
Em 28 de maio de 2025, ao comemorar o segundo aniversário de sua posse, o presidente Bola Tinubu reiterou que suas reformas econômicas colocaram a Nigéria “no caminho da estabilidade”. Apesar dos ganhos fiscais e de um crescimento econômico moderado, inflação persistente e uma crise de segurança continuam a pressionar o cotidiano dos nigerianos.
Panorama histórico e comparação regional
Historicamente, a Nigéria passou de taxas de inflação em torno de 10 %–12 % (2010–2015) para picos de 22,7 % em 2023. Em abril de 2025, a inflação cedeu ligeiramente para 23,7 %, abaixo dos 24,2 % de março, mas ainda bem acima das médias de outras grandes economias africanas:
- África do Sul: 4,4 %
- Egito: 13,9 %
- Quênia: 6,2 %
Enquanto essas nações mantêm políticas monetárias relativamente estáveis e cadeias de abastecimento menos dependentes de combustíveis subsidiados, a Nigéria enfrenta o desafio de incorporar seus choques de preços num contexto de transição abrupta.
Impacto social e setorial
- Agricultura: o custo do fertilizante subiu cerca de 40 % e do diesel agrícola 35 %. Fazendeiros em Kaduna, por exemplo, reduziram em 30 % o plantio de milho por inviabilidade econômica.
- Transporte: em Lagos, o preço dos serviços de táxi por aplicativo aumentou até 50 %, levando motoristas a repassar maiores tarifas aos passageiros.
- Indústria: a manufatura contraiu 2 % em 2024, pressionada pelo alto custo de energia e pela volatilidade cambial, segundo a Associação de Fabricantes.
Esses aumentos atingem diretamente o poder de compra das famílias, aprofundando desigualdades regionais e setoriais.
As principais reformas e seus efeitos
- Desvalorização da naira
- Objetivo: unificar o câmbio oficial e paralelo, atrair investimentos e recompor reservas, que, hoje, giram em torno de US$ 38 bi.
- Efeito: tornou importados — especialmente alimentos e insumos industriais — mais caros, alimentando a inflação.
- Fim dos subsídios
- Combustíveis e eletricidade respondiam por cerca de 2,3 % do PIB em subsídios.
- Resultado fiscal: déficit caiu de 5,4 % do PIB (2023) para 3,0 % (2024).
- Contraponto social: repasse imediato ao consumidor elevou o custo de vida.
- Alternativas não adotadas
- Propostas de vouchers condicionais para famílias vulneráveis esbarraram em receios de fraudes e gargalos logísticos.
- Modelos de desmonte gradual dos subsídios foram pré-aprovados por especialistas, mas considerados lentos demais para conter o risco de default.
Segurança: avanços limitados e desafios profundos
Apesar de declarações oficiais sobre redução da bandidagem no noroeste e retomada de atividades agrícolas, a realidade é outra:
- Mais de 10 200 pessoas foram mortas em ataques de grupos armados desde 2023.
- Boko Haram (Nordeste) segue realizando incursões, enquanto facções de banditismo (Noroeste) protagonizam sequestros em massa.
- Missões militares conjuntas trouxeram queda de 23 % nas emboscadas, mas faltam forças de segurança em áreas rurais remotas.
As raízes desse quadro incluem pobreza extrema, desemprego acima de 30 % em alguns estados, corrupção em verbas de segurança e tensões étnico-religiosas, especialmente entre pastores e agricultores.
Perspectivas políticas para 2027
O All Progressives Congress (APC) já confirmou Tinubu como candidato à reeleição em 2027. No campo opositor despontam figuras como Atiku Abubakar (PDP) e Rotimi Amaechi. Os principais vetores de disputa serão:
- Economia: inflação e desemprego continuarão no topo das preocupações do eleitorado.
- Segurança: medidas eficazes de proteção poderão definir votos em regiões mais afetadas pela violência.
- Riscos: protestos urbanos por custo de vida podem escalar, exigindo respostas que evitem abusos e restrições à liberdade.
Visão de organismos internacionais e especialistas
- FMI: projeta inflação média de 22,1 % em 2025, elogiando o foco do Banco Central em conter a expansão da base monetária.
- Banco Mundial: espera crescimento de 3,6 % em 2025 e recomenda investimento em infraestrutura rural e redes de proteção social.
- AfDB: estima inflação de 24,7 % em 2025, recuando para 17,3 % em 2026, e aconselha reforço de parcerias público-privadas em energia.
- Economistas locais: Akin Iwayemi (Universidade de Ibadan) alerta para a necessidade de reforma tributária e combate à evasão, sem os quais os ganhos fiscais podem se revelar temporários.
Conclusão
As medidas de choque de Tinubu produziram resultados fiscais e algum dinamismo econômico — com o quarto trimestre de 2024 registrando 4,6 % de expansão —, mas a vida real do nigeriano ainda sofre com altos preços, serviços caros e violência persistente. O grande teste para o governo será equilibrar disciplina macroeconômica com proteção social, fortalecer as instituições de segurança e promover um diálogo político genuíno, de modo que a promessa de “estabilidade” se traduza em melhorias concretas na rotina da população.
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