Turbulência Política na Tailândia: Suspensão da Primeira‑Ministra Paetongtarn Shinawatra Abala o Governo

Primeira-ministra da Tailândia, Paetongtarn Shinawatra, deixando reunião do gabinete antes da decisão do Tribunal Constitucional.
Paetongtarn Shinawatra sai de reunião do gabinete antes de julgamento sobre acusações de desonestidade./ Reuters

Em 1º de julho de 2025, a Primeira‑Ministra Paetongtarn Shinawatra, de 38 anos, foi suspensa de suas funções pelo Tribunal Constitucional da Tailândia, que aceitou uma petição de 36 senadores por suposta desonestidade e quebra de padrões éticos. A controvérsia gira em torno do vazamento de uma ligação de 15 de junho com Hun Sen, ex‑líder do Camboja, na qual Paetongtarn se mostrou excessivamente deferente e fez críticas a um comandante militar tailandês, provocando ampla indignação pública e protestos em Bangkok.

Processo de Suspensão

O Tribunal Constitucional, composto por nove juízes, votou por 7 a 2 a favor da suspensão cautelar de Paetongtarn, determinando que ela não exerça o cargo de primeira‑ministra enquanto prepara sua defesa, com prazo de 15 dias para responder às acusações. Durante esse período, o Vice‑Primeiro‑Ministro Suriya Jungrungruangkit exercerá as funções de chefe de governo interino, e Paetongtarn manterá assento no gabinete como Ministra da Cultura, posição que ela mesma se atribuiu em recente reforma ministerial. Segundo a Reuters, ela poderá voltar a participar de reuniões do Conselho de Ministros já a partir de 3 de julho.

Repercussões Políticas

A coligação de Paetongtarn já contava com maioria apertada no Parlamento. Após o vazamento, um grande partido aliado abandonou a base governista, acusando‑a de minar a soberania nacional. Grupos de oposição e movimentos de rua convocaram protestos diários, com manifestantes exigindo sua renúncia ou a realização de novas eleições. Além disso, o Comitê Nacional de Combate à Corrupção (NACC) abriu investigação paralela, que pode levar a um processo no Supremo Tribunal e eventual inelegibilidade política.

Impacto Econômico e Social

Logo após o anúncio, o índice da Bolsa de Valores da Tailândia (SET) subiu 1,8% em meio à expectativa de novos cortes na taxa de juros pelo Banco Central, como estímulo à economia estagnada. Analistas advertem, porém, que a incerteza política afeta o ânimo de investidores estrangeiros e consumidores, atrasando projetos de infraestrutura e enfraquecendo o turismo — setor vital para o crescimento do país.

A Herança e Desafios Pessoais

Paetongtarn é o quarto membro da dinastia Shinawatra a chegar ao cargo de primeira‑ministra, após seu pai Thaksin (2001–2006), sua irmã Yingluck (2011–2014) e o breve governo de Srettha Thavisin (2023–2024), todos derrubados por cortes ou golpes militares. Sua rápida ascensão, aos 37 anos em agosto de 2024, foi seguida por desafios para reavivar o crescimento econômico e recuperar popularidade, que despencou para cerca de 9% em junho.

Batalhas Judiciais de Thaksin

Paralelamente, Thaksin Shinawatra, 75 anos, enfrenta uma ação criminal por difamar a monarquia — crime grave na Tailândia — proveniente de entrevista de 2015. Ele nega as acusações e aguarda, ainda neste mês, decisão do Supremo Tribunal sobre as condições que o mantiveram em prisão domiciliar hospitalar, cujo desfecho pode levá‑lo de volta à cadeia.

Perspectivas e Riscos para a Tailândia

A crise reforça o conflito crônico entre o populismo civil representado pelos Shinawatra e o poder paralelo do establishment militar e judiciário. Caso Paetongtarn seja condenada, poderá ficar inelegível e ser substituída por um governo de transição mais alinhado às forças conservadoras, o que provavelmente acirraria tensões sociais e políticas. A maneira como o Tribunal Constitucional e o Parlamento lidarem com as próximas semanas poderá determinar a estabilidade democrática e econômica do país pelos próximos anos.

Conclusão

A suspensão cautelar de Paetongtarn Shinawatra pelo Tribunal Constitucional acentua o histórico embate entre a dynastia Shinawatra e o establishment militar-judiciário da Tailândia, indicando que o país segue preso num ciclo de instabilidade institucional. Se, por um lado, a família Shinawatra busca consolidar um projeto político-populista voltado à retomada do crescimento e ao apoio das regiões rurais, por outro, as forças conservadoras demonstram que estão dispostas a intervir sempre que percebem riscos à sua influência. Nas próximas semanas, será decisivo observar se o tribunal mantém a decisão de fundo contra a primeira‑ministra, potencialmente levando a uma nova configuração de poder, ou se Paetongtarn consegue reverter as acusações e reassumir plenamente o cargo. Em qualquer cenário, a forma como esse processo se desenrolar refletirá diretamente sobre a qualidade da democracia tailandesa, a confiança dos investidores e o rumo econômico de um país que, apesar das crises recorrentes, continua a buscar estabilidade e crescimento.







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