EUA Redefinem Alianças no Oriente Médio: Trump Pressiona Síria por Paz com Israel

Donald Trump participa de fórum de investimentos em Riad, Arábia Saudita, em maio de 2025
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante o Fórum de Investimentos Arábia Saudita-EUA, realizado em Riad, 13 de maio de 2025. Foto: REUTERS/Brian Snyder

Em uma manobra com potencial de redefinir o equilíbrio geopolítico no Oriente Médio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reuniu-se em Riad com Ahmed al‑Sharaa, novo líder de Damasco após a queda de Bashar al‑Assad, e o instou a normalizar relações com Israel. O encontro contou com a presença do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (MbS) e participação virtual do presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Trump anunciou a suspensão de todas as sanções econômicas norte‑americanas contra a Síria e pressionou para que Damasco se junte aos Acordos de Abraão, já ratificados por Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos em 2020.

Contexto histórico e estratégico

Desde o início da guerra civil síria em 2011, Damasco foi progressivamente isolada pela comunidade internacional. As sanções aplicadas pelos EUA e pela União Europeia agravaram a crise humanitária, segundo organismos como a Human Rights Watch, ao restringir o acesso a serviços básicos e importações de medicamentos. A reversão desse bloqueio financeiro pode viabilizar a reconstrução de hospitais, escolas e infraestrutura vital para milhões de deslocados internos.

Detalhes do encontro

Imagens da televisão estatal saudita mostraram Trump e al‑Sharaa trocando cumprimentos antes da cúpula entre os Estados Unidos e países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). Em comunicado no X, a Casa Branca enfatizou o convite para que a Síria adote os Acordos de Abraão, destacando seu papel transformador na promoção de estabilidade e cooperação econômica regional.

Análise estratégica dos EUA

Apesar de resistências internas — sobretudo de setores do Departamento de Estado e do Pentágono preocupados com o histórico de al‑Sharaa — Trump fundamentou a decisão em três vetores principais:

  1. Contrapeso ao Irã: Reconfigurar alianças no Levante para conter a influência xiita de Teerã;
  2. Estrutura antiterrorismo: Expandir um bloco regional que inclua Damasco no combate a remanescentes do ISIS e a células da Al-Qaeda;
  3. Vantagem doméstica: Demonstrar resultados diplomáticos de impacto antes das eleições, reforçando sua imagem de líder capaz de promover a paz.

Implicações para a Palestina

A Síria foi, historicamente, um dos mais firmes defensores da causa palestina. A adesão de Damasco aos Acordos de Abraão representa o maior teste até agora para o movimento de normalização, podendo ser interpretada pela Autoridade Palestina e pelo Hamas como um enfraquecimento do esforço conjunto pelo reconhecimento de um Estado palestino, o que pode gerar tensão interna e dificultar futuras negociações multilaterais.

Reação do Irã e do Hezbollah

Teerã e o Hezbollah, aliados de longa data de Assad, percebem a guinada política como uma tração estratégica. O Irã poderá intensificar seu apoio a milícias pró-Assad no sul da Síria e no Líbano, enquanto o Hezbollah deve reforçar a presença de suas células na fronteira, sinalizando resistência a qualquer aproximação com Israel.

Riscos e controvérsias

  • Segurança interna: Milícias radicais podem retaliar, ameaçando a segurança de minorias alauítas e curdas em regiões remotas.
  • Críticas por favorecimento: O presente de um Boeing 747-8 da Qatar Airways a Trump gerou questionamentos de possíveis conflitos de interesse e críticas de legisladores democratas por suposta percepção de corrupção.
  • Oposição política: Parlamentares e analistas do setor de defesa norte‑americano alertam para a falta de garantias de reformas democráticas ou mecanismos de fiscalização do governo sírio.

Conclusão

O encontro em Riad sinaliza uma possível reconfiguração da diplomacia no Oriente Médio. Caso a Síria acate o convite de Trump, abre-se caminho para a reconstrução econômica e para um novo sistema de segurança regional, mas o processo enfrentará resistências internas, retaliações de atores não estatais e a crescente desconfiança de potências como o Irã.

Informações recentes

Até o momento, não houve anúncios oficiais de adesão plena da Síria aos Acordos de Abraão. Em contrapartida, está agendada para os próximos dias uma reunião entre o ministro das Relações Exteriores da Síria e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em Washington, para discutir detalhes da normalização e medidas antiterrorismo conjuntas.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*