
Em pronunciamento televisionado na madrugada de 10 de maio, às 1h30 (horário de Moscou e de Kiev), o presidente russo Vladimir Putin propôs negociações diretas e “sem pré-condições” com Kiev, em busca de “encerrar rapidamente o conflito” que já se arrasta há mais de três anos.
Reação ucraniana: o cessar-fogo como condição
O presidente Volodymyr Zelensky saudou como “um sinal positivo” o fato de a Rússia admitir, ao menos em discurso, a possibilidade de diálogo. Mas deixou claro que qualquer conversa só terá início após Moscou confirmar um cessar-fogo total, duradouro e confiável, com vigência a partir de 12 de maio. Para o presidente ucraniano, “o primeiro passo genuíno para acabar com qualquer guerra é a cessação imediata das hostilidades”.
Contexto das propostas de trégua
Desde o início da invasão, em fevereiro de 2022, a Rússia já ofereceu diversas tréguas (Páscoa Ortodoxa, moratória sobre infraestruturas energéticas e uma trégua de 72 horas para o 80º aniversário da vitória soviética na Segunda Guerra), mas todas vieram acompanhadas de ataques mútuos durante o período acordado, sem que se chegasse a um cessar-fogo estável.
Em seu discurso, Putin ressaltou que “nossa proposta está sobre a mesa” e indicou Istambul, no dia 15 de maio, como possível palco para a negociação de novos acordos de trégua, que seriam o “primeiro passo rumo a uma paz sustentável”.
Pressão de Washington e Europa
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump saudou a proposta como “um potencial grande dia para Rússia e Ucrânia” e reafirmou seu apelo por um cessar-fogo de 30 dias antes mesmo de qualquer negociação aprofundada. Seu enviado, Keith Kellogg, também defendeu que “a ordem deve ser: primeiro a trégua incondicional, depois as discussões de paz”.
Ao mesmo tempo, líderes europeus em visita a Kiev apresentaram a Putin um ultimato para um cessar-fogo de 30 dias, sob o risco de novas sanções “massivas”. O presidente francês, Emmanuel Macron, qualificou a oferta russa como “um primeiro passo, mas insuficiente”, e reforçou que “não se negocia um cessar-fogo após as conversas sobre as causas do conflito”.
Divergências de fundo
Pré-condições russas
- Retomar o rascunho do acordo de paz de 2022, que previa a neutralidade permanente da Ucrânia em troca de garantias de segurança dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
- Reconhecimento do controle russo sobre partes do leste ucraniano.
Exigências ucranianas
- Retirada total das tropas russas de todos os territórios ocupados.
- Reparação pelos danos civis e infraestrutura destruída.
- Cronograma claro para reintegração das regiões tomadas.
Mediação turca
- O presidente Recep Tayyip Erdoğan declarou apoio pleno à proposta de Putin e ofereceu Istambul como sede das conversações.
O conflito no terreno
Paralelamente ao jogo diplomático, a guerra continua ativa. No mesmo dia do pronunciamento, a Rússia lançou um ataque com drones sobre a região de Kyiv, ferindo civis e danificando residências. No leste e no sul, as forças russas prosseguem avanços graduais, sob intensa artilharia.
Perspectivas e riscos
- Estratégia russa: usar as negociações para “salvar a face” sem fazer concessões reais, tentando dividir o bloco ocidental.
- Posição ucraniana: equilibrar a pressão por paz junto ao público com a necessidade de não sacrificar sua soberania e ganhos territoriais.
- Dinâmica transatlântica: a divergência entre as abordagens de Trump e do governo Biden pode gerar ruído político que Kiev precisa administrar cuidadosamente.
Conclusão
A proposta de negociações diretas de Putin abre uma janela diplomática que, se bem articulada, pode ampliar a chance de cessar-fogo. Mas a exigência ucraniana de garantias concretas de trégua antes de qualquer conversa evidencia a desconfiança acumulada após repetidas quebras de acordos anteriores. O encontro em Istambul, marcado para 15 de maio, promete ser um momento decisivo para o futuro do conflito e para a coesão do apoio ocidental à Ucrânia.
Atualização
Nas últimas horas, o Ministério da Defesa da Ucrânia confirmou ter detectado novo lote de armamentos enviados pelos EUA, incluindo sistemas antitanque avançados, reforçando a capacidade de resistência de suas tropas no leste do país — uma informação que pode influenciar o cálculo russo antes de selar qualquer trégua.
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