
Na reunião de ministros do Comércio da União Europeia em Bruxelas, realizada nesta quinta‑feira, representantes de 27 países membros deixaram claro que o recém‑anunciado Acordo Comercial “Inovador” entre EUA e Reino Unido não serve de parâmetro para os europeus. Para os ministros, manter as tarifas de 10% sobre produtos britânicos — parte do pacto Trump–Starmer firmado há uma semana — revela falta de profundidade e poderia desencadear medidas de retaliação por parte da UE.
Contexto do acordo Reino Unido–EUA
Em encontro no início de maio, o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o Primeiro‑Ministro britânico, Keir Starmer, anunciaram um acordo que reduz algumas tarifas, mas mantém em 10% o imposto sobre produtos do Reino Unido — incluindo itens como bebidas alcoólicas e cerâmica — ao mesmo tempo em que alivia tarifas sobre aço e automóveis. Apesar de saudado como um “passo inicial”, o pacto foi considerado modesto pelos europeus.
Perspectivas da presidência polonesa da UE
Michal Baronowski, vice‑ministro da Economia da Polônia — país à frente da presidência rotativa da UE — afirmou que o bloco não precisa de um “acordo rápido” e que seria possível obter condições mais vantajosas:
“Não acho que esse seja o nível de ambição que a Europa acolheria com satisfação. Podemos ter um acordo melhor do que permanecer com tarifas elevadas.”
Baronowski destacou também a trégua com a China como sinal de possível desescalada, mas frisou que a UE deve manter seu poder de negociação no médio prazo.
A linha de dura sueca e as possíveis retaliações
O ministro sueco Benjamin Dousa foi ainda mais incisivo, afirmando:
“Se for isso que a Europa obtém, os EUA podem esperar medidas de retaliação do nosso lado. Mal chamaria isso de acordo comercial.”
Atualmente, a UE aplica tarifa de 25% sobre importações de aço, alumínio e automóveis dos EUA, além de tarifa “recíproca” de 10% sobre quase todos os demais produtos, valor que pode subir para 20% caso as negociações em curso não resultem em avanço até 8 de julho.
Linhas de fratura entre ministros
– França: Laurent Saint‑Martin reiterou que não aceitará tarifas recíprocas de 10%, vistas como prejudiciais tanto para a UE quanto para a economia norte‑americana.
– Finlândia: Ville Tavio concordou que a imposição de 10% “não seria benéfica para os EUA”.
– Comissão Europeia: Preparou uma lista de €95 bilhões em importações americanas passíveis de novas tarifas, mas defende solução negociada a fim de evitar escalada.
Caminhos de negociação
O Comissário Europeu para o Comércio, Maroš Šefčovič, anunciou ter conversado na quarta‑feira com o Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ressaltou a intenção de “intensificar o engajamento” para alcançar acordo que:
- Eliminar tarifas recíprocas sobre produtos manufaturados;
- Reduzir alíquotas sobre bens agrícolas;
- Incluir cláusulas ambientais e de proteção de dados;
- Firmar compromissos de cooperação em cadeias de suprimento estratégicas.
Impacto para o mercado europeu e britânico
Um pacto mais ambicioso poderia:
- Fortalecer a competitividade das indústrias automotiva e metalúrgica da UE;
- Incentivar empresas britânicas a manterem operações no continente;
- Ampliar a celeridade na homologação de produtos, beneficiando consumidores.
Dados de Fluxo Comercial Recente
Em 2024, o comércio de bens entre UE e EUA atingiu um valor total de aproximadamente €865 bilhões, divididos em €531,6 bilhões de exportações da UE para os EUA e €333,4 bilhões de importações de bens americanas para a UE, resultando em um superávit comercial de €198,2 bilhões para o bloco europeu. Isso representou um crescimento de 5,5% nas exportações e uma queda de 4,0% nas importações em comparação a 2023.
Conclusão
A UE sinaliza que não aceitará um acordo de segunda ordem. Ao buscar um pacto mais robusto que o estabelecido entre EUA e Reino Unido, Bruxelas reforça sua estratégia de autonomia estratégica e de preservação dos interesses de seu mercado único. Resta agora acompanhar se Washington demonstrará disposição real para ir além do “acordo inicial” e evitará uma nova rodada de retaliações comerciais com os europeus.
Faça um comentário