
Em 18 de junho de 2025, o membro do Conselho do Banco Central Europeu (BCE), Fabio Panetta, alertou que a União Europeia (UE) está sofrendo as consequências de uma postura comercial “confrontacional” dos Estados Unidos. Para Panetta, Washington prioriza hoje a estratégia de enfraquecer a aliança Rússia–China, mesmo que isso signifique sacrificar relações históricas com a Europa.
Contexto Geopolítico
- Guerra na Ucrânia e sanções: As sanções ocidentais impostas a Moscou desde 2022 aproximaram a Rússia de Pequim em energia, tecnologia e finanças, reforçando um eixo estratégico que preocupa os EUA.
- Tensões transatlânticas: Em Conferência do G7 no Canadá, o presidente Trump defendeu a reintegração da Rússia ao G8, questionando a exclusão de 2014, e voltou a reclamar que “a UE ainda não ofereceu um acordo justo” para o comércio bilateral.
Declarações de Panetta em Milão
No evento Young Factor, em Milão, Panetta asseverou:
“Seria extremamente difícil competir com o poder industrial, tecnológico e financeiro da China se isso se combinasse com os recursos naturais da Rússia. Acredito que o objetivo de Trump seja devolver à Rússia sua legitimidade internacional. Se esse é o plano, então a área econômica que mais se opôs à invasão da Ucrânia — a UE — é o seu pior inimigo.”
Impactos para a UE
- Isolamento econômico: A imposição de tarifas adicionais a partir de 9 de julho pode reduzir competitividade de exportadores europeus, especialmente Alemanha e Itália.
- Fragilidade interna: Divergências entre membros sobre retaliações e solidariedade podem aumentar, exigindo coesão para resistir a choques externos.
- Autonomia estratégica: O BCE e a Comissão Europeia aceleram debates sobre moeda digital, infraestrutura de pagamentos e fundos de investimento tecnológico, para diminuir a dependência do dólar e de plataformas estrangeiras.
4. Novas Iniciativas do BCE
- Digital euro: No mesmo evento em Milão, Panetta assegurou que o digital euro não ameaçará a liquidez dos bancos, graças a limites conservadores de conversão e à capacidade do BCE de repor depósitos, comparando o sistema a “um tanque de água que pode ser reabastecido”.
- Cronograma político: Piero Cipollone, outro membro do Conselho, anunciou que o BCE mira um acordo político sobre o digital euro até início de 2026, com lançamento previsto dois a três anos após a aprovação da legislação necessária.
Reações e Perspectivas
- Comissão Europeia: Ursula von der Leyen mantém o compromisso de fechar o acordo tarifário antes do prazo de 90 dias, ressaltando que a diferença média de alíquotas é pequena e facilmente ajustável.
- Mercados emergentes: A Rússia estimula parcerias com Brasil e Índia para suprir lacunas deixadas por empresas ocidentais, potencializando um bloco alternativo liderado por Moscou e Pequim.
- Defesa de soberania: Bruxelas intensifica debates sobre soberania tecnológica e financeira, com programas como o Digital Europe, que destina €1,3 bilhão a tecnologias críticas (IA generativa, blockchain, HPC) até 2027, reforçando a resiliência da UE.
Conclusão
A leitura de Panetta expõe como as rivalidades globais transbordam para o comércio e pressionam a UE. Enquanto Washington busca recalibrar alianças para conter o eixo Rússia–China, a Europa precisa fortalecer sua autonomia estratégica — digital, financeira e industrial — para não se tornar mera peça de um jogo geoeconômico decidido além de suas fronteiras.
Faça um comentário