
Em entrevista à Time publicada hoje, sexta-feira, 25 de abril de 2025, o presidente Donald Trump afirmou que o presidente chinês Xi Jinping havia ligado para ele e esboçou uma série de planos para acordos comerciais e geopolíticos. Segundo Trump, sua administração está próxima de um pacto de tarifas com Pequim, enquanto ele próprio definiu uma série de “negócios” envolvendo China, Rússia, Oriente Médio e políticas internas dos EUA.
Negociações tarifárias com a China
Trump afirmou que “estamos conversando com a China para fechar um acordo de tarifas” e que Xi “ligou. E não acho que isso seja um sinal de fraqueza da parte dele”. Contudo, o mandatário não especificou data nem conteúdo da ligação, limitando-se a dizer: “Ele ligou. Eu não ligo para ligar — ele ligou.”
Antes dessa declaração, o Ministério das Relações Exteriores da China havia enviado nota pedindo que os EUA “cessem de enganar o público” sobre as negociações — posição reafirmada pela embaixada chinesa em Washington.
Trump também declarou ter fechado 200 acordos tarifários e prevê concluir as negociações em “três ou quatro semanas”, comparando os EUA a uma “loja de departamentos” onde ele define o preço e as empresas decidem se pagam ou não. Questionado se consideraria vitória manter tarifas de até 50% daqui a um ano, respondeu: “Vitória total.”
Posicionamento sobre a Crimeia e a Ucrânia
No campo geopolítico, Trump repetiu seu desejo de encerrar rapidamente a guerra na Ucrânia, prometendo “um acordo próximo” e afirmando ter um “prazo próprio” não revelado. Seu enviado especial, Steve Witkoff, reuniu-se com Vladimir Putin em Moscou na sexta-feira anterior.
Sobre a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, Trump foi enfático:
“A Crimeia ficará com a Rússia. Zelenskiy entende isso, e todos sabem que está com eles há muito tempo — bem antes de Trump aparecer.”
Essa posição sinaliza disposição de reconhecer mudanças territoriais resultantes de conflitos, rompendo com a ortodoxia do apoio incondicional à integridade territorial da Ucrânia.
Sobre o posicionamento de Trump em relação à Crimeia e à Ucrânia, falamos sobre isso aqui.
Planos para o Oriente Médio
Trump projetou que a Arábia Saudita ingressará nos Acordos de Abraão, série de normalizações entre Israel e países do Golfo negociada por sua primeira administração. “Acho que a Arábia Saudita entrará nos Acordos de Abraão — isso acontecerá”, asseverou.
Além disso, declarou-se otimista em selar um acordo com o Irã, mostrando-se disposto a se reunir tanto com o líder supremo Ali Khamenei quanto com o presidente Masoud Pezeshkian. Ele planeja visitar a região no mês seguinte.
Uso do poder presidencial no âmbito interno
Trump defendeu decisões polêmicas em solo americano, como:
- Revogação de vistos de estudantes estrangeiros, para “impedir protestos que destruam universidades” (citou Columbia e outras).
- Ações contra escritórios de advocacia, justificando que recebeu “muito dinheiro” de muitos escritórios, “logo, algo certo devo estar fazendo”.
- Potencial ordem para que o Departamento de Justiça divulgue evidências ligando estudante da Tufts University a Hamas, após acusações de prisão arbitrária de ativista pró-Palestina.
- Alvo em Christopher Krebs, ex-chefe da CISA, demitido em 2020, reafirmando postura de “retaliação” prometida em campanha.
Análise e implicações
- Relações EUA-China: A menção de 200 acordos tarifários e o prazo de semanas indicam tentativa de amenizar tensões pós-pandemia e reposicionar a cadeia de suprimentos global sob influência americana.
- Geopolítica russa: Ao endossar a posse russa da Crimeia, Trump sinaliza possível flexibilização do compromisso americano com aliados europeus, o que poderá gerar ceticismo na OTAN e em Kiev.
- Oriente Médio: A inclusão da Arábia Saudita nos Acordos de Abraão e reaproximação ao Irã sugerem uma diplomacia transacional, volta a negociações diretas sem mediação multilaterial.
- Política interna: O uso de poder executivo para punir opositores e influenciar instituições (universidades, agências reguladoras) reforça críticas de autoritarismo e politização de cargos públicos.
Conclusão
A entrevista de Trump à Time revela uma visão personalista de “negócio” em que acordos comerciais e tratados geopolíticos se assemelham a transações definidas por sua vontade. O reconhecimento da Crimeia como russa, a ambição de integrar a Arábia Saudita aos Acordos de Abraão e a estratégia tarifária contra a China compõem uma agenda marcada pela ênfase em resultados imediatos e pela centralidade do estilo de liderança de Trump. No plano interno, a defesa de medidas severas contra universidades, estudantes e ex-funcionários destaca um uso expansivo do poder presidencial, em linha com sua retórica de “retribuição”. O desfecho dessas iniciativas poderá redesenhar alianças tradicionais dos EUA e reacender debates sobre os limites do executivo na democracia americana.
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