Moscou mobiliza forças em manobras que ampliam tensões com a OTAN e a União Europeia
A Rússia deu início nesta semana ao Zapad 2025, o maior exercício militar realizado pelo país desde a invasão da Ucrânia em 2022. Moscou afirma que as manobras têm caráter “defensivo”, mas a escala, o momento e o cenário projetado despertam preocupação em todo o continente europeu.
Contexto histórico e padrão de intimidação
Os exercícios Zapad (que significa “Oeste” em russo) são realizados regularmente desde a Guerra Fria. Em edições anteriores, como em 2017 e 2021, o Ocidente já havia alertado que Moscou utilizava tais manobras não apenas para treinar suas tropas, mas também para intimidar países vizinhos e projetar força militar. Em 2021, por exemplo, a OTAN estimou a presença de mais de 200 mil soldados envolvidos.
Escala do Zapad 2025
Embora os números exatos não tenham sido divulgados pelo Kremlin, estimativas da OTAN sugerem que o Zapad 2025 mobiliza entre 120 mil e 150 mil soldados, além de milhares de veículos blindados, artilharia pesada, sistemas de defesa aérea e forças navais no Báltico. A inclusão de exercícios nucleares simulados também faz parte do programa, segundo fontes ocidentais.
A incursão dos drones e a reação polonesa
Dias antes do início dos exercícios, drones russos violaram o espaço aéreo da Polônia. O governo polonês tratou o episódio como um ato hostil. O tema já havia sido detalhado em nosso artigo “Polônia em Alerta Máximo Após Incursões de Drones Russos: O Risco Mais Alto de Conflito Desde a Segunda Guerra Mundial”, que mostra como Varsóvia vem reforçando suas defesas diante da crescente ameaça.
O primeiro-ministro Donald Tusk declarou:
“O incidente com os drones foi o mais próximo que chegamos de um conflito aberto desde a Segunda Guerra Mundial.”
O vice-ministro da Defesa, Cezary Tomczyk, foi ainda mais direto:
“Não há dúvida de engano – foi um ataque russo deliberado.”
Já o ministro das Relações Exteriores, Radosław Sikorski, descartou qualquer hipótese de erro de navegação:
“Os drones russos não se desviaram da rota, mas miraram deliberadamente na Polônia… estamos diante de mentiras e negações.”
Como resposta, Varsóvia fechou pontos de passagem fronteiriços, reforçou tropas na região leste e pediu solidariedade da OTAN.
Reações da Rússia e da OTAN
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que “os exercícios são parte do calendário regular de defesa russa” e que “qualquer interpretação como provocação é infundada”.
A OTAN, por sua vez, reforçou sua presença no flanco leste, especialmente nos Estados Bálticos, e declarou que acompanha os movimentos russos “com total vigilância”.
Opinião de especialistas
Analistas de defesa têm opiniões divergentes sobre o Zapad 2025. De acordo com o Chatham House, o presidente bielorrusso Aliaksandr Lukashenka tem minimizado os exercícios para mostrar que a Bielorrússia deseja aliviar as tensões com o Ocidente, refletindo um medo genuíno de escalada.
Por outro lado, especialistas do Center for Strategic and International Studies (CSIS) alertam que, embora o número de tropas envolvidas seja menor em comparação com exercícios anteriores, a natureza dos exercícios e a presença de forças russas na Bielorrússia indicam uma demonstração de força e uma ameaça potencial à segurança da região.
Repercussão internacional
A comunidade internacional reagiu com preocupação ao início dos exercícios. A Alemanha e a França expressaram solidariedade à Polônia e reforçaram seu compromisso com a segurança coletiva da OTAN. O Reino Unido anunciou o envio de aeronaves de combate para reforçar a defesa aérea da região.
Além disso, o Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de emergência para discutir a situação, com ênfase na necessidade de diálogo e redução das tensões.
Impactos estratégicos para a Europa
O Zapad 2025 expõe a delicada situação da segurança europeia. Enquanto Moscou busca demonstrar resiliência e capacidade de resposta frente ao Ocidente, a União Europeia e a OTAN se veem obrigadas a equilibrar dissuasão e prudência, evitando passos que possam levar a um confronto direto.
Para muitos analistas, as manobras não são apenas um treinamento militar, mas também um instrumento político. O recado é claro: a Rússia ainda é capaz de projetar poder, mesmo após anos de guerra na Ucrânia e sob sanções econômicas severas.
Linha do tempo resumida dos exercícios Zapad
- 2009: Primeira edição pós-Guerra Fria, realizada na Rússia e Bielorrússia.
- 2013: Exercícios ampliados, incluindo simulações de cenários de guerra em larga escala.
- 2017: Participação de cerca de 12.700 tropas, com preocupações da OTAN sobre a verdadeira escala das manobras.
- 2021: Exercícios com mais de 200 mil tropas, aumentando as tensões com o Ocidente.
- 2025: Zapad 2025, com estimativas de 120 mil a 150 mil soldados, incluindo simulações nucleares e incursões de drones russos na Polônia.
Conclusão
O Zapad 2025 representa um ponto crítico nas relações entre a Rússia, a Bielorrússia e o Ocidente. Embora Moscou afirme que os exercícios são defensivos, a escala, a localização e os incidentes recentes indicam uma estratégia mais agressiva. A resposta da OTAN e da União Europeia será crucial para determinar se a situação se estabiliza ou se evolui para um confronto mais amplo.
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