
Em um momento de crescente incerteza sobre o comprometimento dos Estados Unidos com novas medidas punitivas contra Moscou, a Ucrânia prepara um documento estratégico para pressionar a União Europeia (UE) a adotar uma postura mais agressiva e independente em relação às sanções econômicas contra a Rússia.
Contexto e motivações
Após a decisão do presidente Donald Trump de não impor novas sanções na esteira de sua conversa com Vladimir Putin em 19 de maio de 2025, Kiev e Bruxelas enfrentam o risco de um enfraquecimento na coesão ocidental. Em resposta, a Ucrânia redigiu um white paper(livro branco) de 40 páginas que propõe um conjunto de medidas para compensar o possível vácuo deixado por Washington. Para entender melhor esse desdobramento, veja também Trump busca desatar impasse em ligação direta com Putin sobre paz na Ucrânia.
Principais recomendações do white paper(livro branco)
- Confisco acelerado de ativos russos: legislação para apreensão imediata de bens de indivíduos sancionados, com destinação direta dos recursos à Ucrânia. Os alvos poderiam buscar compensação junto ao Estado russo.
- Sanções secundárias: penalidades contra empresas não-europeias que usem tecnologia da UE para reforçar o setor militar russo ou comprem petróleo russo — atingindo grandes importadores como Índia e China.
- Decisões por maioria qualificada: flexibilizar o voto unânime, permitindo que a maioria dos Estados-membros avance sanções mesmo diante de objeções isoladas.
A hesitação dos EUA
Fontes ucranianas revelam que Washington interrompeu praticamente todas as iniciativas intergovernamentais de sanções e controle de exportações, desmobilizou grupos de monitoramento e realocou especialistas de sanções para outras áreas. Dois projetos de lei — um do Executivo e outro proposto pelo senador Lindsey Graham — aguardam decisão, mas seu futuro é incerto.
Panorama das sanções da UE em maio de 2025
Em 20 de maio de 2025, a UE adotou o 17º pacote de sanções contra a Rússia, visando principalmente seu “shadow fleet” de petroleiros usados para driblar o teto de US$ 60 por barril imposto pelo G7. As medidas incluem:
- Lista negra de 189 embarcações, elevando o total para 324, com proibição de acesso a portos e serviços.
- Sanções a empresas de países como Emirados Árabes Unidos, Turquia e Hong Kong envolvidas na gestão desses navios.
- Restrições a exportações de bens de duplo uso e penalidades a entidades na China, Belarus e Israel que auxiliem o complexo militar russo.
Para mais detalhes sobre as ações coordenadas sem o aval americano, veja UE e Reino Unido Impõem Novas Sanções à Rússia sem Aguardar os EUA.
Desafios e potenciais desdobramentos
- Domínio do dólar: a eficácia das sanções dos EUA se apoia no controle do dólar no comércio global, vantagem que o euro não alcança totalmente.
- Cooperação europeia: embora a UE e o Reino Unido tenham avançado sozinhos na adoção de sanções, a Ucrânia teme que o vácuo americano inspire hesitações similares entre os 27 Estados-membros.
- Retaliação russa: Moscou pode responder com sanções contra importações agrícolas ou tecnologia europeia, ampliando o impacto econômico.
Opinião de especialistas
Craig Kennedy, do Davis Center em Harvard, afirma que “a Europa possui muito mais cartas na manga do que se imagina”, sugerindo que o bloco pode sustentar a pressão mesmo sem o apoio americano.
Conclusão e próximos passos
Diante da hesitação dos EUA, a iniciativa ucraniana visa catalisar a UE a assumir um papel de liderança nas sanções contra a Rússia. O white paper será formalmente entregue a Bruxelas na próxima semana, com possível votação no Conselho Europeu ainda em junho.
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