
Dois anos de conflito entre o Exército Sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF), iniciados em 15 de abril de 2023, deixaram o Sudão à beira do colapso estrutural. Pontes destruídas, apagões, estações de água inoperantes e hospitais saqueados são apenas alguns dos sinais visíveis de um país que vê sua infraestrutura implodir. As autoridades sudanesas estimam em US$ 1 trilhão o custo necessário para a reconstrução — US$ 300 bilhões apenas em Khartoum e US$ 700 bilhões no restante do território. A esse custo se soma o agravamento de uma crise humanitária que já deslocou mais de 12,3 milhões de pessoas internamente e outras 3,5 milhões que fugiram para países vizinhos.
Colapso dos Serviços Essenciais
Energia Elétrica
Todas as usinas de geração em Khartoum foram destruídas por bombardeios e sabotagens; drones continuam a atacar subestações. A companhia elétrica nacional tenta importar energia do Egito, mas sofre com repetidos ataques e restrições orçamentárias.
Abastecimento de Água
As duas estações principais de tratamento em Khartoum foram desativadas após saques de equipamentos, obrigando moradores a recorrer ao rio Nilo ou a poços contaminados. Em abril de 2025, uma rápida epidemia de cólera registrou 2.729 casos e 172 mortes em apenas uma semana, principalmente na capital.
Saúde e Educação
O sistema de saúde acumula perdas estimadas em US$ 11 bilhões, segundo o Ministério da Saúde. Hospitais foram bombardeados, equipamentos destruídos e 70% das unidades fora de operação, segundo a União dos Médicos do Sudão. Escolas transformaram-se em abrigos improvisados, deixando milhões de crianças sem aula.
Impacto Econômico e Petróleo
Queda na Produção
A produção diária de petróleo caiu de 54 mil para 24 mil barris, e a principal refinaria em al-Jaili sofreu US$ 3 bilhões em danos, paralisando a capacidade de refino. Hoje, o Sudão exporta todo o crude bruto e importa derivados, encarecendo combustíveis e impactando transportes e agricultura.
Desvalorização da Libra
O colapso produtivo e a insegurança promoveram forte desvalorização da moeda local, elevando a inflação e reduzindo a compra de insumos básicos. Exportações de algodão e gergelim estão quase estagnadas devido a bloqueios em rotas terrestres e portos.
Desafios para a Reconstrução
Financiamento e Doadores
Cortes no orçamento da principal doadora, os EUA, e crescente aversão internacional a zonas de conflito freiam a liberação de fundos. Muitos países condicionam ajuda a um cessar-fogo duradouro.
Segurança de Obras
Com combates ainda ativos e ataques de drones a depósitos de combustível e estruturas civis, qualquer projeto de larga escala está seriamente comprometido.
Intervenções Pontuais
A ONU e ONGs propõem ações de pequena escala — bombas solares em poços, reparo de clínicas locais e micro‑subestações elétricas — para aliviar crises humanitárias imediatas e testar modelos de recuperação descentralizada.
Perspectivas e Oportunidades
- Descentralização de Serviços: transferir tratamento de água, saúde e educação para centros regionais, reduzindo a pressão sobre Khartoum.
- Energia Renovável: implementar micro‑redes solares e eólicas para mitigar riscos de novos ataques e promover fontes limpas.
- Engajamento Comunitário: envolver lideranças locais na gestão de projetos, garantindo segurança e adequação às prioridades de cada região.
Conclusão
O Sudão enfrenta sua pior crise em décadas, com infraestrutura em ruínas e populações deslocadas. A reconstrução de US$ 1 trilhão dependerá de cessar‑fogo estável, garantias de segurança e cooperação internacional. Até lá, soluções de pequeno porte em energia, água e saúde podem salvar vidas e preparar o terreno para um futuro mais resiliente e sustentável.
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