Netanyahu vê ataque em Washington como reflexo da hostilidade contra Israel

Primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu fala durante coletiva de imprensa em Jerusalém, em 21 de maio de 2025.
Benjamin Netanyahu durante coletiva em Jerusalém, 21 de maio de 2025. REUTERS/Ronen Zvulun/Pool

Em 21 de maio de 2025, o Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reagiu com veemência ao tiroteio que vitimou dois funcionários da embaixada israelense durante um evento judaico em Washington. Para Netanyahu, o episódio não se trata de um caso isolado, mas sim de uma manifestação do antissemitismo que se intensificou desde o ataque da organização Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023.

O episódio em Washington

Segundo a polícia de Washington, o suspeito, preso logo após o ataque, proferiu slogans pró-Palestina antes de disparar contra Yaron Lischinsky, pesquisador da embaixada, e Sarah Milgrim, assistente administrativa. Em resposta, o Departamento de Justiça dos EUA apresentou acusações federais de crime de ódio contra o suspeito, enquanto o Secretário de Estado Antony Blinken condenou o ataque e alertou para o crescimento do antissemitismo no país.

O governo israelense classificou o tiroteio como “um ato repulsivo de ódio, de antissemitismo” e afirmou que “as calúnias de sangue contra Israel têm um custo em sangue e devem ser combatidas com todas as forças”, declarou Netanyahu.

Conexão com o clima global em torno de Gaza

Desde que a ofensiva israelense em Gaza começou, provocando mais de 53.000 mortos e devastando a Faixa de Gaza, manifestações contra Israel proliferaram em campus universitários, cortes judiciais e espaços culturais ao redor do mundo. Em abril de 2025, a União Europeia sinalizou revisão do acordo de cooperação com Israel devido à “situação catastrófica” em Gaza, enquanto Reino Unido, França e Canadá ameaçaram “ações concretas” caso as operações não cessassem.

Organizações de direitos humanos e ONGs têm registrado um aumento preocupante no antissemitismo global:

  • Estados Unidos: em 2024 foram contabilizados 9.354 incidentes antissemitas (assédio, vandalismo e agressão), um aumento de 5% em relação a 2023 — o maior volume em 46 anos de monitoramento pela Anti-Defamation League.
  • França: foram registrados 1.570 casos em 2024, ante 1.676 em 2023, representando um leve recuo, mas mantendo-se em patamares historicamente altos.
  • Brasil: a comunidade judaica local relatou aumento de quase 10 vezes nos incidentes antissemitas em outubro de 2023, comparado ao mesmo mês do ano anterior.

Dados sobre protestos pró-Palestina em universidades

Levantamento de instituições norte-americanas mostra que, desde 7 de outubro de 2023:

  • Ocorreram mais de 3.700 dias de protestos pró-Palestina em 525 instituições (incluindo colégios e universidades) de 317 cidades nos EUA.
  • Em uma semana de abril de 2024, foram registradas mais de 550 prisões de manifestantes em diversos campi.

Esses números evidenciam a dimensão do engajamento estudantil e o potencial de escalada de tensões nesses ambientes.

Impacto humanitário em Gaza

O custo humano do conflito segue crescendo:

  • Deslocamento: cerca de 29% dos moradores de Gaza foram forçados a se mover pela segunda vez em maio de 2025, totalizando 161.000 deslocados apenas entre 14 e 21 de maio de 2025.
  • Hospitais: mais da metade dos 36 hospitais de Gaza cessou completamente suas atividades até outubro de 2024; os demais operam de forma parcial, com menos de 10% dos suprimentos médicos necessários.
  • Água: apenas 25% das famílias relatam acesso consistente à água potável; nos últimos 14 dias, agências humanitárias perfuraram três novos poços, mas a distribuição segue insuficiente.

Contextualização Histórica Breve

Embora o tiroteio em Washington seja um exemplo extremo de violência por ódio, o terror doméstico e ataques motivados por ideologia já marcaram a história dos EUA:

  1. Bombardeio de Oklahoma City (19 de abril de 1995): Timothy McVeigh detonou uma bomba no prédio federal Alfred P. Murrah, matando 168 pessoas e ferindo 684, configurando o pior atentado doméstico do país.
  2. Charlottesville (12 de agosto de 2017): durante o comício neonazista “Unite the Right”, um veículo avançou contra manifestantes contrários, matando Heather Heyer e ferindo 35 pessoas.

Esses casos comprovam o vínculo entre discurso de ódio e violência letal, ressaltando o risco crescente para diplomatas e comunidades judaicas além da Faixa de Gaza.

Implicações para a política interna e externa de Israel

O governo Netanyahu utiliza o ataque para reforçar a continuidade da ofensiva contra o Hamas, mantendo o discurso de uma guerra “existencial”. Internamente, pesquisas indicam que a maioria dos israelenses deseja um cessar-fogo rápido, priorizando acordos de troca de reféns. Internacionalmente, o mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra Netanyahu reforça a narrativa de deslegitimação, mas também legitima o argumento de defesa nacional.

O que vem a seguir?

  • Opinião pública: eleições legislativas em países-chave podem pressionar governos a endurecer ou flexibilizar políticas de apoio a Israel.
  • Diplomacia: novas sessões no Conselho de Segurança da ONU e mediações no Egito devem debater cessar-fogos temporários.
  • Segurança: embaixadas e comunidades judaicas nos grandes centros elevam protocolos de proteção, com intercâmbio de informações entre agências ocidentais.

Conclusão

O ataque à embaixada em Washington simboliza não apenas os riscos que cercam os representantes israelenses no exterior, mas também os efeitos colaterais globais de uma guerra prolongada e polarizadora. A convergência entre protestos, discursos extremos e ações violentas cria um cenário volátil, com repercussões políticas e sociais que extrapolam o Oriente Médio.

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