
A União Europeia (UE) reafirmou seu compromisso com a estabilidade institucional da Líbia em um momento crítico para o futuro político do país norte-africano. Em 2 de agosto de 2025, o embaixador da UE em Trípoli, Nicola Orlando, reuniu-se com Khaled Al-Mishri, ex-presidente do Conselho Supremo de Estado líbio, em encontro realizado na capital, onde ambos destacaram a importância de uma “conversa franca” sobre os desafios institucionais atuais.
Líbia: encruzilhada estratégica e volátil
Desde a queda de Muammar Kadafi em 2011, a Líbia vive um ciclo de conflitos entre administrações rivais — o Governo de Unidade Nacional em Trípoli, reconhecido pela ONU, e o parlamento sediado em Tobruk, no leste. A instabilidade afeta diretamente fluxos migratórios no Mediterrâneo e o mercado global de energia, já que o país detém reservas significativas de petróleo. A presença de milícias e a influência de atores externos (Turquia, Rússia, Emirados Árabes e Egito) agravam o quadro de fragilidade institucional.
A ONU, por meio da Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL), permanece como ator-chave na mediação entre os polos rivais, promovendo o diálogo político e incentivando reformas institucionais inclusivas.
Contexto da reunião
Segundo o Libya Observer, Orlando enfatizou que preservar a unidade e o funcionamento dos órgãos estatais líbios é essencial para uma transição pacífica e sustentável, evitando o risco de um novo “Estado falido”.
Diplomacia e ação prática
A estratégia da UE na Líbia articula três pilares:
- Apoio institucional: financiamento, capacitação técnica e suporte ao funcionamento de órgãos estatais.
- Mediação política: incentivo ao diálogo entre facções líbias e apoio às negociações mediadas pela ONU.
- Gestão de fronteiras: parcerias com autoridades locais para conter migrações irregulares e combater crimes transfronteiriços.
Em 26 de junho de 2025, o Conselho da UE renovou o mandato da Missão de Assistência à Gestão de Fronteiras Integradas (EUBAM Libya) por mais dois anos, até 30 de junho de 2027, com orçamento de €52 milhões, reforçando o suporte técnico e operacional às autoridades líbias na gestão fronteiriça e combate ao tráfico humano e terrorismo.
Paralelamente, a Operação EUNAVFOR MED IRINI, missão naval da UE para fazer cumprir o embargo de armas a grupos armados na Líbia, teve seu mandato estendido até 31 de março de 2027, ampliando a vigilância marítima, monitoramento de infraestruturas críticas e apoio à guarda costeira líbia.
Análise crítica
Embora o discurso europeu ressalte valores democráticos, a ação na Líbia traduz interesses pragmáticos: prevenção de novas ondas migratórias, segurança energética e contenção de influências de potências rivais. Esse equilíbrio entre realpolitik e promoção de princípios democráticos é alvo de críticas por parte de organizações de direitos humanos que demandam maior ênfase em boas práticas de governança.
Especialistas apontam que o envolvimento contínuo da UE é vital para evitar o colapso das instituições líbias. A combinação de diplomacia de alto nível, missões civis e militares e suporte técnico gradual pode pavimentar o caminho para uma estabilização duradoura.
Conclusão
O encontro entre Nicola Orlando e Khaled Al-Mishri, em conjunto com a extensão das missões EUBAM e EUNAVFOR MED IRINI, sinaliza uma resposta europeia multifacetada para a crise líbia. Em um ambiente geopolítico fragmentado, a UE busca consolidar sua influência como ator de mediação, apostando na estabilidade institucional como alicerce para reconstrução nacional. Sem esse suporte, a Líbia corre o risco de prolongar indefinidamente sua crise, com repercussões significativas para a segurança regional e global.
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