UE Penalizada pela Postura Comercial dos EUA, Diz Panetta do BCE

Governador do Banco da Itália Fabio Panetta na reunião do G7 de Ministros das Finanças e Presidentes de Bancos Centrais em Stresa, maio de 2024
Fabio Panetta, governador do Banco da Itália, participa da reunião de Ministros das Finanças e Presidentes de Bancos Centrais do G7 em Stresa, Itália, em 24 de maio de 2024. Foto: REUTERS/Massimo Pinca

Em 18 de junho de 2025, o membro do Conselho do Banco Central Europeu (BCE), Fabio Panetta, alertou que a União Europeia (UE) está sofrendo as consequências de uma postura comercial “confrontacional” dos Estados Unidos. Para Panetta, Washington prioriza hoje a estratégia de enfraquecer a aliança Rússia–China, mesmo que isso signifique sacrificar relações históricas com a Europa.

Contexto Geopolítico

  • Guerra na Ucrânia e sanções: As sanções ocidentais impostas a Moscou desde 2022 aproximaram a Rússia de Pequim em energia, tecnologia e finanças, reforçando um eixo estratégico que preocupa os EUA.
  • Tensões transatlânticas: Em Conferência do G7 no Canadá, o presidente Trump defendeu a reintegração da Rússia ao G8, questionando a exclusão de 2014, e voltou a reclamar que “a UE ainda não ofereceu um acordo justo” para o comércio bilateral.

Declarações de Panetta em Milão

No evento Young Factor, em Milão, Panetta asseverou:

“Seria extremamente difícil competir com o poder industrial, tecnológico e financeiro da China se isso se combinasse com os recursos naturais da Rússia. Acredito que o objetivo de Trump seja devolver à Rússia sua legitimidade internacional. Se esse é o plano, então a área econômica que mais se opôs à invasão da Ucrânia — a UE — é o seu pior inimigo.”

Impactos para a UE

  1. Isolamento econômico: A imposição de tarifas adicionais a partir de 9 de julho pode reduzir competitividade de exportadores europeus, especialmente Alemanha e Itália.
  2. Fragilidade interna: Divergências entre membros sobre retaliações e solidariedade podem aumentar, exigindo coesão para resistir a choques externos.
  3. Autonomia estratégica: O BCE e a Comissão Europeia aceleram debates sobre moeda digital, infraestrutura de pagamentos e fundos de investimento tecnológico, para diminuir a dependência do dólar e de plataformas estrangeiras.

4. Novas Iniciativas do BCE

  • Digital euro: No mesmo evento em Milão, Panetta assegurou que o digital euro não ameaçará a liquidez dos bancos, graças a limites conservadores de conversão e à capacidade do BCE de repor depósitos, comparando o sistema a “um tanque de água que pode ser reabastecido”.
  • Cronograma político: Piero Cipollone, outro membro do Conselho, anunciou que o BCE mira um acordo político sobre o digital euro até início de 2026, com lançamento previsto dois a três anos após a aprovação da legislação necessária.

Reações e Perspectivas

  • Comissão Europeia: Ursula von der Leyen mantém o compromisso de fechar o acordo tarifário antes do prazo de 90 dias, ressaltando que a diferença média de alíquotas é pequena e facilmente ajustável.
  • Mercados emergentes: A Rússia estimula parcerias com Brasil e Índia para suprir lacunas deixadas por empresas ocidentais, potencializando um bloco alternativo liderado por Moscou e Pequim.
  • Defesa de soberania: Bruxelas intensifica debates sobre soberania tecnológica e financeira, com programas como o Digital Europe, que destina €1,3 bilhão a tecnologias críticas (IA generativa, blockchain, HPC) até 2027, reforçando a resiliência da UE.

Conclusão

A leitura de Panetta expõe como as rivalidades globais transbordam para o comércio e pressionam a UE. Enquanto Washington busca recalibrar alianças para conter o eixo Rússia–China, a Europa precisa fortalecer sua autonomia estratégica — digital, financeira e industrial — para não se tornar mera peça de um jogo geoeconômico decidido além de suas fronteiras.

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