
No dia 21 de junho de 2025, o Presidente turco Recep Tayyip Erdoğan anunciou, durante a reunião extraordinária do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC) em Istambul, que a Agência das Nações Unidas de Socorro e Obras para Refugiados da Palestina (UNRWA) abrirá um escritório em Ancara. Erdoğan afirmou que a iniciativa reforça o apoio turco à agência, considerada insubstituível no cuidado aos refugiados palestinos, e enviou um apelo aos países muçulmanos para ampliarem seu suporte financeiro e moral à UNRWA, após o veto imposto por Israel às suas operações na Faixa de Gaza.
Contexto: o veto de Israel à UNRWA
Em dezembro de 2024, Israel proibiu a atuação da UNRWA em Gaza, acusando a agência de empregar membros do Hamas envolvidos nos ataques de 7 de outubro de 2023, que deram início à guerra atual no enclave. A medida foi criticada por organismos internacionais, que alertaram para o risco de paralisação de serviços essenciais a 2,3 milhões de palestinos, muitos dos quais vivem em situação de deslocamento interno e enfrentam colapso de infraestrutura humanitária.
Posição da Turquia: legalidade e solidariedade
A Turquia denunciou o veto israelense como violação do direito internacional e qualificou a campanha militar em Gaza como genocídio, diante do elevado número de vítimas civis e da destruição extensa. Erdoğan enfatizou que não se pode permitir que a UNRWA seja “paralisada pelos jogos políticos de Israel” e conclamou os membros da OIC a prestarem “apoio financeiro e moral” para garantir a continuidade dos programas de alimentação, saúde e educação.
Compromisso financeiro de Ancara
Desde 2023, a Turquia destina à UNRWA US$ 10 milhões anuais, compromisso válido até 2025. Em 2024, Ancara somou mais US$ 5 milhões em aportes emergenciais: US$ 2 milhões diretamente e US$ 3 milhões via AFAD, a autoridade nacional de gestão de desastres. Esses recursos visam mitigar o déficit de fundos causado pelo congelamento de doações de alguns países ocidentais após as controvérsias sobre a agência.
Acordo em Istambul: assinatura do memorando
Fontes diplomáticas turcas indicam que, ainda em 21 de junho, o Ministro das Relações Exteriores Hakan Fidan e o Comissário-Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, assinarão um memorando de entendimento para oficializar a criação do escritório em Ancara. O centro funcionará como hub de captação de doações, planejamento logístico e articulação com demais Estados-membros da OIC.
A alternativa israelense: Gaza Humanitarian Foundation
Israel transferiu a maior parte da distribuição de ajuda em Gaza para a Gaza Humanitarian Foundation (GHF), grupo apoiado pelos EUA que opera em três pontos sob guarda militar israelense. A ONU criticou a iniciativa, apontando falta de imparcialidade, riscos à segurança dos trabalhadores humanitários e incapacidade de substituir a rede de distribuição estabelecida pela UNRWA.
Implicações geopolíticas
- Fortalecimento da liderança turca: a abertura do escritório destaca Ancara como protagonista na defesa da causa palestina e fortalece seu papel diplomático no mundo muçulmano.
- Isolamento de Israel em fóruns humanitários: a mobilização da OIC coloca pressão sobre Jerusalém, evidenciando divergências em relação à condução da ajuda em Gaza.
- Reequilíbrio de doações: a dependência de donativos ocidentais cede espaço para nações muçulmanas, como Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, que poderão aumentar seu protagonismo financeiro.
Desafios e recomendações
A UNRWA continua vulnerável a crises políticas que afetam seu orçamento e credibilidade. Recomenda-se:
- Diversificação de fontes: buscar novos aportes de governos, setor privado e doadores individuais para reduzir dependência de grandes contribuintes.
- Transparência: aprimorar mecanismos de prestação de contas e auditoria para recuperar a confiança internacional.
- Coordenação multilateral: fortalecer parcerias com outras agências da ONU e ONG’s para ampliar cobertura e eficiência das operações.
Perspectivas futuras
Caso o escritório em Ancara funcione como previsto, poderá melhorar a coordenação global de ajuda, oferecendo respostas mais rápidas a emergências e reforçando programas duradouros de educação e saúde. Além disso, o movimento pode incentivar negociações políticas sobre a reabilitação plena da UNRWA em Gaza, caso Israel venha a rever seu veto sob pressão internacional.
Conclusão
A abertura de um escritório da UNRWA em Ancara representa um marco significativo na mobilização de apoio financeiro e político à agência em face do veto israelense. A iniciativa turca fortalece Ancara como líder diplomático na causa palestina e oferece um novo canal de coordenação para doações e logística humanitária. Contudo, a UNRWA ainda enfrenta riscos decorrentes de instabilidades políticas e da dependência de poucos grandes doadores. Para garantir sua sustentabilidade, serão essenciais a diversificação de recursos, o fortalecimento da transparência e a cooperação multilateral.
Se o escritório em Ancara cumprir plenamente suas funções, poderá acelerar a entrega de ajuda a milhões de refugiados, mantê-los amparados em áreas críticas como saúde, educação e alimentação, e pressionar por uma revisão do veto israelense por meio de engajamento internacional ampliado.
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