A Ucrânia fecha o cerco: sanções a 60 empresas e 73 indivíduos por evasão de sanções russas via cripto

Moedas físicas variadas com destaque em uma moeda de Bitcoin dourada no centro.
Foto: Traxer

Em 1º de julho de 2025, o governo ucraniano anunciou uma das mais abrangentes operações de inteligência e aplicação de sanções voltadas ao ecossistema de criptomoedas: 60 empresas e 73 pessoas físicas foram adicionadas à lista negra por suposto apoio à evasão de restrições financeiras impostas à Rússia desde o início da guerra em 2022. Entre os alvos estão 19 mineradoras de criptomoedas e cinco exchanges, cujos ativos foram congelados e cuja operação foi barrada em território ucraniano. A iniciativa faz parte de um esforço global de regulamentação de criptoativos, alinhado a medidas semelhantes da União Europeia e dos Estados Unidos para combater lavagem de dinheiro, evasão fiscal e financiamento de conflitos armados.

Contexto: cripto e guerra

Desde a invasão russa em fevereiro de 2022, aliados ocidentais e a Ucrânia vêm ampliando sanções financeiras contra Moscou. Com o sistema bancário tradicional mais controlado, as criptomoedas emergiram como rota alternativa para movimentar fundos sem passar pelos canais convencionais.

  • Transparência x anonimato: blockchains públicas registram todas as transações, mas mixers e DEXs podem ocultar a origem dos recursos.
  • Mineração como capital: mineradoras russas convertem energia barata em criptomoedas, depois vendidas em exchanges para contornar bloqueios.

O pacote de sanções

O decreto ucraniano, coordenado com o Banco Nacional da Ucrânia, especifica:

  • 60 empresas — incluindo 19 mineradoras de grande porte e cinco exchanges usadas para converter criptomoedas em moedas fiduciárias fora do sistema bancário tradicional.
  • 73 indivíduos — entre CEOs, diretores e consultores de tecnologia financeira apontados como facilitadores das operações.
  • Medidas aplicadas — congelamento de ativos na Ucrânia, proibição de transações em ativos digitais no país e comunicação a parceiros internacionais para ampliar o cerco.

Mecanismos de evasão identificados

  1. Exchanges offshore: plataformas registradas em jurisdições com regulamentação branda, como Emirados Árabes e Ilhas Virgens, que permitiam KYC flexível.
  2. Mixers e tumblers: serviços como Tornado Cash, empregados para fragmentar e misturar grandes volumes com depósitos legítimos.
  3. Pools de mineração estatais: operações vinculadas a empresas de defesa, que repassavam parte dos lucros para contas já sancionadas.

Estratégia ucraniana e impacto

  • Forense em blockchain: parcerias com Chainalysis e Elliptic ajudaram a rastrear transações suspeitas e mapear redes de evasão.
  • Coordenação multilateral: cooperação com EUA e UE resultou em sanções simultâneas contra exchanges como AWX e EXMO, ampliando a eficácia.
  • Pressão reputacional: divulgação pública das listas desestimula outras plataformas a fechar negócios com agentes russos.
  • Alinhamento com GAFI: a operação segue recomendações do Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI) para coibir uso de criptoativos em crimes financeiros e financiamentos ilícitos.
  • Estimativa de impacto: fontes de mercado indicam que até US$ 200 milhões em criptomoedas ligadas a entidades russas foram bloqueados ou impedidos de transitar.

Até o momento, o Kremlin não emitiu resposta oficial às sanções ucranianas; veículos estatais russos praticamente ignoraram o assunto, refletindo o controle narrativo do governo sobre temas delicados.

Desafios futuros

Apesar dos avanços, o combate enfrenta obstáculos:

  • DeFi e DEXs: protocolos como Uniswap operam sem autoridade central, dificultando bloqueios.
  • Mudanças de jurisdição: entidades sancionadas podem relocar operações para países com regulação mais frouxa.

Implicações geopolíticas

  • Aperto financeiro à Rússia: redução de fontes alternativas de recursos para o esforço de guerra.
  • Modelo para sanções digitais: demonstração de como sanções financeiras podem migrar para o espaço digital.
  • Pressão por compliance: estimula exchanges a adotar normas rígidas de KYC e AML.

Conclusão

A sanção de 60 empresas e 73 indivíduos pela Ucrânia simboliza a evolução do conflito para uma guerra financeira digital. Enquanto as criptomoedas oferecem anonimato e descentralização, a ação ucraniana mostra que nem mesmo o código está acima da lei em tempos de guerra.

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