UAE Intermedeia Conversações Secretas entre Israel e Síria

Manifestantes protestam contra ataques israelenses à Síria em Hama, 4 de maio de 2025.
Manifestantes em Hama, Síria, expressam oposição aos ataques israelenses no país, 4 de maio de 2025. REUTERS/Karam Al-Masri/File Photo

Nos últimos anos, o Oriente Médio tem sido palco de intensas tensões geopolíticas, com confrontos entre potências regionais, como Israel e Síria. Embora ambos os países compartilhem uma história de hostilidade e desconfiança, uma nova iniciativa liderada pelos Emirados Árabes Unidos (UAE) oferece uma nova abordagem para resolver essa situação. Através de um canal de mediação confidencial, os UAE buscam estabelecer um espaço para negociações indiretas entre Damasco e Tel Aviv, concentrando-se em questões de segurança e inteligência. Este movimento reflete tanto os esforços do novo governo sírio para se reintegrar na arena internacional quanto o papel crescente dos Emirados Árabes Unidos como mediadores regionais.

Contexto e Motivação

Relação hostil de longa data: Israel e Síria permanecem sem laços oficiais, com confrontos esporádicos que visam principalmente a contenção do eixo Teerã–Damasco .
Novo governo sírio: Sharaa procura demonstrar à comunidade internacional, e em particular a Israel, que seu governo não apoiará grupos hostis como o Palestinian Islamic Jihad, cujos membros foram recentemente detidos em Damasco .
Interesses dos UAE: Abu Dhabi, signatário dos Acordos de Abraão de 2020, equilibra seu pragmatismo com Israel e suas reservas quanto ao islamismo de alguns líderes sírios.

Estrutura do Canal de Mediação

  • Formato das conversas: Videoconferências seguras e reuniões presenciais em terceiros países (Omã e Bahrein foram cotados por diplomatas) .
  • Participantes-chave:
  • Oficiais de segurança dos UAE
  • Inteligência síria (Serviço de Segurança)
  • Ex‑oficiais de inteligência israelenses

Âmbito inicial:

  • Intercâmbio de dados de contra‑terrorismo
  • Procedimentos de confiança mútua em monitoramento de fronteira
  • Limitações:
    • Exclui debates sobre operações militares ativas de Israel na Síria
    • Não abrange discussões políticas ou territoriais

Evolução e Desafios

Reação síria: Damasco condenou os ataques como “interferência externa” mas seguiu com acordo para recrutamento de policiais drusos locais, diminuindo confrontos sectários.

Após ataques de abril: Israel bombardeou áreas próximas ao palácio presidencial em Damasco em 29 de abril; não há confirmação de uso do canal após essa data .

Mediação paralela: Diplomatas citaram conversas informais via Catar e Suíça para reduzir atritos sectários após confrontos druso-sunitas em Suweida.

Perspectivas de Outras Potências

Arábia Saudita: Apoio discreto ao UAE, vendo estabilidade síria como benéfica para conter o Irã.

Irã: Desconfiança de Teerã pode levar a tentativas de minar o canal, especialmente via milícias aliadas na Síria.

Turquia: Ankara monitora o processo, avaliando seu próprio papel como possível mediador alternativo, dada sua influência sobre grupos rebeldes no norte sírio.

Impacto sobre a Questão Palestina

A aproximação pode recalibrar o apoio sírio a facções palestinas. Um canal de comunicação aberto reduz risco de incidentes transfronteiriços, mas não altera imediatamente a postura de Damasco em relação ao “direito de retorno” palestino.

Comentários de Especialistas

“A neutralização de ameaças no sul da Síria é do interesse mútuo de Israel e Síria, e os UAE têm a credibilidade para facilitar isso sem ganhos geopolíticos óbvios”, diz Daniel Byman, do Brookings Institution.

“Este canal técnico abre caminho para um diálogo de segurança que, se sustentado, pode evoluir para negociações políticas”, avalia Shahnaz Yassari, do Chatham House .

Conclusão e Projeções

A iniciativa dos Emirados Árabes Unidos representa um passo pragmático para desescalar tensões e construir confiança em um dos frontes mais voláteis do Oriente Médio. Caso mantido, o canal pode se expandir para incluir temas humanitários e de reconstrução, oferecendo um modelo de mediação inovadora. Porém, seu futuro dependerá da reação de Teerã e da capacidade de Damasco e Tel Aviv de manter o foco técnico, evitando que incidentes militares ponham tudo a perder.

Fonte: Reuters

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*