
A União Europeia (UE) decidiu adotar uma postura de cautela frente à recente imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, liderados pelo presidente Donald Trump. Em uma reunião extraordinária da Comissão Europeia, realizada neste fim de semana, os 27 Estados-membros acordaram suspender temporariamente a aplicação de contramedidas até o início de agosto, prazo límite para negociações diplomáticas com Washington.
A origem da crise
No sábado (12), Trump surpreendeu a comunidade internacional ao anunciar tarifas de 30% sobre uma ampla gama de produtos europeus, incluindo bens industriais, alimentos processados e automóveis. A justificativa da Casa Branca é combater o que considera “práticas desleais” e “subsídios encobertos” por parte da UE. A decisão provocou queda nas bolsas europeias e reveses imediatos para setores exportadores. [Leia mais em: Trump anuncia tarifas de 30% contra União Europeia e México: impacto global e reações internacionais]
A resposta da UE
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou em pronunciamento oficial que a UE está “profundamente desapontada” com a medida unilateral dos EUA, mas ressaltou que “a Europa não cairá em provocações e continuará a buscar soluções através do diálogo”. Ainda assim, a UE não está de mãos vazias: já foram elaborados pacotes de retaliação comercial estimados em €93 bilhões, que poderão ser ativados caso não haja avanços nas conversas até o final do mês.
Segundo fontes diplomáticas, esses pacotes incluem sobretaxas sobre produtos emblemáticos dos EUA, como tecnologia, aeronaves, carne bovina, milho, bourbon e bens de luxo. Há também previsão de medidas regulatórias no âmbito digital, como restrições a serviços de big techs norte-americanas que operam no mercado europeu.
Unidade e divergências internas
Apesar do consenso em torno da suspensão temporária das contramedidas, há divergências dentro do bloco. Enquanto França e Espanha pressionam por uma resposta imediata e firme, outros como Alemanha, Holanda e Itália defendem uma abordagem mais pragmática, temendo impactos negativos sobre suas economias altamente integradas ao mercado americano.
O presidente francês Emmanuel Macron afirmou que “a Europa não pode recuar diante de ameaças” e que é hora de “defender com resolução os interesses europeus”. Já o chanceler alemão, Friedrich Merz, destacou a necessidade de “preservar as cadeias globais de valor” e evitar uma escalada comercial que, segundo ele, “prejudicaria todas as partes”.
Impactos econômicos e geopolíticos
A decisão dos EUA ocorre em um momento de fragilidade da economia global, ainda em recuperação após a crise energética de 2024. As tarifas americanas afetam diretamente setores industriais estratégicos para a Europa, especialmente o automotivo, que representa cerca de 7% do PIB da zona do euro. A Alemanha, maior exportadora de veículos para os EUA, é a mais exposta a perdas.
Estudos recentes da OCDE e do FMI indicam que, se mantidas, as tarifas poderão reduzir o crescimento do PIB europeu em até 0,6 ponto percentual nos próximos 12 meses. Segundo o Economic Outlook publicado pela OCDE em junho de 2025, o impacto será particularmente agudo nos países com maior dependência das exportações industriais. O World Economic Monitor do FMI também alerta para possíveis efeitos colaterais sobre o emprego e os investimentos estrangeiros na região.
O setor agroalimentar também sofrerá impactos, com risco de perda de mercados para vinhos, queijos e azeites europeus.
No plano geopolítico, a ação de Trump sinaliza um afastamento ainda maior entre os EUA e seus aliados tradicionais, realinhando o tabuleiro global. A UE tem buscado aprofundar laços comerciais com regiões como a Ásia-Pacífico, América Latina, África e Ásia Central, numa tentativa de reduzir sua dependência das relações transatlânticas. Recentemente, a União Europeia e a Ásia Central selaram uma parceria estratégica histórica em Samarkand, reforçando essa estratégia de diversificação. A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, afirmou que “diversificar parceiros comerciais é essencial para a resiliência do bloco”.
[Leia também: União Europeia e Ásia Central Selam Parceria Estratégica Histórica em Samarkand]
E agora?
A próxima rodada de negociações entre a UE e os EUA está marcada para 25 de julho, em Bruxelas. Fontes da Comissão indicam que, caso não haja um recuo ou flexibilização por parte dos EUA, as contramedidas serão implementadas no dia 2 de agosto.
Analistas avaliam que a postura da UE busca preservar a estabilidade econômica e institucional do bloco, ao mesmo tempo em que demonstra que está preparada para agir com vigor. “A suspensão temporária é uma manobra diplomática inteligente, mas o tempo está contra a Europa”, disse Ingrid Müller, analista-chefe do Instituto Europeu de Políticas Internacionais.
O desfecho desta disputa tarifária poderá redefinir não apenas o relacionamento comercial entre as duas maiores economias ocidentais, mas também o papel da UE em um mundo cada vez mais multipolar. [Leia também: Europa em Alerta: Jamie Dimon Adverte Sobre o Declínio Econômico da UE Frente aos EUA]
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