
Ao longo das últimas semanas, Síria e Israel iniciaram dialogues diretos focados em segurança na fronteira do Golã — uma das fronteiras historicamente mais voláteis do Oriente Médio. Segundo cinco fontes com conhecimento direto do caso, representantes de ambos os lados realizaram encontros presenciais para acalmar tensões e evitar confrontos que poderiam ampliar o conflito regional.
Contexto Histórico e Recente
- Ocupação das Colinas do Golã: Desde 1967, Israel controla a maior parte do território, transformado em ponto estratégico para vigilância e acesso a fontes hídricas.
- Acordo de Desengajamento de 1974: Estabeleceu uma zona tampão e a presença da Força de Observação das Nações Unidas na Síria (UNDOF), mas jamais resultou em normalização política plena.
- Queda de Assad (dez/2024): A derrubada do regime de Bashar al-Assad pelos rebeldes do Hayat Tahrir al-Sham alterou o equilíbrio de poder em Damasco e abriu espaço para novos atores negociarem diretamente com Israel.
- Conflitos em Jaramana (mar/2025): Em 1º de março de 2025, o governo israelense ameaçou intervenção militar para proteger drusos sírios na periferia de Damasco, ressaltando a disposição de Tel Aviv de atuar preventivamente se minorias aliadas fossem ameaçadas.
Estrutura e Temas das Conversas
- Liderança Síria
- Conduzidas por Ahmad al-Dalati, governador de Quneitra e agora responsável também pela segurança de Sweida.
- Participantes Israelenses
- Fontes indicam a presença de altos oficiais de segurança em encontros realizados inclusive em território sob controle israelense.
- Pautas Principais
- Prevenção de Incursões: Evitar movimentações militares unilaterais que possam gerar retaliações.
- Redução de Bombardeios: Coordenar alertas para minimizar ataques aéreos e proteger civis, sobretudo a minoria drusa.
- Compartilhamento de Inteligência: Criar canais para troca de informações em tempo real e evitar erros de cálculo.
Papel dos Estados Unidos e Mediadores Regionais
- Encontro Trump–Sharaa (14/05/2025): O encontro em Riad entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o interino sírio, Ahmed al-Sharaa, representou um ponto de mudança na política americana, encorajando Israel a engajar-se com Damasco.
- Mediação dos Emirados Árabes: Nos meses anteriores, conversas indiretas via Abu Dhabi prepararam o terreno para os primeiros contatos diretos.
- ONU e UNDOF: Podem formalizar e legitimar o processo, ampliando o escopo para monitoramento de cessar-fogo e assistência humanitária.
Análise de Especialistas
“É um marco diplomático: embora o foco seja puramente de segurança, mostra a emergência de pragmatismo em um teatro de guerra que já dura décadas”, afirma Dr. Mariana Haddad, do Instituto de Estudos Estratégicos do Oriente Médio.
Relatórios do International Crisis Group((Grupo Internacional de Crise)) indicam que mecanismos bilaterais de alerta pré-vio podem reduzir em até 60% incidentes fronteiriços não intencionais a médio prazo.
Desafios e Perspectivas
- Opinião Pública: A falta de transparência oficial mantém o diálogo restrito a círculos de segurança, gerando ceticismo em setores nacionalistas de ambos os países.
- Expansão Política: As fontes sugerem que, num segundo momento, as negociações poderão evoluir para temas como água, reconstrução civil e troca comercial.
- Riscos de Retrocesso: Qualquer incidente isolado — seja um ataque de facções drusas a grupos sunitas internos ou bombardeio não autorizado — pode suspender imediatamente as conversações.
Infográfico: Linha do Tempo dos Principais Marcos
Data | Evento |
---|---|
1967 | Guerra dos Seis Dias e ocupação das Colinas do Golã |
1974 | Acordo de Desengajamento e criação da zona tampão |
Dezembro/24 | Queda de Bashar al-Assad para o Hayat Tahrir al-Sham |
Março/25 | Ameaça israelense de intervenção em Jaramana (proteção drusa) |
Maio/25 | Negociações diretas de segurança entre Síria e Israel |
Conclusão
Os diálogos diretos de segurança entre Síria e Israel, embora ainda limitados a questões militares, representam um avanço sem precedentes desde 1967. Mesmo sem previsão de normalização política, criam um canal fundamental para gestão de crises e podem servir de base para acordos mais amplos, oferecendo à região uma rara janela de oportunidade para reduzir o ciclo de violência e reconstruir confiança mútua.
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