Suprema Corte dos EUA bloqueia deportações de venezuelanos sob lei de guerra

Imagem do ICE Bluebonnet Detention Facility em Anson, Texas, mostrando o centro de detenção administrado pelo U.S. Immigration and Customs Enforcement.
ICE Bluebonnet Detention Facility, localizado em Anson, Texas, onde migrantes detidos, incluindo venezuelanos, foram mantidos sob custódia antes das tentativas de deportação. Foto de Charles Reed/U.S. Immigration and Customs Enforcement, fornecida via REUTERS.

No dia 19 de abril de 2025, a Suprema Corte dos Estados Unidos emitiu uma ordem emergencial proibindo temporariamente que a administração Trump prosseguisse com a deportação de um grupo de migrantes venezuelanos acusados de participação na gangue Tren de Aragua, com base na Lei dos Inimigos Estrangeiros raramente utilizada de 1798. A decisão, tomada de forma não assinada, determinou:

¨O governo é orientado a não remover nenhum membro da suposta classe de detentos dos Estados Unidos até nova ordem deste Tribunal.”

Contexto e fundamentação legal

Em 7 de abril de 2025, o próprio Supremo Tribunal havia autorizado, por voto de 5 a 4, o uso da Alien Enemies Act, mas condicionou a prática à concessão de notificação prévia e oportunidade de buscar habeas corpus antes da remoção. Segundo a decisão:

“A notificação deve ser feita dentro de um prazo razoável e de forma a permitir que eles realmente busquem o habeas no local adequado antes que a remoção ocorra.”

Os advogados da (União Americana de Liberdades Civis) (ACLU), em petição de caráter emergencial ao Tribunal, afirmaram que “os detentos enfrentavam deportação iminente sem a revisão judicial que os próprios ministros haviam ordenado”.

Precedentes Históricos

A Lei dos Inimigos Estrangeiros de 1798 foi invocada apenas em episódios de guerra formal:

  • Guerra de 1812: detenção e expulsão de súditos britânicos.
  • Primeira Guerra Mundial: restrições e confinamento de alemães e austríacos nos EUA.
  • Segunda Guerra Mundial: internação de cidadãos e não‑cidadãos de ascendência japonesa, alemã e italiana — culminando nos infames campos de internamento de japoneses‑americanos.

“Historicamente, a lei foi usada durante a Guerra de 1812, Primeira e Segunda Guerras Mundiais, notadamente por Wilson e Roosevelt para endurecer medidas contra cidadãos de nações inimigas.”

Desdobramentos do caso

A medida de urgência foi concedida após relatos de que alguns dos homens já estavam sendo conduzidos a ônibus rumo à deportação, sem chance de contestar sua condição de supostos membros da gangue. Mais de 200 venezuelanos e salvadorenhos já haviam sido removidos ao Centro de confinamento de terrorismo(CECOT), em El Salvador, sem a devida análise individual dos casos.

Reações e críticas

Lee Gelernt, advogado‑chefe da ACLU, declarou:

“Esses homens corriam o risco iminente de passar o resto da vida em uma prisão estrangeira horrível sem nunca terem tido chance de ir ao tribunal. Estamos aliviados que a Suprema Corte não permitiu que eles fossem levados sem a devida revisão.”
Organizações de direitos humanos alertaram para a falta de acesso à representação jurídica e ao habeas corpus, lembrando abusos do passado.

O habeas corpus é um direito fundamental que permite a uma pessoa detida questionar a legalidade de sua prisão. Através desse recurso, é possível contestar uma detenção ilegal ou injusta, garantindo que a pessoa tenha a oportunidade de ser ouvida por um tribunal. Nos Estados Unidos, esse direito é considerado uma proteção essencial contra prisões arbitrárias.

Implicações constitucionais e políticas

O caso pressiona o Equilíbrio de Poderes nos EUA: dois juízes conservadores (Thomas e Alito) discordaram abertamente da suspensão, enquanto especialistas advertiam sobre o risco de uma crise caso o Executivo desrespeite a decisão.

Conclusão

Ao reforçar a necessidade de notificação razoável e oportunidade real de contestação, a Suprema Corte reafirma o caráter fundamental do habeas corpus, mesmo em circunstâncias extraordinárias. As próximas movimentações, incluindo a resposta do Governo e decisões do 5º Circuito, definirão os limites do uso da Lei dos Inimigos Estrangeiros e seu impacto nas políticas de imigração.

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