
Após 19 meses de regime militar e o recente pleito de 12 de abril de 2025, o Gabão vive um momento decisivo. Para entender as raízes desse processo e as controvérsias que marcaram a transição, confira antes nosso artigo Gabão: Uma Nova Era ou a Consolidação do Poder Militar? Uma Análise das Eleições Presidenciais Após 19 Meses de Regime Militar. A seguir, apresentamos uma análise complementar, focada na vitória de Brice Oligui Nguema e nas perspectivas imediatas para o país.
Em decisão unânime na sexta-feira(25), a Corte Constitucional de Gabão confirmou oficialmente que Brice Oligui Nguema venceu a eleição presidencial realizada em 12 de abril, obtendo 94,85% dos votos válidos (58.074 votos), segundo o acórdão divulgado pelo tribunal. A posse está marcada para 3 de maio, dando início a um mandato de sete anos numa nação rica em petróleo, porém em busca de diversificação econômica.
Contexto político e histórico
Em agosto de 2023, Nguema, então chefe das Forças de Defesa e Segurança, liderou um golpe de Estado que depôs o presidente Ali Bongo Ondimba, encerrando 56 anos de governo da família Bongo. O movimento foi justificado pelos militares como uma resposta à má gestão econômica e ao desgaste institucional do regime anterior. Desde então, Nguema atuou como chefe de uma junta de transição, prometendo restaurar a estabilidade e preparar o país para eleições livres e justas.
Resultados e reação dos concorrentes
Dos oito candidatos que concorreram, Nguema isolou-se como favorito único, recebendo apoio amplo das estruturas de poder estabelecidas durante o período de transição. Os sete adversários dividiram o restante de 5,15% dos votos, sem conseguir apresentar uma oposição consistente. Até o momento, nenhum candidato derrotado apresentou recursos efetivos contra a homologação dos resultados.
Principais compromissos de governo
- Agricultura sustentável
- Modernização das cadeias de produção
- Incentivos a pequenos produtores para reduzir dependência do petróleo
- Desenvolvimento industrial
- Atração de investimentos estrangeiros em manufatura
- Criação de zonas econômicas especiais
- Turismo e diversificação
- Promoção do ecoturismo na região de Loango e no Parque Nacional de Ivindo
- Infraestrutura aeroportuária e hoteleira
Essas medidas visam mitigar os efeitos da volatilidade dos preços do petróleo, que responde por mais de 80% das receitas de exportação do país.
Desafios e expectativas
- Legitimidade democrática:
A alta porcentagem obtida por um ex-chefe militar levanta questionamentos sobre pluralismo político e participação efetiva da oposição. - Economia pós-petróleo:
A transição para setores como agricultura e turismo depende de reformas estruturais e de capacitação da força de trabalho. - Direitos humanos e liberdades civis:
Organizações internacionais acompanham a composição do novo governo, cobrando garantias de liberdade de imprensa e direitos fundamentais.
Perspectivas regionais
A guinada política em Gabão repercute na Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC). Espera-se que Nguema busque:
- Reforço da integração regional por meio de projetos de infraestrutura transfronteiriça.
- Cooperação em segurança para combater crimes transnacionais, como tráfico de madeira e minerais.
Conclusão
A confirmação da vitória de Brice Oligui Nguema pela Corte Constitucional marca o fim formal da transição iniciada após o golpe de 2023. Com ampla margem de votos e posse agendada para 3 de maio, inicia-se agora o verdadeiro teste de suas promessas de diversificação econômica e fortalecimento institucional. O sucesso de seu governo dependerá da capacidade de conciliar estabilidade política, inclusão social e abertura democrática, elementos cruciais para o futuro de um Gabão que busca se reinventar além do petróleo.
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