Indústria Solar da China Sobrecapacitada: Margens Esgotadas e Recuperação Longínqua

Campos de espelhos heliostatos refletindo luz solar no projeto de geração de energia solar térmica de torre de 100MW em Dunhuang, província de Gansu, China.
Campos de espelhos heliostatos refletem a luz do sol no projeto Dunhuang Shouhang de energia solar térmica de torre de 100MW, durante visita organizada ao Parque Industrial Fotovoltaico de Dunhuang, Gansu, China, 16 de outubro de 2024. Foto: REUTERS/Tingshu Wang.

Enfrentando perdas conjuntas de cerca de US$ 60 bilhões em 2024 e um excesso de capacidade que mais que dobra a demanda global, a indústria solar chinesa vive uma crise histórica. Entre tarifas de importação dos EUA, cortes de subsídios domésticos e uma guerra de preços que empurra custos abaixo dos pontos de equilíbrio, fabricantes como Trina Solar e GCL clamam por consolidação e restrição de novas instalações. No entanto, especialistas alertam que a combinação de investimentos desenfreados e falta de cortes reais de produção adia uma recuperação substancial para o fim de 2025, no mínimo.

Escalada de Sobrecapacidade e Queda de Preços

  • Capacidade versus Demanda: Em 2023, a China respondeu por cerca de 861 GW de capacidade de módulos fotovoltaicos, enquanto a demanda global foi de apenas 390 GW—um desequilíbrio que gera pressão deflacionária continental.
  • Recuo na Produção Global: A produção mundial de painéis recuou 7% em maio de 2025 e projeta nova queda de 4–5% em junho, sinalizando que o excesso produtivo permanece sem freios efetivos.
  • Cortes Autônomos: Para mitigar a pressão no segmento de Polisilício, empresas como Tongwei e Daqo New Energy reduziram produção já no final de 2024, mas especialistas afirmam que esses ajustes são insuficientes diante do problema estrutural.

Perdas Bilionárias e Risco de Falências

  • Risco de Insolvência: Pequenas e médias fabricantes enfrentam uma “faxina” iminente: o número de novos projetos de manufatura caiu mais de 75% no primeiro semestre de 2024, e várias empresas já sofreram pedidos de recuperação judicial.
  • Impacto Financeiro em 2025: Longi Green Energy registrou um prejuízo de ¥5,2 bi (≈ US$ 740 mi) no primeiro semestre, invertendo lucros de ¥9,3 bi no mesmo período de 2024. Tongwei, TCL Zhonghuan e outras gigantes também fecharam no vermelho, refletindo margens médias de EBITDA de apenas 4,7% em 2024, ante 12,4% no ano anterior.

Intervenção Governamental e Consolidação

  • Projetos de Quotas: Inspirados pela OPEP, fabricantes avaliam sistemas de cotas de produção para equilibrar oferta e demanda, mas ainda não há consenso nem mecanismo formalizado.
  • Proibição de Novas Linhas: Em fevereiro de 2025, a NDRC recomendou banir novas licenças de produção, mas fábricas continuaram a ser inauguradas nos meses seguintes.
  • Fusões e Aquisições: Zhu Gongshan (GCL) e Gao Jifan (Trina) defendem uma consolidação acelerada—já em curso com a compra da Jiangsu Runergy pela Tongwei—visando eliminar capacidade ociosa e racionalizar ativos.

Ajustes em Subsídios e Leilões de Energia

  • Inner Mongolia: A região anunciou que não garantirá preço mínimo a novos projetos de renováveis, sinalizando um provável “hiato” em licitações até que o mercado se ajuste.
  • Cortes de Subsídios: Em 2025, o governo reduziu subsídios a novos projetos solares, exigindo venda de energia via leilões abertos. Até agora, a maioria das províncias ainda não definiu suas regras de leilão, gerando incerteza e desaceleração de investimentos.

Diversificação de Mercados Externos

  • Foco em Soluções Integradas: A Trina projeta reduzir a manufatura para 50% do faturamento em até três anos, direcionando investimentos a soluções de armazenamento e sistemas fotovoltaicos integrados.
  • Expansão Além dos EUA: Em resposta às tarifas americanas, fabricantes buscam novas frentes de exportação. O Oriente Médio já recebe investimento crescente em fábricas de módulos, enquanto mercados em Leste Europeu e Sul da Ásia despontam como destinos alternativos.

Perspectivas para 2025 e Além

  • Fundo do Ciclo: Analistas do Morgan Stanley preveem que será necessário 6–12 meses de ajustes drásticos para estabilizar preços, condicionados à paralisação de grandes linhas de produção ou a uma redução significativa de custos unitários.
  • Previsão de Instalações: A Associação Chinesa de Indústria Fotovoltaica estima que a nova capacidade instalada em 2025 cairá entre 215 GW e 255 GW, uma retração de até 22,5% em relação aos 277 GW de 2024.
  • Recuperação Tardia: Com as “limpas” inevitáveis e um ambiente regulatório mais austero, o setor só deve vislumbrar uma recuperação robusta no final de 2025 ou até início de 2026, caso os cortes de capacidade e a consolidação se acelerem.

Conclusão

Em suma, o mercado solar chinês caminha por um cenário de ajuste doloroso, onde subsídios menores, leilões incertos e uma concorrência sem freios exigem decisões duras — desde a consolidação por fusões até a adaptação a novos mercados. A tão esperada retomada de margens dependerá, sobretudo, da capacidade dos atores em frear o excesso de oferta e instituir mecanismos de governança de produção suficientemente rígidos para extinguir o ciclo de custos abaixo dos patamares sustentáveis.

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