Crise Política na Tailândia: Tensões Fronteiriças com o Camboja e Reformulação Ministerial de Paetongtarn Shinawatra

Primeira-ministra tailandesa Paetongtarn Shinawatra reunida com membros da Força-Tarefa Suranaree na base Morakot, Ubon Ratchathani, após vazamento de ligação com ex-PM cambojano Hun Sen durante disputa de fronteira.
Paetongtarn Shinawatra em encontro com a Força-Tarefa Suranaree na base Morakot, Ubon Ratchathani, para tratar da tensão fronteiriça com o Camboja./ Reuters

Nas últimas semanas, o governo da Primeira-Ministra Paetongtarn Shinawatra enfrenta grave instabilidade política em meio a um impasse fronteiriço com o Camboja. A divulgação de uma gravação de uma ligação telefônica com o ex-líder cambojano Hun Sen desencadeou a saída do Partido Bhumjaithai da coalizão, sanções comerciais mútuas e a mobilização de protestos de rua. Em paralelo, Paetongtarn conduz uma ampla reformulação ministerial (cabinet reshuffle) para tentar recuperar sua maioria parlamentar, enquanto investigações judiciais e pressões militares pairam sobre seu governo.

Origens do Conflito Fronteiriço

O litígio territorial entre Tailândia e Camboja remonta ao século XX, envolvendo templos e áreas de fronteira cuja demarcação foi historicamente imprecisa. Em maio de 2025, choques entre militares de ambos os lados resultaram na morte de um soldado cambojano. O caso foi levado ao Tribunal Internacional de Justiça, mas esforços diplomáticos deram lugar a uma escalada de retaliações, com Phnom Penh suspendendo importações de combustíveis e gás tailandeses a partir de 23 de junho de 2025.

A Gravação e a Reação Política

No dia 18 de junho de 2025, circulou um trecho de uma conversa privada em que a premiê elogiava Hun Sen de forma considerada excessiva e criticava um comandante militar tailandês. A repercussão foi imediata:

  • Bhumjaithai Party anunciou sua saída da coalizão, desestabilizando a maioria governista.
  • Camboja, liderada agora por Hun Manet, filho de Hun Sen, barrou combustíveis e gás tailandeses, buscando diversificar suas importações.
  • Tailândia transferiu o controle de postos de fronteira ao Exército, endurecendo restrições de acesso.

Reformulação Ministerial e Ações de Coesão

Para recompor sua base, Paetongtarn iniciou nesta semana uma redistribuição de pastas vacantes, realocando ministérios antes ocupados pelo Bhumjaithai. Em um gesto de aproximação aos militares e para reforçar a segurança nacional, nomeou um oficial de alta patente para chefiar o Ministério da Defesa — a primeira indicação desse tipo desde o início de seu mandato. O vice-primeiro-ministro Phumtham Wechayachai declarou:

“Estou 100% confiante de que avançaremos com força após a conclusão da recomposição do gabinete”.

Além disso, o secretário-geral do Pheu Thai afirmou que nenhum dos demais partidos da coalizão pretende abandonar o governo.

Impactos Econômicos

Em 2024, o Camboja foi o 11º maior parceiro comercial da Tailândia, com US$ 10,4 bilhões em trocas bilaterais, concentradas em pedras preciosas, joias e combustíveis. A suspensão dos fluxos de gás ameaça elevar custos de energia no Camboja e pode provocar escassez em áreas do leste tailandês. Além disso, mais de 500 mil trabalhadores cambojanos atuam na Tailândia, cujas remunerações são vitais para economias locais nos dois lados da fronteira.

Pressões Judiciais e Populares

Paralelamente ao reshuffle, um grupo de senadores apresentou ao Tribunal Constitucional e ao órgão anticorrupção pedidos de investigação contra Paetongtarn, alegando que seu comportamento violou princípios de dignidade do cargo. Nas ruas, movimentos se organizam para iniciar, em sábado, 28 de junho de 2025, protestos em massa exigindo a renúncia da premiê.

Cenários Futuros

  1. Coalizão Reforçada: Com o reshuffle bem-sucedido e adesões pontuais, Paetongtarn mantém maioria mínima até novas eleições.
  2. Queda Judicial: O Tribunal Constitucional decide pela suspensão ou inelegibilidade da primeira-ministra, pressionando-a a deixar o cargo.
  3. Intervenção Militar: Apesar de descartado, um golpe não pode ser completamente descartado, dada a histórica atuação das Forças Armadas na política nacional.

Conclusão

A combinação de tensões fronteiriças, disputas internas de poder e legados familiares confere caráter volátil ao atual governo tailandês. A eficácia do cabinet reshuffle, as decisões judiciais e a resposta popular determinarão se Paetongtarn Shinawatra conseguirá estabilizar sua administração ou se o país será precipitado em nova fase de transição política e diplomática.

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