Turquia anuncia abertura de escritório da UNRWA em Ancara e convoca apoio internacional

Presidente turco Recep Tayyip Erdoğan fala na 51ª Sessão do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da OIC em Istambul, junho de 2025.
Presidente Recep Tayyip Erdoğan durante discurso na 51ª Sessão do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC), Istambul, 21 de junho de 2025. Foto: REUTERS/Umit Bektas.

No dia 21 de junho de 2025, o Presidente turco Recep Tayyip Erdoğan anunciou, durante a reunião extraordinária do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC) em Istambul, que a Agência das Nações Unidas de Socorro e Obras para Refugiados da Palestina (UNRWA) abrirá um escritório em Ancara. Erdoğan afirmou que a iniciativa reforça o apoio turco à agência, considerada insubstituível no cuidado aos refugiados palestinos, e enviou um apelo aos países muçulmanos para ampliarem seu suporte financeiro e moral à UNRWA, após o veto imposto por Israel às suas operações na Faixa de Gaza.

Contexto: o veto de Israel à UNRWA

Em dezembro de 2024, Israel proibiu a atuação da UNRWA em Gaza, acusando a agência de empregar membros do Hamas envolvidos nos ataques de 7 de outubro de 2023, que deram início à guerra atual no enclave. A medida foi criticada por organismos internacionais, que alertaram para o risco de paralisação de serviços essenciais a 2,3 milhões de palestinos, muitos dos quais vivem em situação de deslocamento interno e enfrentam colapso de infraestrutura humanitária.

Posição da Turquia: legalidade e solidariedade

A Turquia denunciou o veto israelense como violação do direito internacional e qualificou a campanha militar em Gaza como genocídio, diante do elevado número de vítimas civis e da destruição extensa. Erdoğan enfatizou que não se pode permitir que a UNRWA seja “paralisada pelos jogos políticos de Israel” e conclamou os membros da OIC a prestarem “apoio financeiro e moral” para garantir a continuidade dos programas de alimentação, saúde e educação.

Compromisso financeiro de Ancara

Desde 2023, a Turquia destina à UNRWA US$ 10 milhões anuais, compromisso válido até 2025. Em 2024, Ancara somou mais US$ 5 milhões em aportes emergenciais: US$ 2 milhões diretamente e US$ 3 milhões via AFAD, a autoridade nacional de gestão de desastres. Esses recursos visam mitigar o déficit de fundos causado pelo congelamento de doações de alguns países ocidentais após as controvérsias sobre a agência.

Acordo em Istambul: assinatura do memorando

Fontes diplomáticas turcas indicam que, ainda em 21 de junho, o Ministro das Relações Exteriores Hakan Fidan e o Comissário-Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, assinarão um memorando de entendimento para oficializar a criação do escritório em Ancara. O centro funcionará como hub de captação de doações, planejamento logístico e articulação com demais Estados-membros da OIC.

A alternativa israelense: Gaza Humanitarian Foundation

Israel transferiu a maior parte da distribuição de ajuda em Gaza para a Gaza Humanitarian Foundation (GHF), grupo apoiado pelos EUA que opera em três pontos sob guarda militar israelense. A ONU criticou a iniciativa, apontando falta de imparcialidade, riscos à segurança dos trabalhadores humanitários e incapacidade de substituir a rede de distribuição estabelecida pela UNRWA.

Implicações geopolíticas

  • Fortalecimento da liderança turca: a abertura do escritório destaca Ancara como protagonista na defesa da causa palestina e fortalece seu papel diplomático no mundo muçulmano.
  • Isolamento de Israel em fóruns humanitários: a mobilização da OIC coloca pressão sobre Jerusalém, evidenciando divergências em relação à condução da ajuda em Gaza.
  • Reequilíbrio de doações: a dependência de donativos ocidentais cede espaço para nações muçulmanas, como Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, que poderão aumentar seu protagonismo financeiro.

Desafios e recomendações

A UNRWA continua vulnerável a crises políticas que afetam seu orçamento e credibilidade. Recomenda-se:

  1. Diversificação de fontes: buscar novos aportes de governos, setor privado e doadores individuais para reduzir dependência de grandes contribuintes.
  2. Transparência: aprimorar mecanismos de prestação de contas e auditoria para recuperar a confiança internacional.
  3. Coordenação multilateral: fortalecer parcerias com outras agências da ONU e ONG’s para ampliar cobertura e eficiência das operações.

Perspectivas futuras

Caso o escritório em Ancara funcione como previsto, poderá melhorar a coordenação global de ajuda, oferecendo respostas mais rápidas a emergências e reforçando programas duradouros de educação e saúde. Além disso, o movimento pode incentivar negociações políticas sobre a reabilitação plena da UNRWA em Gaza, caso Israel venha a rever seu veto sob pressão internacional.

Conclusão

A abertura de um escritório da UNRWA em Ancara representa um marco significativo na mobilização de apoio financeiro e político à agência em face do veto israelense. A iniciativa turca fortalece Ancara como líder diplomático na causa palestina e oferece um novo canal de coordenação para doações e logística humanitária. Contudo, a UNRWA ainda enfrenta riscos decorrentes de instabilidades políticas e da dependência de poucos grandes doadores. Para garantir sua sustentabilidade, serão essenciais a diversificação de recursos, o fortalecimento da transparência e a cooperação multilateral.

Se o escritório em Ancara cumprir plenamente suas funções, poderá acelerar a entrega de ajuda a milhões de refugiados, mantê-los amparados em áreas críticas como saúde, educação e alimentação, e pressionar por uma revisão do veto israelense por meio de engajamento internacional ampliado.

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