Divisões Crescentes: EUA se Alinham à Rússia em Votações da ONU sobre a Ucrânia

Vice-Ministra das Relações Exteriores da Ucrânia, Mariana Betsa, durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU no terceiro aniversário da invasão russa da Ucrânia [Arquivo: Charly Triballeau/AFP]Fonte: Al Jazeera
A Vice-Ministra das Relações Exteriores da Ucrânia, Mariana Betsa, participa da reunião do Conselho de Segurança da ONU, que marca o terceiro aniversário da invasão russa da Ucrânia.[Arquivo: Charly Triballeau/AFP]Fonte: Al Jazeera

Em um movimento surpreendente que evidencia uma mudança significativa na política externa americana, os Estados Unidos se alinharam com a Rússia em duas votações recentes na ONU relacionadas ao conflito na Ucrânia. Essa decisão marca uma ruptura com posturas anteriores e ressalta a crescente divisão entre Washington e seus tradicionais aliados europeus.

Duas Votações, Duas Perspectivas

Na Assembleia Geral da ONU, uma resolução liderada pela Europa que condenava a invasão russa na Ucrânia foi aprovada com 93 votos favoráveis. O texto, que expressava preocupação com os efeitos devastadores do conflito para a estabilidade regional e global, exigia uma desescalada, um cessar-fogo imediato e a retirada completa e incondicional das tropas russas do território ucraniano. Em uma reviravolta inesperada, os Estados Unidos votaram contra essa resolução, posicionando-se ao lado de países como Rússia, Israel, Coreia do Norte, Sudão, Belarus e Hungria.

No mesmo dia, no Conselho de Segurança da ONU, os EUA apoiaram uma resolução patrocinada pelos próprios americanos que pedia um fim rápido ao conflito, mas de forma mais neutra – omitindo referências explícitas à agressão russa e à integridade territorial da Ucrânia. Nesta votação, enquanto os EUA e a Rússia apoiaram a proposta, Reino Unido, França, Rússia, China, além de membros não permanentes como Dinamarca, Grécia e Eslovênia, optaram por se abster.

Uma Nova Direção na Política Externa

Essa mudança ocorre no terceiro aniversário da invasão russa da Ucrânia e reflete o afastamento dos EUA de suas posições anteriores de apoio inabalável a Kiev e à Europa. A administração Trump, que tem priorizado negociações diretas com Moscou e criticado abertamente o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, sinaliza uma transformação de longa data na política externa americana.

Representantes da Rússia, como o Embaixador da ONU Vasily Nebenzya, aplaudiram a resolução americana, chamando-a de “passo construtivo” e “futuro-orientado”, enfatizando a importância do diálogo em vez da escalada. Do lado americano, a encarregada de negócios, Dorothy Shea, afirmou que a aprovação da medida representa um “primeiro passo crucial” para pôr fim ao conflito.

Reações e Implicações

A decisão de alinhar-se com a Rússia em certos fóruns internacionais não passou despercebida. O vice-ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Mariana Betsa, advertiu: “Precisamos reconfirmar que a agressão deve ser condenada e desacreditada, não recompensada.” Essa divergência de opiniões ressalta o profundo cisma que se instala entre os aliados ocidentais, cujas estratégias e prioridades na abordagem do conflito na Ucrânia parecem cada vez mais distantes.

Enquanto a resolução da Assembleia Geral da ONU buscava reforçar a condenação internacional contra a invasão russa, a resolução do Conselho de Segurança, ao adotar uma linguagem mais neutra, evidencia o novo realismo que norteia as recentes decisões americanas. Esse alinhamento com Moscou em certos aspectos pode ter implicações duradouras, não apenas para a resolução do conflito, mas também para o equilíbrio geopolítico global.

Conclusão

A postura adotada pelos Estados Unidos ao se alinhar com a Rússia nas votações da ONU ilustra uma transformação marcante na política externa americana. Em meio a uma crescente divisão entre Washington e seus aliados europeus, esse novo posicionamento levanta questionamentos sobre o futuro das negociações de paz na Ucrânia e o impacto dessas decisões na ordem internacional. Com as relações ocidentais se reconfigurando, o cenário global se torna cada vez mais complexo, exigindo uma abordagem cuidadosa e estratégica para enfrentar os desafios vindouros.



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