![AFP__20250302__36Z2469__v1__Preview__IranPoliticsEconomyParliament-1740914142 Ministro das Finanças do Irã, Abdolnaser Hemmati, faz um discurso no parlamento em 2 de março de 2025, durante o processo de impeachment contra ele [Atta Kenare/AFP]. Fonte: Al Jazeera](https://xn--hojenomundopoltico-uyb.com/wp-content/uploads/2025/03/AFP__20250302__36Z2469__v1__Preview__IranPoliticsEconomyParliament-1740914142-678x381.webp)
Nos últimos dias, o cenário político e econômico do Irã foi abalado pelo impeachment do ministro da Economia, Abdolnaser Hemmati. A decisão, tomada pelo parlamento com 182 votos contrários aos 273 parlamentares, reflete não apenas uma insatisfação com a condução dos assuntos econômicos, mas também a complexidade de um contexto marcado por crises estruturais, pressões internas e sanções internacionais.
Contexto Político e Econômico
Desde a retomada de um governo liderado pelo presidente Masoud Pezeshkian há apenas seis meses, o país vem enfrentando desafios econômicos severos. Durante esse período, o Irã viu sua moeda, o rial, desvalorizar drasticamente. Em 2015, o rial era negociado a cerca de 32 mil unidades por dólar. Contudo, com a nova gestão, a taxa disparou para 584 mil rials por dólar, chegando recentemente a 930 mil rials em transações nas casas de câmbio em Teerã. Essa escalada na depreciação tem provocado descontentamento generalizado entre a população, refletindo o aumento do custo de vida e uma inflação persistentemente alta.
Detalhes do Impeachment
Abdolnaser Hemmati, que já havia atuado como governador do banco central, assumiu o ministério da Economia em meio a uma situação delicada. Durante os cinco meses de sua gestão, o ministro destacou que, apesar de ter conseguido reduzir a inflação em 10%, a taxa ainda permanecia em torno de 35%. Em meio às investidas no processo de impeachment, Hemmati admitiu que os desafios econômicos eram intensos e que as medidas para conter a crise demandariam tempo e esforços conjuntos.
Durante a sessão de impeachment, o parlamento expressou seu descontentamento e, pela primeira vez, testemunhou uma ação dos parlamentares conservadores contra o governo centrista de Pezeshkian. Enquanto alguns deputados, como Mohammad Qasim Osmani, defenderam que a crise não podia ser atribuída a uma única pessoa – enfatizando o legado fiscal problemático da administração anterior – outros viram na destituição de Hemmati um passo necessário para reorientar as políticas econômicas.
Reações e Perspectivas do Governo
Mesmo diante da decisão parlamentar, o presidente Pezeshkian fez questão de defender Hemmati, afirmando que os desafios econômicos enfrentados pelo país vão além das ações de um único ministro. Em seu pronunciamento, o chefe de Estado afirmou:
“Estamos em uma guerra econômica em grande escala com o inimigo … precisamos adotar uma postura de combate.”
Essa declaração ressalta a visão do governo de que o Irã enfrenta pressões externas e internas que exigem respostas enérgicas e coordenadas, em vez de culpar individualmente os gestores.
O apoio a Hemmati, mesmo após a destituição, evidencia uma divisão crescente dentro dos círculos políticos iranianos. De um lado, os setores mais conservadores buscam assumir o controle para implementar mudanças imediatas, enquanto, do outro, há quem defenda que os problemas econômicos são sistêmicos e que a culpa não pode recair sobre um único indivíduo.
O Impacto da Desvalorização do Rial
A queda abrupta do rial tem sido um dos principais motores do descontentamento popular. A trajetória de desvalorização – de 32 mil rials por dólar em 2015 para níveis que ultrapassam os 930 mil atualmente – ilustra um cenário de instabilidade financeira. Esse contexto tem elevado os preços dos bens de consumo, pressionado o poder de compra dos iranianos e aumentado a inflação de forma contínua.
O efeito da desvalorização também é sentido na vida cotidiana, onde a dificuldade de adquirir produtos básicos e a incerteza quanto ao futuro econômico têm levado a uma insatisfação crescente entre a população.
Sanções e a Política de “Pressão Máxima”
Além dos desafios internos, o Irã sofre há anos com sanções impostas pelos Estados Unidos. Desde a retirada de Washington do acordo nuclear de 2015 em 2018, o país vem enfrentando medidas que dificultam o comércio e o acesso a recursos financeiros internacionais. O retorno da política de “Pressão Máxima”(já explicamos no outro artigo o que significa ‘Pressão Máxima’) pelo governo norte-americano intensificou essas restrições, agravando ainda mais a já precária situação econômica.
Essas sanções têm contribuído para a deterioração do cenário financeiro, impactando negativamente a confiança dos investidores e exacerbando a inflação, o que, por sua vez, alimenta a crise que culminou no impeachment de Hemmati.
Atualizações e Perspectivas Futuras
Até o presente momento, as informações confirmam que a destituição de Hemmati representa um movimento decisivo dentro do cenário político iraniano. Contudo, não há relatos de desdobramentos imediatos que indiquem uma mudança drástica na estratégia econômica do governo ou uma nova indicação para o cargo. Especialistas apontam que esse episódio pode marcar o início de uma reconfiguração no sistema político do Irã, com os conservadores tentando impor sua agenda e desafiar as políticas do governo centrista.
Analistas acompanham atentamente os próximos passos, tanto na forma de possíveis novas nomeações quanto na implementação de medidas econômicas que possam estabilizar a situação. O cenário, ainda que incerto, reflete as tensões profundas entre os diferentes grupos políticos e a dificuldade de enfrentar uma crise econômica que é fruto de fatores internos e externos.
Considerações Finais
O impeachment de Abdolnaser Hemmati é um marco significativo na trajetória do Irã em meio à crise econômica e à desvalorização do rial. Este episódio evidencia a complexidade dos desafios enfrentados pelo país, onde sanções internacionais, políticas internas divergentes e uma população cada vez mais afetada pelo aumento do custo de vida se entrelaçam em um cenário de instabilidade.
Enquanto o governo insiste que os problemas econômicos são de natureza sistêmica, a movimentação dos parlamentares conservadores sinaliza uma disputa interna pelo controle das políticas que poderão definir o futuro do país. As próximas semanas serão decisivas para verificar se as novas medidas adotadas conseguirão acalmar a situação ou se o Irã continuará a enfrentar um período prolongado de turbulência econômica.
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