
Pelo menos sete pessoas, incluindo uma criança de nove meses, foram mortas e 20 ficaram feridas no ataque aéreo que destruiu o único hospital em funcionamento em Old Fangak, condado de Fangak, no norte do Sudão do Sul, informou a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF). A ofensiva consiste em dois bombardeios: o primeiro atingiu a farmácia do hospital por volta das 4h30 (02h30 GMT), reduzindo estoques de medicamentos a cinzas; o segundo, por volta das 7h, alvejou o mercado local, espalhando pânico e destruição.
Violação clara do direito internacional
Em comunicado, a MSF qualificou o ataque como “uma violação clara do direito internacional humanitário”, já que suas coordenadas foram previamente compartilhadas com todas as partes em conflito. Mamman Mustapha, chefe da missão da MSF em Juba, relatou que “pacientes e cuidadores, inclusive um de nossos funcionários, foram feridos enquanto buscavam abrigo” e que “a destruição da farmácia compromete severamente nossa capacidade de prestar cuidados à população de mais de 110 mil pessoas na região”.
Deslocamento em massa e crise humanitária
Autoridades locais estimam que mais de 30 mil civis fugiram de Old Fangak em embarcações e a pé, agravando a crise humanitária em meio a enchentes sazonais que já deixaram milhares sem moradia. A destruição do hospital—última fonte de atendimento médico para doentes, feridos e grávidas—deixa a população sem acesso a tratamentos de emergência, aumentando o risco de mortandade por doenças evitáveis e complicações de ferimentos.
Contexto político e militar
O ataque ocorre num momento de escalada no confronto entre forças leais ao presidente Salva Kiir (étnia dinka) e tropas alinhadas ao ex-vice‑presidente Riek Machar (étnia nuer), atualmente sob prisão domiciliar por suspeita de incitação à rebelião. Desde março, bombardeios conduzidos por helicópteros do Exército, com apoio de soldados ugandenses, visam áreas controladas pelo SPLM‑IO, partido de oposição de Machar. Old Fangak é reduto histórico do SPLM‑IO, o que leva autoridades locais a apontarem o governo como responsável pelos ataques.
Reações internacionais
- MSF: “Parem o bombardeio. Protejam civis e instalações de saúde”, exigiu a ONG em suas redes sociais, ressaltando que o hospital atendia deslocados por conflitos e enchentes.
- ONU: Alertou que o país “flerta com uma nova guerra civil” e pediu investigação imediata para responsabilizar os autores do ataque.
- Embaixadas Ocidentais: EUA e parceiros europeus condenaram a violência e cobraram a libertação de Machar, além de um retorno urgente ao diálogo político para restaurar o acordo de paz de 2018, cujas brechas atuais ameaçam a estabilidade nacional.
Possíveis desdobramentos
- Escalada do conflito: Sem um mediador neutro, as hostilidades podem se expandir para outras regiões, reacendendo combates étnicos que ceifaram 400 mil vidas entre 2013 e 2018.
- Colapso dos serviços básicos: A interrupção do atendimento médico e a falta de suprimentos intensificam riscos de epidemias e mortalidade infantil.
- Pressão por intervenção: A comunidade internacional pode aumentar sanções ou autorizar força de manutenção de paz para proteger civis e garantir corredores humanitários.
Conclusão
O ataque ao hospital da MSF em Old Fangak é mais do que uma tragédia humanitária — é um reflexo da crescente fragilidade do Sudão do Sul, que, após uma década de independência, ainda luta para encontrar estabilidade política e social. A destruição de um dos poucos centros de saúde no país, especialmente em uma região já marcada por anos de conflito, mostra o quão vulneráveis se tornam os civis e as infraestruturas essenciais em tempos de guerra. Com a ameaça de uma nova guerra civil e a crescente pressão internacional, o Sudão do Sul enfrenta um momento crítico, no qual a restauração da paz e da segurança parece distante.
O ataque, que mata e fere dezenas de pessoas, sublinha a urgência de um compromisso renovado com o diálogo e a reconciliação entre as facções em disputa, sendo fundamental para evitar uma escalada maior da violência. A comunidade internacional, particularmente a ONU e as potências ocidentais, deve intensificar seus esforços para mediar a paz e garantir que os responsáveis por ataques a civis e instalações humanitárias sejam responsabilizados.
À medida que o Sudão do Sul enfrenta esse momento de crise, a necessidade de um esforço coletivo para garantir a proteção dos mais vulneráveis e restaurar a estabilidade no país nunca foi tão grande. O futuro do Sudão do Sul depende de uma abordagem coordenada que priorize o bem-estar dos civis e o retorno à paz, elementos essenciais para que o país possa finalmente superar os ciclos de violência que marcaram sua história recente.
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