consensual que condene a violência e exija a proteção de todas as comunidades sírias, independentemente de sua origem étnica ou religiosa. Essas reações demonstram que a situação na Síria não é apenas um problema regional, mas um desafio que envolve a segurança e a estabilidade do Oriente Médio como um todo.
Análise de Especialistas
Especialistas em geopolítica e Oriente Médio reforçam a complexidade da situação. Anna Borshchevskaya, analista do Washington Institute, afirma que:
“A postura de Moscou, criticando em ambientes privados e sendo cautelosa em público, revela uma estratégia para recuperar influência sem comprometer relações diplomáticas essenciais.”
Além dela, outros estudiosos apontam que a referência ao “cenário do Iraque” é um alerta sobre a fragilidade das instituições em reconstrução na Síria. Esses analistas destacam que a exclusão de minorias e a centralização do poder podem criar um terreno fértil para o extremismo e para conflitos prolongados, o que, por sua vez, impacta a estabilidade regional e global.
Impacto Humanitário
No cerne do conflito, o impacto humanitário é devastador. A violência sectária, que tem como alvo principal a minoria alauíta, já resultou em centenas de mortes e um número crescente de deslocados internos. As ações violentas desencadeadas após o ataque de 6 de março não apenas aprofundaram as divisões internas, mas também agravaram a crise humanitária, com relatos de massacres e violações dos direitos humanos. Organizações internacionais têm pedido acesso humanitário irrestrito às áreas afetadas para prestar assistência e monitorar possíveis abusos. A situação dos civis, especialmente dos alauítas, que se veem em meio a uma espiral de violência e marginalização, continua sendo uma das maiores preocupações da comunidade internacional.
Conclusão
As críticas de Moscou aos novos líderes sírios, manifestadas em uma reunião fechada na ONU, revelam a profundidade das tensões e os desafios para a transição política na Síria. Ao comparar os massacres sectários com o genocídio de Ruanda e alertar para um possível “cenário do Iraque”, Moscou expõe não apenas suas reservas quanto às medidas do novo governo, mas também sinaliza o risco de um colapso institucional que pode alimentar o extremismo e a violência prolongada.
A reação internacional, com a preocupação expressa por países como os Estados Unidos, França e China, juntamente com os esforços do Conselho de Segurança da ONU, destaca a urgência de se encontrar soluções que garantam a proteção de todas as comunidades sírias. Especialistas ressaltam que uma reconstrução efetiva depende de uma abordagem inclusiva e da restauração da confiança entre os diversos grupos étnicos e religiosos.
Em última análise, o cenário sírio permanece incerto, e o impacto humanitário já é alarmante. A continuidade da violência não só ameaça a estabilidade da Síria, mas também tem o potencial de desestabilizar toda a região do Oriente Médio, exigindo uma resposta coordenada e comprometida por parte da comunidade internacional para evitar uma tragédia de proporções ainda maiores.
Faça um comentário