Ucrânia aguarda documento russo antes de confirmar participação em negociações em Istambul

Ministro turco Hakan Fidan se reúne com o chanceler ucraniano Andrii Sybiha em Kiev, em 30 de maio de 2025.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, encontra-se com seu homólogo ucraniano, Andrii Sybiha, durante visita a Kiev, em meio ao conflito em curso com a Rússia — 30 de maio de 2025. Foto: REUTERS/Gleb Garanich.

A Ucrânia mantém cautela sobre sua presença na próxima rodada de negociações bilaterais com a Rússia, propostas para 2 de junho de 2025 em Istambul. Em coletiva em Kiev no dia 30 de maio, o ministro das Relações Exteriores, Andrii Sybiha, destacou a necessidade de receber antecipadamente um memorando com as propostas formais de Moscou, condição para que sua delegação tenha autoridade para discutir pontos concretos.

Contexto e posição ucraniana

Desde a invasão em larga escala de 24 de fevereiro de 2022, os diálogos entre Moscou e Kiev avançam de forma episódica e sem resultados substanciais. A última reunião em Istambul, em 16 de maio de 2025, não resultou em avanços práticos, apesar de contar com a liderança do assessor do Kremlin Vladimir Medinsky.

Para Sybiha, qualquer conversa futura deve ser “substancial e significativa”, com foco nas propostas russas de:

  • Suspensão imediata das hostilidades;
  • Estabelecimento de condições para retirada das tropas russas;
  • Implementação de monitoramento internacional do cessar-fogo.

Sem o documento detalhado de Moscou, Kiev não pode definir seu mandato de negociação nem avaliar a real disposição russa em encerrar o conflito.

Pressões externas e motivações

Os Estados Unidos, por intermédio do enviado Keith Kellogg, demonstram otimismo quanto à realização dos diálogos. A administração de Donald Trump insiste na importância de adesão de ambas as partes — Kiev busca reforço em assistência militar, enquanto Moscou almeja alívio de sanções econômicas.

A Turquia, mediadora tradicional, reafirmou sua disposição em sediar as conversas. O ministro turco Hakan Fidan, em visita a Kiev no mesmo dia, declarou: “enquanto as partes permanecerem à mesa, haverá progressos.”

Principais entraves ao acordo

As principais divergências permanecem amplas:

  1. Status territorial: a Rússia insiste em manter controle sobre áreas no leste e sul da Ucrânia.
  2. Garantias de segurança: Kiev exige salvaguardas contra novas agressões.
  3. Compensações e reconstrução: discussão sobre reparações pelos danos causados durante o conflito.

Sem consenso prévio sobre esses pontos, as negociações correm o risco de se limitar a declarações protocolares.

Próximos passos

Caso Moscou envie o memorando nas próximas semanas, as negociações de 2 de junho podem ocorrer. Em seguida, cogita-se um encontro tripartite entre os presidentes Volodymyr Zelensky, Vladimir Putin e Donald Trump, visando consolidar um roteiro de paz.

Até o momento, não há informações públicas sobre o envio do documento russo, e Kiev ainda não definiu um prazo para sua chegada.

Conclusão

A adoção de um mandato claro e a clareza nas intenções de ambas as partes são essenciais para que Istambul não se torne mais uma rodada de diálogos sem substância. A Ucrânia reafirma seu interesse em um cessar-fogo — seja de 30, 50 ou 100 dias — mas condiciona sua participação ao recebimento prévio das propostas russas.

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