Reino Unido e Ucrânia Inauguram Primeira Iniciativa de Coprodução Militar para Fortalecer a Defesa

Keir Starmer aperta a mão de Volodymyr Zelensky em Downing Street, Londres, 23 de junho de 2025.
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer cumprimenta o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Downing Street, Londres, em 23 de junho de 2025. Foto: REUTERS/Jaimi Joy

Na tarde de 23 de junho de 2025, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fez uma visita relâmpida a Londres, onde se encontrou com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer no jardim da residência oficial em Downing Street. Em um gesto sem precedentes, ambos anunciaram o primeiro acordo de coprodução industrial-militar entre os dois países, projetado para acelerar a fabricação conjunta de equipamentos de defesa e reduzir a dependência de fornecimentos externos. A visita ocorreu em meio a uma nova onda de ataques russos, que nas últimas 24 horas lançaram 352 drones e 16 mísseis contra alvos ucranianos, causando ao menos dez mortes de civis, sete delas na capital, Kiev.

Contexto geopolítico e urgência da iniciativa

Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, o Reino Unido tornou-se um dos principais pilares de apoio a Kiev, fornecendo mais de £12,8 bilhões em ajuda financeira e militar até dezembro de 2024. Apenas nesta semana, ataques aéreos levaram sirenes a tocar em Kiev enquanto sistemas antiaéreos tentavam interceptar drones hostis — um lembrete sombrio da urgência em reforçar as defesas ucranianas.

A cooperação britânica abrange desde o envio de sistemas móveis de defesa aérea — desenvolvidos pelo Reino Unido e financiados pela Dinamarca — até a formação de mais de 50 000 soldados no solo britânico, por meio da missão Interflex, coordenada também com Finlândia e Romênia.

Detalhes do acordo de coprodução

Keir Starmer descreveu o pacto como “um enorme passo adiante na contribuição conjunta para nossa segurança mútua”. Embora detalhes minuciosos ainda não tenham sido tornados públicos, fontes governamentais indicam que os projetos abrangerão:

  • Drones de ataque e reconhecimento, com transferência de tecnologia e montagem local na Ucrânia;
  • Sistemas de lançamento múltiplo de foguetes (MLRS), adaptados às necessidades táticas do exército ucraniano;
  • Componentes para veículos blindados e munições de 155 mm;
  • Centros de manutenção e reparo para garantir autonomia logística no front.

A iniciativa será financiada em parte por um empréstimo de £2,26 bilhões do governo britânico, a ser pago com receitas geradas por ativos russos congelados — uma medida que reforça o compromisso de estabelecer capacidades industriais duradouras em território ucraniano.

Impactos econômicos e industriais para o Reino Unido

Para o Reino Unido, o acordo representa uma oportunidade de revitalizar sua base industrial de defesa, historicamente afetada por cortes orçamentários. Estima-se que a coprodução crie milhares de empregos diretos e indiretos em polos como o Nordeste da Inglaterra e o País de Gales, além de fortalecer cadeias de suprimentos locais no contexto pós-Brexit.

A estratégia de defesa de Starmer prevê elevar os gastos militares para 2,5% do PIB até 2027 e para 3% no próximo Parlamento, sinalizando uma nova era de investimentos que beneficiará tanto o mercado interno britânico quanto a capacidade de resposta da Ucrânia.

Repercussões na OTAN e diplomacia

A visita de Zelensky precede a cúpula da OTAN em Haia, nos dias 25 e 26 de junho, onde os aliados discutirão o incremento dos orçamentos de defesa e a refrigeração das sanções econômicas a Moscou. Embora Zelensky não participe oficialmente do encontro, seu diálogo com Starmer envia um claro recado: a continuidade e ampliação do suporte ocidental são cruciais para conter novas ofensivas russas no leste e no sul da Ucrânia.

Nos corredores do Parlamento britânico, o encontro também teve caráter simbólico: Zelensky foi recebido em Windsor Castle pelo rei Charles III — seu terceiro encontro com o monarca em 2025 — e reuniu-se com os presidentes das duas casas legislativas, demonstrando unidade nacional em torno da causa ucraniana.

Perspectivas e desafios

Apesar do entusiasmo, a implementação plena da coprodução enfrentará desafios como:

  1. Harmonização de padrões de qualidade entre fábricas britânicas e ucranianas;
  2. Transferência segura de tecnologia sensível, respeitando acordos de segurança;
  3. Gestão transparente dos fundos originados de ativos russos congelados;
  4. Manutenção da estabilidade econômica da Ucrânia, vital para o fluxo de investimentos.

Se bem-sucedida, a iniciativa poderá servir de modelo para outras parcerias de defesa, criando uma “coluna vertebral” europeia de produção de armamentos e elevando a resiliência coletiva da OTAN frente às ameaças contemporâneas.

Com esse acordo pioneiro, Reino Unido e Ucrânia avançam para uma cooperação estratégica de longo prazo, unindo expertise industrial e necessidade operacional para reforçar a defesa europeia e proporcionar à Ucrânia maior autonomia na sua luta pela soberania.

Conclusão

O anúncio da coprodução militar entre Reino Unido e Ucrânia marca uma mudança significativa na abordagem ocidental frente à guerra: deixa-se de lado a simples doação de equipamentos e passa-se à construção de autonomia estratégica, industrial e tecnológica. Ao mesmo tempo em que reforça as defesas imediatas da Ucrânia, o acordo pavimenta o caminho para uma reconstrução militar sólida no pós-guerra. Para o Reino Unido, representa uma aposta no fortalecimento de sua base industrial e em sua relevância geopolítica. A parceria, ainda em seus primeiros passos, poderá tornar-se um marco para futuras colaborações dentro da OTAN e redefinir os parâmetros da cooperação em tempos de conflito prolongado.

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