Forças de Apoio Rápido do Sudão assinam carta para formar governo rival em meio a acusações de genocídio

Combatentes sudaneses do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF) [Arquivo: Hussein Malla/AP]
Membros das Forças de Apoio Rápido (RSF) do Sudão durante operações militares.[Arquivo: Hussein Malla/AP]

As Forças de Apoio Rápido (RSF) do Sudão, uma milícia paramilitar acusada de crimes contra a humanidade e genocídio, assinaram uma carta com grupos políticos e armados aliados para estabelecer um governo paralelo. O documento, que defende um governo de “paz e unidade”, foi assinado a portas fechadas em Nairóbi, capital do Quênia, sem uma data confirmada para sua oficialização.

A iniciativa ocorre em meio a avanços do Exército Sudanês contra a RSF em Cartum e outras regiões. No entanto, é improvável que a nova administração rival receba reconhecimento internacional, especialmente devido às graves acusações de violações de direitos humanos contra a RSF.

Sudão em risco de fragmentação

O conflito entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e a RSF, que já dura 20 meses, teve início após um impasse sobre a integração da milícia ao Exército nacional. Desde então, o país enfrenta uma guerra devastadora que já deixou mais de 20 mil mortos e forçou 14 milhões de pessoas a abandonarem suas casas, segundo dados das Nações Unidas.

A carta assinada pelas RSF e seus aliados propõe um Sudão secular, democrático e descentralizado, mantendo a existência de grupos armados independentes. O documento também critica o governo sediado em Porto Sudão, alinhado ao Exército, por supostamente fracassar em trazer a paz ao país.

Entre os signatários do acordo está Abdelaziz al-Hilu, líder do Movimento de Libertação do Povo do Sudão-Norte (SPLM-N), que controla vastas áreas do estado de Cordofão do Sul e defende o secularismo no Sudão. Também assinou a carta Abdel Rahim Dagalo, irmão e vice-líder da RSF, enquanto o comandante da milícia, Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo, esteve ausente.

Reação internacional e avanos do Exército

O governo sudanês alinhado ao Exército rejeitou a legitimidade do novo governo paralelo. “Não aceitaremos que nenhum país reconheça um governo rival”, declarou o ministro das Relações Exteriores do Sudão, Ali Youssef.

As Nações Unidas também manifestaram preocupação. Um porta-voz do secretário-geral, Antonio Guterres, alertou que a decisão poderia “aumentar a fragmentação do país e piorar ainda mais a crise”.

Enquanto isso, o Exército sudanês afirmou ter retomado a cidade de El-Gitaina, no centro do país, após destruir unidades da RSF. As forças armadas também abriram caminho para a cidade de El-Obeid, uma importante estratégia na luta contra os paramilitares.

Crise humanitária sem precedentes

O conflito entre RSF e Exército transformou o Sudão em um cenário de catástrofe humanitária. Além dos milhões de deslocados internos, 3,2 milhões de sudaneses fugiram para países vizinhos. A ONU alerta para uma fome iminente em várias regiões, agravando ainda mais a crise.

A milícia RSF tem sido alvo de sanções internacionais, incluindo penalidades impostas pelos Estados Unidos contra Hemedti no início deste ano. O líder paramilitar anteriormente compartilhava o poder com o Exército e políticos civis após a queda do ditador Omar al-Bashir em 2019. No entanto, os dois grupos derrubaram os civis em um golpe de Estado em 2021, antes de iniciarem o conflito armado.

O futuro do Sudão

A assinatura da carta pela RSF marca um novo capítulo no conflito sudanês, aprofundando a divisão no país. Com um governo rival sendo formado, a guerra pode se intensificar ainda mais, deixando a população civil em situação cada vez mais crítica.

Resta saber se a comunidade internacional intervirá para evitar o aprofundamento da crise ou se o Sudão se encaminhará para uma fragmentação irreversível.

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