Vietnã intensifica construção de ilhas no Mar do Sul da China e aumenta rivalidade com Pequim

Vista panorâmica do Mar do Sul da China fotografada da Ponte Penghu
Vista do Mar do Sul da China a partir da Ponte Penghu, em Taiwan

O Vietnã está avançando de forma significativa em suas atividades de expansão no Mar do Sul da China, uma das rotas marítimas mais estratégicas do mundo. Relatórios recentes indicam que o país tem acelerado a criação de ilhas artificiais e a construção de instalações militares, incluindo depósitos de munição e infraestrutura de defesa. Esse movimento representa uma resposta direta à crescente pressão chinesa na região e aumenta o risco de novas tensões geopolíticas no Sudeste Asiático.

Contexto estratégico do Mar do Sul da China

O Mar do Sul da China é uma área de cerca de 3,5 milhões de km², rica em recursos energéticos, como petróleo e gás natural, além de pesqueiros abundantes. Estima-se que um terço do comércio marítimo global passe por essas águas, tornando-o vital para a economia mundial.

A região é disputada por vários países — China, Vietnã, Filipinas, Malásia, Brunei e Taiwan — mas é Pequim quem reivindica a maior parte do território, baseando-se na chamada “linha de nove traços”, uma demarcação contestada por cortes internacionais.

O papel do Vietnã na disputa

O Vietnã é um dos países que mais desafia a presença chinesa. Com um histórico de rivalidade que remonta a séculos, Hanói vê a expansão chinesa como uma ameaça direta à sua soberania marítima e à sua segurança nacional.

Nos últimos anos, o país investiu em infraestrutura civil e militar em ilhas e recifes que controla nos arquipélagos Spratly e Paracel, áreas particularmente estratégicas para o controle da região.

Dados recentes apontam que o Vietnã já realizou recuperação de mais de 170 hectares de terra marítima para ampliar ilhas artificiais. Além disso, especialistas estimam que ao menos 10 estruturas novas foram erguidas em recifes nos últimos cinco anos, reforçando sua presença física.

As obras incluem:

  • Aumento da dragagem e recuperação de terras para criar novas ilhas.
  • Construção de pistas de pouso e portos militares.
  • Armazenamento de munições e reforço de defesas aéreas e navais.
  • Ampliação da presença de guardas costeiros e patrulhas militares.

O governo vietnamita também alega que a expansão visa proteger comunidades de pescadores locais, frequentemente alvo de perseguições e confrontos com embarcações chinesas. Segundo Hanói, essas medidas não são apenas militares, mas também uma defesa dos meios de subsistência de milhares de cidadãos que dependem da pesca.

Reação da China

Pequim considera as atividades vietnamitas ilegais e contrárias à sua soberania. A China, que já construiu bases militares de grande porte em ilhas artificiais, como nas Spratly e Paracel, interpreta os movimentos do Vietnã como uma tentativa de internacionalizar o conflito e fortalecer alianças com os Estados Unidos e parceiros regionais.

Nos últimos meses, navios chineses foram vistos intensificando patrulhas e manobras de intimidação contra embarcações vietnamitas, aumentando o risco de confrontos diretos no mar.

O envolvimento dos EUA e da comunidade internacional

Os Estados Unidos desempenham papel central no equilíbrio da região. Washington apoia a liberdade de navegação no Mar do Sul da China e critica abertamente a expansão militar chinesa. O Vietnã, embora não seja aliado formal dos EUA, tem estreitado laços estratégicos, recebendo apoio militar e diplomático para conter Pequim.

Além disso, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) busca uma posição comum sobre o tema, mas enfrenta divisões internas, já que alguns membros têm fortes relações econômicas com a China.

Impactos regionais e globais

A intensificação das obras vietnamitas pode gerar diferentes consequências:

  1. Aumento das tensões militares – A corrida por infraestrutura bélica no mar amplia as chances de incidentes entre navios e aeronaves de ambos os países.
  2. Pressão diplomática – A disputa força países vizinhos a se posicionarem, fragilizando a coesão da ASEAN.
  3. Risco ao comércio global – Conflitos na região poderiam afetar cadeias de suprimentos internacionais, especialmente em energia e tecnologia.
  4. Corrida armamentista – A militarização impulsiona gastos militares não apenas de China e Vietnã, mas também de outros países costeiros.

Conclusão

A intensificação da construção de ilhas artificiais pelo Vietnã no Mar do Sul da China é mais do que uma disputa territorial: trata-se de um jogo de poder geopolítico com impactos que ultrapassam a Ásia. Enquanto Hanói busca defender sua soberania, garantir os direitos de seus pescadores locais e equilibrar a influência chinesa, Pequim reage de forma assertiva para manter sua posição dominante.

Nesse cenário, a região caminha para se tornar um dos principais pontos de tensão global nos próximos anos, onde interesses locais, regionais e internacionais se entrelaçam em uma complexa rede de disputas estratégicas.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*