Diálogo Técnico entre Turquia e Israel Busca Prevenir Confrontos na Síria

Soldados israelenses em posição no território das Colinas de Golã, próximo à fronteira com a Síria.
Israel intensificou sua presença militar na zona tampão das Colinas de Golã desde a saída de Bashar al-Assad, com centenas de ataques aéreos realizados na Síria. Crédito: Shir Torem/Reuters via Al Jazeera

Em meio à complexa teia de interesses e operações militares na Síria, Turquia e Israel iniciaram conversações técnicas visando estabelecer um canal de comunicação que permita evitar confrontos indesejados na região. O diálogo, que contou com representantes de alto nível de ambos os países, reflete a urgência em mitigar riscos de escaladas militares diretas em um cenário já carregado de tensões.

Contexto geopolítico e militar

A Síria tem sido palco de intensas operações militares envolvendo diversas forças estrangeiras e locais. Desde a remoção do governo do presidente Bashar al-Assad por grupos de oposição, o país viu uma intensificação das operações militares, especialmente pela presença de Israel e Turquia. Israel, que tem defendido a necessidade de neutralizar ameaças provenientes do território sírio, realizou centenas de ataques aéreos no país e deslocou tropas para a zona tampão sob supervisão da ONU, visando conter ações que possam comprometer sua segurança nacional.

Em paralelo, a Turquia, que exerce forte influência no contexto sírio, tem apoiado o governo interino e realizado operações contra grupos extremistas armados. O envolvimento turco na Síria também contempla a realização de avaliações para a instalação de bases conjuntas com forças sírias, sempre sob o manto da legalidade do direito internacional – uma estratégia que visa fortalecer sua posição e garantir a segurança de suas operações.

Contextualização histórica: interesses de longa data

Os interesses estratégicos de Turquia e Israel na Síria não são novos. Desde a década de 1990, ambos os países têm acompanhado de perto os desdobramentos na região, ainda que por razões diferentes. Israel sempre considerou a Síria uma ameaça potencial à sua segurança fronteiriça, especialmente por sua aliança com o Irã e o Hezbollah. Já a Turquia passou a intervir diretamente a partir de 2011, após o início da guerra civil síria, preocupada com o avanço de grupos curdos e jihadistas perto de sua fronteira. Esses interesses sobrepostos tornam essencial qualquer mecanismo que reduza o risco de confrontos diretos entre as duas potências regionais.

O papel dos diálogos técnicos e os mecanismos de descontato

Durante as recentes conversações realizadas no Azerbaijão, as partes discutiram medidas para evitar que operações militares ou movimentos não coordenados levem a incidentes de confronto direto entre as forças turcas e israelenses. Um oficial turco afirmou, em declarações à imprensa, que o estabelecimento de um mecanismo de descontato é essencial para prevenir “mal-entendidos” que possam desencadear uma série de eventos militares indesejados na região.

Segundo fontes citadas pela agência Reuters, esse foi apenas o início de um esforço mais amplo para institucionalizar um canal de comunicação militar direto. Ainda que os detalhes permaneçam sob sigilo, há consenso sobre a importância estratégica da iniciativa.

Dados atualizados: ataques aéreos e preocupações israelenses

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, organização baseada no Reino Unido, as Forças de Defesa de Israel realizaram mais de 500 ataques aéreos entre 8 e 31 de dezembro de 2024 contra alvos em solo sírio. Somente em 2025, já foram registrados pelo menos 43 novos ataques, com alvos diversos, incluindo posições iranianas, depósitos de armas e instalações militares sírias.

Essas ações ocorrem em meio a crescentes preocupações israelenses sobre a instalação de bases militares turcas na região de Palmyra — algo que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou como uma “ameaça direta” à segurança de Israel. Fontes políticas israelenses ouvidas pela Reuters reforçaram que a presença de forças turcas em determinadas regiões da Síria representa uma “linha vermelha”.

Divergências estratégicas e tensões latentes

Apesar do avanço nas tratativas, os interesses estratégicos de Turquia e Israel na Síria permanecem divergentes. Israel tem reiterado sua preocupação com a expansão da presença turca em áreas estratégicas, enquanto a Turquia argumenta que suas ações são legítimas e fundamentadas no direito internacional.

A possibilidade de uma base conjunta turco-síria está em avaliação, segundo fontes do Ministério da Defesa turco. A ideia é focar em ações de treinamento conjunto, sem que isso implique em ameaça direta a terceiros — uma forma de reafirmar o compromisso turco com a estabilidade regional, mesmo diante das desconfianças israelenses.

O que esperar a seguir?

A abertura de um canal de diálogo técnico entre Turquia e Israel representa uma rara oportunidade de cooperação em meio a um cenário regional de grande volatilidade. Caso avance, o mecanismo de descontato poderá servir como modelo para outras zonas de conflito onde potências rivais atuam simultaneamente.

Ainda assim, desafios consideráveis persistem. A retórica mais agressiva de Netanyahu sobre a presença turca, somada à crítica contundente do presidente turco Recep Tayyip Erdogan à ofensiva israelense em Gaza, evidencia que as relações diplomáticas entre os dois países seguem tensas. A capacidade das partes de isolar essas divergências e focar em soluções técnicas será determinante para o sucesso da iniciativa.

O mundo acompanhará com atenção os próximos passos — e os riscos de erro ou má interpretação, em um campo de batalha com tantos atores, continuam altos.

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