Conferência de Recuperação da Ucrânia em Roma: Um Marco para a Reconstrução e a Solidariedade Europeia

Em um momento crítico do conflito na Ucrânia, marcado por ataques contínuos às infraestruturas civis e energia, a conferência de recuperação realizada em Roma — a quarta desde a invasão russa em fevereiro de 2022 — reuniu chefes de Estado, instituições financeiras e sociedade civil. Sob o lema “Reconstruir para a Paz”, a União Europeia aprovou um pacote financeiro de € 165 bilhões em assistência macroeconômica e humanitária, além de € 10 bilhões específicos para projetos de reconstrução, dos quais € 300 milhões foram reservados para empresas italianas. O encontro reforça não só o apoio imediato à Ucrânia, mas também sublinha o compromisso com reformas, transparência e resiliência futura do país.

Contexto e Relevância Estratégica

Desde o início da guerra, a Ucrânia acumulou perdas estimadas em US $ 176 bilhões em infraestrutura física — estradas, pontes, habitações e usinas — e um impacto econômico total que pode chegar a US $ 590 bilhões, segundo relatório do Banco Mundial publicado em fevereiro de 2025.
Diante desse cenário, as conferências de recuperação consolidaram-se como mecanismos fundamentais para:

1. Mobilização de Recursos: Garantir fundos públicos e privados para manter serviços essenciais e reconstruir infraestrutura.
2. Fomento a Reformas: Vincular parte dos recursos a reformas anticorrupção e modernização institucional, acelerando a integração aos padrões europeus.
3. Transparência e Prestação de Contas: Implementar plataformas digitais de acompanhamento em tempo real dos projetos.

Componentes do Pacote Financeiro

Assistência Macro e Humanitária: € 165 bilhões

• Ajuda Orçamentária: Suporte para salários de servidores públicos, saúde e educação.
• Auxílio de Emergência: Assistência a deslocados internos, abrigo e atendimento médico.
• Linhas de Crédito Condicionadas: Ligadas a metas de combate à corrupção, definidas em parceria com o FMI e o Parlamento Europeu.

Fundo Europeu de Reconstrução: € 10 bilhões

Lançado como European Flagship Fund for the Reconstruction of Ukraine, o fundo busca alavancar investimentos públicos e privados em modelos de parceria (PPP).

• Áreas Prioritárias: Energia renovável, transporte, saúde e restauração do patrimônio cultural.
• Participação Italiana: Destinação de € 300 milhões em contratos e subsídios para empresas de engenharia e construção, com ênfase em redes elétricas inteligentes e restauração de monumentos.

Papel da Itália como Anfitriã e Hub Logístico

A conferência em Roma ressaltou a importância dos portos de Trieste, Veneza e Ravena como corredores logísticos essenciais para a entrega de materiais de reconstrução. A primeira‑ministra italiana, Giorgia Meloni, destacou:

• Infraestrutura de Transporte: Expansão de rotas ferroviárias e marítimas para reduzir custos e prazos de entrega.
• Padronização Técnica: Cooperação na definição de normas de construção e segurança, garantindo qualidade e durabilidade.
• Proteção Cultural: Suporte a projetos de restauração de igrejas, museus e sítios históricos nas regiões afetadas.

O presidente Volodymyr Zelensky elogiou a experiência italiana, afirmando que “a reconstrução das nossas cidades será tanto um renascimento quanto um símbolo de resistência”.

Transparência e Monitoramento: Plataforma DREAM

Para assegurar a boa aplicação dos recursos, a Ucrânia implementou a plataforma DREAM (Digital Recovery Ecosystem for Accountability and Monitoring), que oferece:

• Acesso Público: Dashboard com status de cada projeto, valores empenhados e cronogramas de execução.
• Alertas Automáticos: Auditorias em tempo real que sinalizam atrasos ou desvios financeiros.
• Integração com o SISTEMA “Diia”: Automatização de processos administrativos e licenciamento.

Relatórios preliminares apontam que, em duas semanas, 85% dos projetos listados tiveram suas etapas iniciais validadas e aprovadas.

Novas Informações e Desdobramentos Recentes

• Banco Europeu de Investimento (BEI): Anunciou, em 9 de julho, a criação de uma linha de crédito adicional de € 2 bilhões para pequenas e médias empresas ucranianas, focada em tecnologia e agricultura de precisão.
• Banco Mundial: Publicou em julho um estudo que estima a reconstrução completa das infraestruturas críticas em 7 anos, desde que mantido o fluxo financeiro e políticas de segurança estáveis.
• Iniciativa Verde: A Comissão Europeia comprometeu € 1 bilhão adicional para projetos de energia solar e eólica no leste da Ucrânia, visando reduzir a dependência de combustíveis fósseis associados a ataques russos.

Desafios e Perspectivas

Apesar dos compromissos, o processo enfrentará desafios:

1. Continuidade da Segurança: A ameaça de novos ataques a infraestruturas energéticas pode atrasar obras.
2. Capacidade Administrativa Local: Necessidade de descentralizar a gestão dos projetos para autoridades regionais.
3. Atração de Investimento Privado: Reduzir riscos políticos com garantias multilaterais e seguros de guerra.

Especialistas sugerem a criação de zonas econômicas especiais em áreas vaciadas pelo conflito para estimular investimentos e geração de emprego.

Conclusão

A conferência de Roma simboliza um ponto de inflexão: a combinação de recursos expressivos, ferramentas de monitoramento e parcerias estratégicas configura um modelo de reconstrução para além da emergência, focado em sustentabilidade e governança. A eficácia desse esforço dependerá da coordenação entre UE, governos nacionais, investidores privados e da sociedade civil ucraniana, garantido que cada euro contribua para um futuro próspero e seguro.