
No próximo dia 20 de maio, Taiwan completa um ano desde a posse do presidente Lai Ching‑te, data que poderá ser mais um marco para manobras militares chinesas. Em entrevista coletiva, o vice‑chefe do Conselho de Assuntos de Mainland (MAC), Liang Wen‑chieh, declarou que não se pode descartar a realização de novos exercícios por parte de Pequim, com o objetivo de “agitar” a região e reforçar sua propaganda política.
Padrão de Ameaças e Retaliações
Desde que Lai assumiu o cargo em 20 de maio de 2024, a China vem intensificando suas patrulhas de prontidão bélica, conhecidas como “joint combat readiness patrols”, que envolvem aviação e frotas navais em deslocamentos estratégicos ao redor da ilha. Segundo o Ministério da Defesa de Taipei, somente no último domingo foram registrados 131 aeronaves e 32 navios de guerra chineses em operações na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) taiwanesa.
“Não desejamos que essa situação persista, mas estamos preparados caso o Partido Comunista Chinês decida usar nosso aniversário para mais manobras”, afirmou Liang Wen‑chieh.
Em maio de 2024, Pequim promoveu os exercícios “Joint Sword‑2024A” e, em outubro, “Joint Sword‑2024B”. No mês passado, a série “Strait Thunder‑2025A” reacendeu preocupações, pois o sufixo “A” indica possibilidade de continuidade.
Contexto Político e Diplomático
O governo de Xi Jinping classifica Lai Ching‑te como “separatista”, rejeitando qualquer diálogo e acusando-o de minar a “paz e estabilidade” no Estreito de Taiwan. Em resposta, Lai insiste que somente o povo de Taiwan pode decidir o futuro da ilha, reafirmando a posição democrática e soberana de seu governo.
Apesar das repetidas ofertas de negociação feita por Lai, Pequim não apresentou contrapropostas, mantendo-se inflexível. Consequentemente, as tensões diplomáticas voltaram-se a acirrar, especialmente após declarações conjuntas de aliados como os Estados Unidos, que reforçam seu compromisso de defesa e suporte a Taipei.
Repercussões Regionais e Internacionais
A escalada de manobras chinesas diante de eventos simbólicos taiwaneses é vista pelos analistas como uma forma de “gesto de força”, tanto para a comunidade doméstica na China quanto para o cenário internacional. “São exercícios que buscam intimidar e enviar uma mensagem clara: interferência em Taiwan terá custos elevados”, explica Chen Yu‑ming, especialista em segurança no Instituto de Estudos Marítimos de Xangai.
Para Washington, a manutenção da política de ambiguidade estratégica – que equilibra apoio a Taiwan sem provocar um confronto direto com Pequim – segue como pilar. O Ato de Relações com Taiwan dos EUA prevê fornecimento de armamentos defensivos, e recentes aprovações de vendas militares reforçam o arsenal de Taipei.
Impacto na Sociedade Taiwanaesa
No plano interno, a intensificação das manobras gera crescente preocupação entre a população. Pesquisas recentes do Centro de Estudos Políticos de Taipei indicam que 68% dos cidadãos se sentem mais inseguros diante das ameaças, embora ainda assim 54% apoiem o diálogo com Pequim, desde que respeitados os princípios democráticos.
Diversas organizações civis promovem exercícios de treinamento comunitário para situações de emergência, enquanto o governo investe em resiliência cibernética e modernização das Forças Armadas, incluindo reforço na compra de sistemas antiaéreos e patrulhas navais de vigilância costeira.
Expectativas para o Aniversário
Embora o gabinete presidencial taiwanês ainda não tenha divulgado oficialmente como Lai Ching‑te pretende celebrar seu primeiro ano de mandato, especula‑se que o presidente destaque seu compromisso com a autonomia democrática e as reformas sociais implementadas, como o avanço em políticas de energia renovável e proteção ambiental.
Na esfera internacional, representantes de aliados tradicionais devem reiterar apoio à estabilidade regional, em eventos paralelos organizados pelo Ministério das Relações Exteriores de Taiwan.
Conclusão
O aniversário de um ano da administração Lai Ching‑te ocorre em um cenário de múltiplos desafios: pressão militar chinesa, complexidade diplomática global e crescente demanda interna por segurança e prosperidade. Se por um lado essas manobras militares podem aumentar o nível de tensão, por outro reforçam a determinação de Taipei em defender sua soberania e reforçar laços com parceiros internacionais.
“Esperamos que, após 20 de maio, o Partido Comunista opte pelo diálogo em vez do atrito”, concluiu Liang Wen‑chieh.
Com isso, o próximo dia 20 será um termômetro para as relações entre Pequim e Taipei, definindo se a diplomacia terá espaço para avançar ou se a retórica bélica continuará a dominar a agenda do Estreito de Taiwan.
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